Nossa Vida - Rosattaz

A volta

O clima entre o grupo de amigas estava tenso. Rosamaria estava revoltada com o mundo e descontando isso em todos ao seu redor, culpava tudo e todos, principalmente a dupla de Carols.

Plantão de 24 horas de Caroline, plantão noturno, mais de 72 horas após o fim da cirurgia de Naiane e ela ainda não havia acordado. Carolana decidiu também dobrar seu plantão e adiantar todos os exames possíveis. E todos indicaram a mesma coisa: não havia motivo para Naiane Rios não ter acordado até aquele momento. Aparentemente suas atividades cerebrais estavam preservadas, a sedação já havia sido retirada, o tubo que lhe ajuda a respirar ainda estava ali, e a paciente não dava sinais de melhora. Por quê?

Existem coisas que a medicina não consegue explicar, e em determinado momento da noite, Gattaz já estava sentindo a esperança indo embora quando resolveu ter uma conversa com a amiga. Sentou- se na cadeira ao lado da cama e permaneceu alguns minutos em silêncio, deixando as lágrimas caírem por seu rosto.

Carol: é sério que você vai fazer isso com a gente? Você vai deixar mesmo um bando de médico que nunca nem te conheceu, ditar se você vai viver ou morrer? Porque é isso que vai acontecer amanhã de manhã. Todos os exames estão bons, então eu sei que há uma chance. Por favor, Naiane. A Carolana dobrou plantão para tentar de tudo antes da junta médica se reunir, eu dobrei porque eu não quero estar aqui quando essa reunião acontecer. A Rosamaria tá um caco. A Roberta sendo consumida por uma culpa. As meninas mandam mensagens toda hora. A Helena quer a Tia Nani dela. Eu não sei o que eu vou fazer se você não acordar logo. Tem a nossa reunião sábado, e não é uma reunião sem você, então você precisa acordar – suspirou e pegou a mão da amiga – eu prometo que se você acordar, eu mexo meus pauzinhos e a gente faz uma reunião aqui mesmo, dou um jeito de colocar todas as meninas pra dentro. A gente precisa de você, Nai.

Batidas na porta de vidro fizeram Caroline levantar seu rosto e ver Carolana entrando no quarto.

Carolana: nada? – Gattaz negou silenciosamente – Naiane, me poupe, não vem fazer graça não – começou brava – eu e Gattaz estamos aqui tentando de tudo pra não te perder, enquanto você fica aí só dormindo, você precisa fazer sua parte. A Rosamaria não quer falar comigo porquê acha que é minha culpa você não ter acordado ainda. Você trate de levantar dessa cama logo e vai falar com as suas amigas. Você tá achando que eu vou deixar você sair desse mundo assim tão fácil? E ainda com a Rosamaria me culpando e culpando a Caroline? – estava desesperada – você pode acordar logo ou eu vou começar a te espetar até você acordar pra me xingar – ela ia continuar até que viu Gattaz arregalar os olhos – que foi?

Carol: ela apertou minha mão.

Carolana: ok – suspirou e se aproximou de Naiane – se você tá me ouvindo, aperta a mão da Gattaz – olhou para Caroline e viu a mulher negar com os olhos marejados – vamos, Nai, eu sei que você consegue, aperta a mão da Carol – viu Caroline se levantar assentindo freneticamente – isso, amiga – falou com a voz falha – tenta abrir os olhos, eu sei que é difícil, mas tenta.

O que aconteceu depois fez com que as duas médicas ali desabassem em um choro de alívio. O momento em que Naiane abriu os olhos e alternou o olhar entre as duas foi de pura emoção. Até que ela começou uma espécie de tosse que fez as duas retomarem suas posturas profissionais e começarem a agir.

Carol: calma, não se desespera, a gente vai tirar o tubo.

Carolana: vai ser difícil de falar, então não força.

Foram fazendo todo o procedimento de extubação até a psicóloga estar completamente livre.

Naiane: olá – deu um sorriso leve – a Betinha – disse com dificuldade ainda tossindo.