— Você não tem hora marcada, — Malfoy rosnou quando Harry aparatou em Elixires Especializados.
Malfoy estava trabalhando, como sempre, incrivelmente bonito, como sempre. Harry parou por um momento, apenas para respirar.
Malfoy suspirou, deixando de lado o musgo que estava verificando e finalmente olhou Harry nos olhos.
— O que há de errado, Potter? Espero que você não tenha sido envenenado novamente.
— Eu preciso que você venha comigo, — disse Harry.
Uma expressão de surpresa cruzou o rosto de Malfoy de uma forma que o fez parecer estranhamente vulnerável, olhos cinzentos brilhantes bem abertos em seu rosto estreito. Então a máscara se encaixou, aquela velha máscara que não o tornava menos charmoso, apenas completamente inacessível. Às vezes Harry se perguntava o que ele tinha feito para que Malfoy não gostasse tanto dele.
— Eu não vou a lugar nenhum com você, — ele disse friamente.
— Bem, — Harry respirou fundo, — eu sei que você me odeia, Malfoy.
— Eu não odeio você, — Malfoy retrucou. Ele abaixou a cabeça e voltou para o musgo.
Por um momento, Harry observou a luz das lareiras brincar nos cabelos de Malfoy.
— Eu sei que você não gosta muito de mim. — Ele fez uma pausa, meio que esperando que Malfoy o contradissesse também, mas não o fez. — Mas você é o único em quem posso confiar agora.
A cabeça de Malfoy levantou-se como se alguém a tivesse puxado por uma corda invisível.
— Por favor, — Harry disse.
Ainda doía que Harry se importasse tanto. Ele ficou olhando para ele por tanto tempo que Harry começou a imaginar um caixão contendo o que ele sentia por Malfoy, pregos sendo cravados na tampa para segurá-lo, um por um. Deus. Ele ainda estava preocupado com Malfoy, Harry percebeu dolorosamente.
— O que preciso levar comigo? — Malfoy finalmente disse.
— Eu só preciso de você, — disse Harry.
Aquele olhar surpreso e de olhos arregalados passou pelo rosto de Malfoy mais uma vez, depois se escondeu novamente, como uma névoa que nunca existiu.
— Quando? — Ele disse, mas sua voz não estava tão firme como antes.
Harry lançou o feitiço para ativar o Olho Que Tudo Vê que ele instalou no laboratório. Vendo que não parecia haver ninguém no laboratório.
— Agora, — ele respondeu.
— Sim. — Saindo do musgo, Malfoy se aproximou dele e então parou, quase hesitante. — Você quer que eu... fique ao seu lado?
— Não podemos chegar lá por aparatação. Eu fiz uma chave de portal. — Harry segurava uma moeda na mão enluvada.
Malfoy olhou para a mão estendida de Harry. Ele lambeu os lábios.
— Pelo amor de Deus, Malfoy, — Harry disse, mais irritado do que pensava que poderia estar com a homofobia de Malfoy e sua memória óbvia daquele beijo estúpido. — Eu não vou molestar você.
Malfoy pegou a mão dele.
Os dois entraram no armazém e a moeda caiu no chão. Malfoy recuou e olhou para as vitrines.
— Onde estamos?
— Em uma espécie de laboratório. Acho que diferentes pocionistas estão fazendo poções aqui, mas acho que há um elemento comum: algum tipo de fornecedor. — Harry se moveu para abrir um dos armários, embora ainda não soubesse o que procurar. Porém, mesmo estar ao lado de Malfoy o fazia se sentir mais capaz. Malfoy sempre resolvia tudo. — Temos que descobrir quem eles são.
— Por que você não trouxe essas poções para o meu laboratório?
— Olha quantos são, — disse Harry, apontando para o armário. — Além disso, não quero que ninguém saiba que estivemos aqui.
— Você está dizendo que esta área não é segura? — Malfoy ficou um pouco mais pálido. — Não existem... outros Aurores?
Harry deu-lhe uma olhada.
— Eu disse que não confiava em mais ninguém.
— Mas... — Malfoy mordeu o lábio.
Suspirando, Harry se aproximou dele.
—Olha, qualquer que seja o comércio ilegal de poções que esteja acontecendo aqui, acho que algumas pessoas no Ministério estão ligadas de alguma forma, algumas delas nem sabem que estão, mas não posso contar a elas. Não quero que ninguém além de você saiba que conheço este lugar. Eu te disse, você é melhor nisso do que qualquer outra pessoa que já conheci. Ninguém mais pode fazer isso.
— Sim, você me disse, — Malfoy disse, — porque você sabe que isso sempre me tornará seu escravo.
Harry franziu a testa em incompreensão.
— Malfoy, — ele começou a dizer, mas Malfoy já estava indo embora. Harry agarrou seu braço.
— Não me toque, — disse Malfoy, virando-se para tirar o braço do aperto de Harry.
Harry o soltou, mas ainda tentou se aproximar de Malfoy. Enquanto isso, Malfoy recuou até os armários de parede, o armário de vidro aberto acima dele.
— Eu nunca fiz de você um escravo, — disse Harry, ainda sem entender por que Malfoy era quem estava com raiva, por que Malfoy era quem estava magoado.
— Ah, — Malfoy disse. — Como se você não esperasse que eu largasse tudo, só porque você aparece no meio da noite com todo o seu esplendor de Auror e diz "Malfoy, eu preciso de você", "Malfoy, eu confio em você mais do que em qualquer um" — Seu tom de voz era amargo, zombeteiro. — Você realmente esperava que eu recusasse?
— Isso tudo é por causa daquele beijo estúpido?
Malfoy ficou muito imóvel.
— Sim, — ele sibilou. — Aquele beijo estúpido.
— Malfoy, — Harry disse, aproximando-se dele.
— Eu disse para ficar longe! — Malfoy se afastou assim que Harry avançou.
Harry tropeçou nos próprios pés, agarrando-se ao armário para se equilibrar, derrubando uma das garrafas de dentro dele.
A garrafa abriu em sua cabeça.
A poção vazou em seu cabelo.
— Oh, merda, — Malfoy sussurrou, mas Harry já estava esquecendo.
Esqueceu o beijo, a morte de Narcissa, Cecil Vance; ele se esqueceu de Wood-Eye Bleach e Savage e dos Aurores, da academia, da universidade, Hogwarts, Hermione, Ron. Então Harry se esqueceu de Malfoy, e era um garoto com roupas grandes segurando um pedaço de varinha.
Um homem loiro estava parado ali, parecendo perturbado.
— Potter?