Belo Horizonte, sexta-feira.
Carol: eu não sei mais o que fazer, essa semana foi um completo caos – começou dizendo na terapia – sabe quando nada parece dar certo? Tudo começou na sexta passada, o Bernardo passou o bastão oficialmente e depois eu ouvi um médico duvidando da minha capacidade, foi o suficiente para todas as minhas inseguranças virem à tona, fui pra casa e tomei dois clonazepam de uma vez, dormi por horas, quando acordei Rosamaria estava preocupada, começou a me questionar e aí de novo eu explodi, falei alto, mas contei o que tinha acontecido – andava pela sala – eu não sei porque falei daquela forma com ela, mas foi o jeito em que eu botei tudo pra fora, minhas inseguranças, o que eu tinha escutado, os meus medos, acho que a insistência dela em saber fez com que eu conseguisse falar, mesmo que da forma errada, sabe? – a psicóloga assentiu – eu fiquei me sentindo mal, depois conversamos e nos acertamos, mas eu sei que ela ficou chateada, só que aí eu aprontei mais uma, o Bruno apareceu no hospital segunda e eu surtei.
Psicóloga: Bruno é o ex da Rosamaria e filho do Bernardo, correto?
Carol: isso, ele foi lá e eu perdi a cabeça, discuti com ele, dei um soco e ameacei – dizia com arrependimento – não satisfeita, no dia seguinte eu coloquei meu namoro em risco, roubei a arma da Rosamaria.
Psicóloga: por que você roubou a arma?
Carol: eu sentia que era a única forma de proteger a Rosa – riu amargamente se sentando no sofá ali presente – na verdade, eu nem sei o que passou pela minha cabeça, hoje, analisando friamente, por mais que a minha família seja a minha prioridade, eu não sei se teria coragem de matar alguém a sangue frio.
Psicóloga: por que você sente essa necessidade de manter o Bruno afastado?
Carol: porque eu não consegui fazer o mesmo com o Hugo – disse simples – na hora que eu soquei o Bruno, eu vi o Hugo, quando fiquei sabendo que o Bruno estava por perto, eu só lembrava das ameaças que o Hugo me fez.
Psicóloga: Carol, você precisa entender que apesar das semelhanças, o Bruno e o Hugo não são a mesma pessoa, a sua história e a da Rosamaria também não é a mesma.
Carol: eu entendo isso e eu não queria me sentir assim, mas quando eu vejo é tarde.
Psicóloga: Carol, você é médica e mãe, é da sua natureza querer cuidar de todos e isso não é ruim, não estou falando para você se tornar indiferente, mas enquanto você está cuidando de todo mundo, quem cuida de você? – silêncio – ou melhor, quem você deixa cuidar de você? – mais silêncio – vamos recapitular alguns pontos, você chegou hoje falando que sua amiga, Anne, desnecessariamente trouxe você e Helena para as sessões, não é a primeira vez que você diz que foi grosseira com a Rosamaria quando ela tentou entender o que se passava com você, e aí eu te pergunto, por quê é tão fácil ajudar e tão difícil aceitar ajuda?
Carol: eu não sei – começou a chorar – eu não era assim, eu não queria ser assim – aceitou um lenço oferecido – eu acho que ainda são cicatrizes do meu tempo com o Hugo – deu de ombros – eu não tinha ajuda de ninguém porque ninguém sabia o que estava acontecendo, eu precisei aprender a sobreviver sozinha, acho que me acostumei a ser assim.
Psicóloga: sabe o que eu acho? – Carol negou – que a última pessoa a quem você confiou seus sentimentos espontaneamente, te feriu de maneiras inimagináveis, física e emocionalmente, e agora você apenas espera receber isso de toda e qualquer pessoa.
Mais choro. Cinquenta minutos não foram o suficiente, então a psicóloga decidiu estender por mais uma sessão. O que deixou Anne confusa e preocupada, enquanto Naiane tentava distrair Helena já impaciente.
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Nossa Vida - Rosattaz
Fiksi PenggemarApesar de pertencerem ao mesmo grupo de amigas, Caroline e Rosamaria nunca foram próximas. Caroline Gattaz, uma médica renomada, chefe da emergência do melhor hospital de Belo Horizonte, misteriosa, guarda um pequeno grande segredo que somente sua f...