Harry estava muito feliz por estar de volta ao laboratório de Draco. Durante a última semana, ele se sentiu em casa, embora soubesse que não tinha permissão para ficar. Draco disse que demoraria um pouco para arrumar tudo, então Harry foi até o quarto para ver se os beliches ainda estavam lá. Embora ele agora soubesse que o alongamento não era bom para a madeira, ele gostou de como Draco os havia feito para ele. O quarto também tinha o roupão que Draco havia comprado para Harry. Draco havia dito que cresceria junto com Harry, o que Harry supôs que aconteceria em breve. Harry queria colocar o manto de volta quando estivesse curado, apenas para lembrar a seu eu mais velho o quão bom Draco tinha sido, mas isso provavelmente seria estranho, então Harry o pendurou de volta depois de acariciá-lo por um momento.
Quando Harry voltou ao laboratório, Draco não estava fazendo nenhuma poção. Em vez disso, ele estava escrevendo em um livro.
— O que é isso? — Harry perguntou.
— Lembra que eu disse que a solução tem várias etapas? — Draco olhou para ele e Harry achou que ele parecia muito cansado. — Estou escrevendo cada passo neste livro para garantir que tudo seja feito corretamente.
— Quais são os passos?
— A primeira parte é uma poção que vai fazer você crescer. Acho que seu eu adulto saberá como encontrar o ingrediente que falta. Depois de obtê-lo, vamos adicioná-lo a uma poção diferente.
— Aquela que vai ser permanente?
— Aquela que vai ser permanente, — Draco concordou, voltando-se para o livro.
Harry esperou que Draco sugerisse algo que Harry pudesse fazer enquanto isso, como cortar ingredientes ou mexer uma panela, mas Draco não disse nada. Na verdade, ele parecia esquecer que Harry estava ali, completamente absorto em sua escrita. Isso foi bom. Draco geralmente prestava atenção nele, mas Harry notou que Draco às vezes ficava muito distraído, especialmente com poções.
Heloise tinha um poleiro no laboratório onde às vezes dormia, mas ela não estava lá, então Harry foi até a cozinha para checar a janela. Draco disse que essa era normalmente a janela que ele deixava aberta para ela, caso ela quisesse entrar quando ele não estivesse em casa. Às vezes ela batia na janela do quarto de Draco, mas Draco disse que não a deixava dormir com ele. Ele disse que ela fazia muita bagunça.
Harry não viu Heloise, então foi olhar o álbum de fotos novamente, aquele com Sirius Black nele. A melhor foto de Sirius era uma dele se virando para sorrir loucamente para a câmera, enquanto o garoto mais novo que Draco disse ser o irmão de Sirius estava balançando os braços ao fundo. O aceno de braço e algo no sorriso faziam parecer que Sirius estava prestes a fazer algo malicioso. O álbum também tinha Andrômeda quando ela era jovem, mas Harry não gostava muito dela, então ele pulou essas fotos para ver mais fotos da mãe de Draco.
Finalmente, Draco subiu e perguntou a Harry o que ele queria para o almoço. Ele pareceu surpreso quando Harry pediu a salada de frango novamente. Foi uma boa salada, embora o frango e as almôndegas de Andrômeda fossem melhores. Harry nunca contaria a ninguém. Ele defenderia a cozinha mágica de Draco até o túmulo.
Depois do almoço, Draco perguntou a Harry se ele queria ajudar, então eles foram até o laboratório e Harry ajudou com as poções. Algumas horas depois, eles tinham uma poção branca com brilhos prateados.
— Parece com a poção que caiu em mim? — Harry perguntou.
— Não exatamente, — Draco disse. — Essa é um pouco diferente.
— Por que é temporária?
— Sim, Harry.
Harry olhou para a poção novamente. Quase parecia brilhar na luz, como uma espécie de nuvem perolada.
— Eu vou beber?
— Vamos borrifar, assim como na primeira poção. Você tem que colocar suas roupas grandes agora, Harry, mas volte mais tarde. — Draco começou a tirar as roupas da bolsa, que parecia não ter fundo, assim como Mary Poppins. A capa escarlate, a roupa de baixo, o cinto, a túnica, as botas e as luvas sem dedos estavam lá. — Temos que ter certeza de que você vai borrifar de maneira certa, — Draco continuou. — Eu te ajudarei.
