Acabou

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POV Autora

Chegou a hora de termos um outro ponto de vista, entendermos algumas coisas, e ficarmos sabendo de coisas que nossas protagonistas nem imaginam. Estão preparados? Então segurem-se e apertem os cintos, uma viagem está para começar.


SEMANAS ANTES...


POV Julia Kudiess

Era uma sexta-feira como outra qualquer. Tinha marcado um jantar com a minha irmã, mas não cheguei a aparecer. Foi tudo muito rápido. Estava parada em um semáforo quando senti um impacto leve no meu carro, achei que seria algum distraído e saí para ver o estrago na lataria, mas me arrependo, deveria ter ficado dentro do carro e seguido minha vida. Eu saí do meu carro e um homem desceu do veículo que havia batido no meu, meu erro maior foi ter ficado de costas pra ele quando fui checar o amassado. Eu virei e a última coisa que me lembro é de ter sentido um impacto na cabeça, tudo ficou preto de repente.

Quando eu acordei já estava em um quarto, algemada, sem minha arma, com uma baita dor de cabeça, estava morrendo de sede, tentei pedir por ajuda, mas havia uma mordaça que me impedia. Eu juro que tentei, mas não consegui, o cansaço bateu e eu apaguei novamente.

Não sei quanto tempo se passou, mas acordei com uma mulher me ajudando a sentar, ela tirou a mordaça e a primeira coisa que eu fiz foi pedir por água, eu sentia que naquele momento poderia beber toda a água do mundo de uma vez.

Julia: água, por favor – ela colocou o bico da garrafa em minha boca e eu consegui beber, em seguida resolvi tentar esclarecer – por que está fazendo isso?

Mulher: só estou seguindo ordens – de repente uma voz de homem, eu já tinha escutado essa voz.

Homem: LEDA – Machado apareceu na porta – olha, a princesinha acordou.

Julia: Machado – fechei os olhos praguejando – o que você quer de mim?

Machado: menina, você vai pagar no lugar da delegada – riu – e ela vai sofrer pela sua morte.

Julia: por favor, não faz isso – chorei.

Machado: Leda, assim que o Lucas chegar, manda ele dar fim nessa menina e levar o corpo para o endereço que eu deixei com ele – ordenou – sinto muito, menina, mas você escolheu ser aprendiz da pessoa errada.

E ele saiu. A mulher na minha frente parecia apavorada, e eu decidi usar isso a meu favor.

Julia: não deixa ele me matar, por favor – intensifiquei meu choro, misturando o natural com um forçado.

Leda: olha, eu não quero lhe fazer mal – pareceu sincera – eu vou trazer alguma coisa pra você comer, você precisa se alimentar.

Ela saiu e me deixou ali, comecei a pensar em como minha irmã deveria estar preocupada. Nesse momento todos da delegacia já deveriam estar sabendo e me procurando, mas é o Machado, eu sei que ele vai fazer tudo de um jeito que ninguém nunca me ache. Estava presa em meus pensamentos quando um homem apareceu. Ele parecia acuado, ficou me observando encostado no batente da porta. Não demorou e a tal Leda retornou com um prato de comida, só ali eu percebi que estava faminta.

Leda: você vai fazer isso mesmo, Lucas? – o questionou – ela é apenas uma menina, ela vai morrer por causa da tal delegada, a garota não fez nada.

Lucas: ele é meu pai e meu ordens claras, e você não deveria estar dando nada pra ela, ele falou que não deveria ter mordomias.

Leda: não é mordomia nenhuma, Lucas – falou mais alto enquanto me soltava – é um prato de comida e uma garrafa d'água, ela é um ser humano, Lucas.

Lucas: ele vai me matar.

Leda: meu amor, nossa vida só desandou depois que seu pai apareceu – dizia desesperada – nós sequestramos uma policial, ele quer que você a mate.

Lucas: mas ele é meu pai, e se eu não fizer isso, ele vai matar minha mãe, Leda – falava desesperado e só então eu fui entendendo o que estava acontecendo.

Aquela Leda era mulher desse tal Lucas, que é filho de Machado, que está ameaçando a mãe do próprio filho.

Leda: meu amor, e se você só fizesse ele pensar que a matou? – comecei a me interessar cada vez mais.

Lucas: eu já passei meu tio pra trás a ponto dele querer minha cabeça, se eu passar o meu pai também, ele me mata, mata você e mata a minha mãe.

Leda: pensa comigo, Lu – ela suplicava, conseguia ver que ela não queria estar ali, fazendo aquelas coisas – você esconde essa menina em algum lugar que seu pai nunca imaginaria, faz todo mundo pensar que ela realmente morreu, e quando tudo isso se resolver, nós a soltamos e fugimos.

Lucas: para com isso, Leda – gritou e isso me assustou – termina de comer, vai ser sua última refeição, vou preparar o carro e depois volto pra te buscar – falou para mim – não vou te matar aqui.

Ele saiu e eu chorei desesperada. O jeito que ele falou, ele vai me matar. Chorei pensando no jantar que nunca mais teria com a minha irmã, no abraço que nunca mais daria em meus pais, nas partidas de videogame que eu nunca mais jogaria com a Nininha, nas conversas e risadas que nunca mais teria com Douglas e Rosamaria, no abraço afetuoso que a Carol nunca mais me daria. O meu fim tinha chegado, e eu sabia disso.

Leda: menina, se acalme – seu tom era de pesar – eu sinto muito, eu tentei, não pense que eu estou bem com isso.

Julia: eu sei que você tentou, mas eu queria tanto ter a chance de me despedir de quem eu amo.

Leda: termine sua comida, beba sua água, e deixe que o destino faça o que tem que fazer.

Ela saiu e ali eu fiquei, terminei minha última refeição, limpei meu rosto e esperei. Se eu vou morrer, vai ser de cabeça erguida, sem medo, sem culpa, eu fiz o que pude para me salvar. Lucas chegou e saiu puxando meu braço, me colocou em um carro e pegou a estrada. Durante todo o caminho eu pensava em abrir a porta e me jogar, mas ele me alcançaria. De repente o carro parou. Olhei para todos os lados e só vi mato. Ele me mataria no meio do nada, sem testemunhas, sem deixar rastros, não posso negar que ele é esperto.

Lucas me tirou de dentro do carro, e em momento algum eu ofereci resistência, já tinha aceitado o meu fim. Ele me colocou ajoelhada a poucos metros do carro, se afastou e apontou a arma para mim.

Lucas: me perdoa, viu – sua voz falhou – mas é você ou as pessoas que eu amo.

Eu assenti, por um lado eu entendi que ele estava sem escapatória. Fechei meus olhos e pensei em todas as pessoas que EU amo.

Julia: aconteça o que tiver que acontecer – falei para mim e escutei o som oco de um tiro.

Acabou.





Capítulo mais curto, mas em compensação, eu volto antes do que vocês imaginam. Aqui iniciamos nossa maratona.

(1/6)

Nossa Vida - RosattazOnde histórias criam vida. Descubra agora