Mini Gattaz

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POV Caroline

Acho que chegou a hora de apresentar a minha filha, Helena Gattaz. Ela tem 7 anos, foi a primeira criança da família, é super apegada e protetora com os priminhos, e é o amor da minha vida. Toda vez que eu olho para a minha filha eu sinto amor, mas eu também sinto culpa e vergonha. Nunca me perdoarei por não ter amado essa parte de mim desde o início, por ter pensado tantas coisas ruins a respeito de sua existência. Me mata saber que por muito tempo eu reneguei essa criança antes mesmo dela nascer, pensei em não tê-la em minha vida, pensei em entregar para adoção, e até hoje a escondo das pessoas. Eu não sei dizer o motivo de não ter falado antes sobre essa parte de mim para as minhas amigas, mas tudo virou uma bola de neve sem fim e eu fui engolida nesse mar de omissões.

Josy e Priscila a conhecem desde bebê, elas se apaixonaram pela minha filha no momento em que a conheceram. Elas não entendem eu ter escondido a Helena. No começo só passava pela minha cabeça que trazer minha filha para o meu mundo seria como um lembrete de todo o poder que o Hugo teve sobre mim, afinal eu só engravidei porque queria mostrar pra mim mesma que poderia me relacionar com outro alguém. Isso me faz sentir uma idiota, e eu não queria que minhas amigas tivessem uma visão errada de mim. E depois eu só imaginava como dizer para elas que eu cheguei a planejar todo o aborto, depois a entrega para adoção, e desisti na última hora. Falar isso para as pessoas me deixa envergonhada, e um lado meu morre de medo de Helena descobrir. Eu nunca vou me perdoar pelos sentimentos que tive durante a gestação, e mais ainda, não consigo nem pensar o que seria de mim se um dia a minha filha descobrisse tudo isso. Por isso eu escondia ela.

A minha família sempre me ajudou com tudo. Minha mãe me ajuda enquanto eu estou de plantão, eu faço questão de levar Helena na escolinha antes de ir para o hospital, mas nunca saio do carro, é assim que minhas manhãs começam: acordar Helena, dar banho, arrumar, fazer o café da manhã e levá-la para a escola. Minha mãe é quem sempre vai até a escola quando há necessidade. Um dia, uma conhecida da Leinha me encontrou em uma das apresentações de dia das mães e eu quase entrei em pânico, falei que estava ali por conta da minha sobrinha e me senti mal no mesmo momento, foi como se eu renegasse novamente a minha filha. Até Alice nascer, a minha filha era tão sozinha e isso me doía. Por vezes eu pensei em enfrentar o mundo de cara e contar sobre ela, mas ao mesmo tempo o medo do julgamento e a vergonha me consumia. Jamais me perdoaria se a minha Lena fosse rejeitada por conta das minhas atitudes.

Até que por ser uma pessoa mais reservada, eu conseguia ter essa privacidade e "esconder" a minha filha. Durante os finais de semana de folga ou feriados, eu tento levá-la para a fazenda e lá é o nosso lugar seguro. Eu posso ser apenas a mãe dela, sem medo de encontrar alguém, ou ficar pensando sobre o julgamento das pessoas. Ali nós somos nós. Mas quando estamos em BH é uma loucura. Eu a deixo na escola pela manhã, vou para o hospital, minha mãe a busca na escola, e nos vemos somente à noite, tentamos ter uma rotina noturna na maioria das vezes. Dona Cidinha prepara nossa comida enquanto eu dou banho em minha filha e ajudo com as tarefas da escola. Às vezes temos a presença de Renata, Alice e Pedro e então é só festa. Apesar de tudo, eu nunca deixei que faltasse nada para minha filha, muito menos amor. Eu até hoje me sinto em dívida com ela, como se lá no fundo de seu coraçãozinho ela sentisse tudo o que eu senti quando ela estava em minha barriga. Eu tento compensar, mas não sei se consigo.

Helena uma vez me perguntou se eu tinha mais amigos além da Tia Pri e da Tia Josy, ela estava começando a ter amiguinhos na escolinha. Eu travei, queria falar para ela sobre todas as minhas amigas incríveis, e como ela poderia ser paparicada se soubessem da existência dela, mas naquele momento eu falei que não, que eu trabalhava muito. Recentemente ela conheceu Macris e se encantou pela vegana, principalmente depois que essa contou que trabalha "cuidando de bichinhos". Lena me pede quase todos os dias para ir no trabalho da Tia Fada, é assim que ela chama a Macris. Eu fiquei tão aliviada por Macris não ter me julgado ou criticado, ela chamou a minha atenção falando que eu poderia ter falado sobre Helena desde o começo, mas disse também que entendia o meu medo. Há alguns anos as mulheres eram ainda mais julgadas do que hoje, e ela disse que talvez eu tivesse sofrido um certo preconceito da sociedade sobre ser mãe solteira, ter engravidado bêbada, ela frisou que tinha certeza de que isso não viria de dentro do grupo. Macris é realmente uma fada.

Nossa Vida - RosattazOnde histórias criam vida. Descubra agora