Harry pegou as roupas e foi para o quarto se trocar. Quando voltou, Draco estava sentado na bancada, escrevendo novamente.
Enquanto Draco ainda era basicamente o homem mais bonito que Harry já tinha visto, ele agora parecia algo terrível. Sua pele, que geralmente era tão clara, parecia branca pálida, e seu cabelo parecia mole e quase roxo. Seus ombros caíram e havia olheiras sob seus olhos, quase como uma caveira, e isso fez o peito de Harry doer. Talvez Draco estivesse cansado. Talvez ele estivesse triste porque o Harry de dez anos estava indo embora, apenas para ser substituído por um Harry que aparentemente o odiava.
Harry queria dizer a Draco que não o odiava. Ele queria... ele queria que Draco o abraçasse novamente. Harry se perguntou se deveria tentar abraçá-lo ele mesmo. Ela se perguntou se ele teria abraçado o seu pai.
Em vez de tentar, Harry puxou as calças e calçou as botas.
— Temos que fazer isso agora? — Harry perguntou, enquanto Draco olhava para cima.
— Eu acho... eu acho que seria o melhor — Draco pegou o pergaminho em que estava escrevendo, dobrou-o e colocou-o ao lado da poção branca perolada. — Um bom mestre de poções sempre escreve tudo o que faz. Este pergaminho é um resumo rápido do que estamos fazendo, enquanto o livro tem instruções mais extensas.
— Ei, — Harry disse, sem saber o que Draco queria. — Eu tenho que lê-lo?
— Agora não, — Draco disse. — Acho que, quando você for mais velho e precisar procurar o ingrediente final, esses documentos podem ajudá-lo em sua pesquisa.
— Não posso te perguntar? — Harry disse, empurrando os óculos para cima.
Draco desviou o olhar.
— Estou tentando tornar as coisas o mais fácil possível.
— Você ainda acha que eu não vou gostar de você.
— Harry, — virando-se para ele, Draco afastou a franja de Harry, seus olhos brilhantes.
Harry pensou que Draco iria beijar sua cicatriz novamente, mas não o fez. Em vez disso, ele se levantou e pegou a garrafa de poção.
— É melhor terminarmos agora, Harry.
Por alguma razão, Harry podia sentir as lágrimas ardendo em seus olhos. Ele queria dizer algo, vou sentir sua falta, ou algo assim, mas não conseguia pensar nas palavras. Mais uma vez, ele queria abraçá-lo, mas Draco não estava fazendo isso e o incomodava ser o único a assumir a liderança. Sem saber mais o que fazer, Harry pegou a mão de Draco.
Inclinando-se, Draco beijou a testa de Harry; então seus lábios moveram-se para a orelha de Harry.
— Sinto muito, — ele sussurrou.
— O quê? — Harry recuou, mas Draco já estava borrifando a poção nele.
E sobre si mesmo.
Harry cresceu, as memórias o atingiram rapidamente: Hagrid, Hogwarts, Ron, Hermione, Dumbledore, Voldemort. Treinamento de auror, Savage, Robards. Draco Malfoy, Cecil Vance, poções ilegais, o armazém. A garrafa de vidro cai da prateleira. Ele se lembrava de quando era criança, a confusão de ver Duda crescer, Draco fazendo bolo, deixando crescer os pelos do nariz, fazendo um Patrono cujo significado Harry agora entendia.
Harry podia sentir seu corpo novamente, cabendo em suas roupas, muitas cicatrizes se formando contra sua pele, suas mãos sentindo o comando da magia, a barba em seu rosto. O óculos era muito pequeno. Harry o tirou e instintivamente pegou sua varinha, colocada magicamente dentro de sua manga.
— Engorgio, — disse ele, e colocou-os de volta.
— Quem é você? — perguntou uma voz imperiosa.
Harry se virou.
Na frente dele estava um garoto de cabelos loiros, olhos cinzentos e uma carranca feroz. A compreensão afundou em Harry como uma pedra.
— Merda, — ele murmurou.