Fim.

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#CreepersDaMina

Momo começou achar a vida uma grande piada.

Procurou na cabeça repentinamente latejante qualquer ponto que fizesse algum sentido, se frustrando quando não o encontrou.

Até mesmo se fosse algum tipo de castigo por algum erro cometido em vidas passadas: mesmo se Momo fosse o guarda que rasgou a costela de Jesus quando o mesmo implorou por um gole de água, ainda achava que aquilo era injusto até demais.

Havia perdido em um dia só os pais e sua irmã. Tzuyu havia ficado completamente à mercê, sendo uma boca que Momo precisava alimentar diariamente ou ficaria largada às traças. Mina também havia se perdido e Momo sinceramente não sabia dizer se havia a reencontrado, e talvez nunca fosse conseguir a reencontrar de fato.

Junto com isso vinha toda a carga, a cruz que Momo tinha de levar sem questionar o peso ou as feridas que o material causava em suas costas. Um psicólogico que havia endurecido e amadurecido rápido demais, motivado pela necessidade de sobreviver de um dia para o outro. Um emocional completamente quebrado, mas que Momo nunca poderia mostrar para alguém: quando se torna alguém tão amargo pelas faces mais duras da vida, fica mais difícil aceitar que sim, pode piorar.

E fora isso que acontecera quando Momo fechou os olhos após ouvir as palavras de Sana. Um zumbido muito forte passou pelos seus ouvidos por milésimos de segundos, e depois silêncio.

A falsa sensação de tranquilidade com o ambiente sem um mísero som sequer. Sana podia sentir o coração querer bater nos seus próprios ouvidos, enquanto observava a face da mulher à sua frente quebrar.

Nunca havia olhado aquelas orbes escuras sem algum sentimento ruim junto. Desde o início as circunstâncias faziam existir entre as duas uma faísca sempre acesa, mas não era mais necessário. Não tinha como ser. Viu Momo com os olhos cheios de água e sentiu seu coração apertar no peito, sentindo os seus próprios olhos logo se enchendo também.

— Sana... Como assim?

— Eu sei, mas ela não conseguiria contar. E-Eu tinha que mostrar pra ela que estou aqui para qualquer coisa. — A japonesa enxugou os olhos com o dorso da mão, sentindo a voz ficar cada vez mais embargada. — Foi em defesa, Momo. Ela seria estuprada. Morta. Não sei.

Havia sido Mina. Mina havia se defendido. Se Mina não houvesse o matado, também haveria sido morta naquele dia. E talvez Tzuyu, quando chegasse em casa. Ou até mesmo...

Mina havia salvo todas, mas em troca disso havia sacrificado boa parte de seu emocional e mental.

— Sana...

Sana também sabia o peso daquilo tudo. Não era algo fácil de se contar, mas com certeza era mais fácil do que ter que ouvir.

Observou Momo colocar as mãos na cabeça, e logo seu suspirar se tornou em um choro contido, escalando para um desespero que também desesperava Sana. Ouvir a mais nova engasgar de tanto chorar a machucava muito, quase fisicamente. E ali ela percebeu que se pudesse, trocaria de lugar com Momo para sentir essa dor.

Momo também era uma parte de Mina. Assim como Tzuyu, Dahyun, Marília... Por mais que a japonesa nunca mais fosse voltar a ser como era antes, ainda era Myoui Mina, a garota inteligente e introvertida que todos amavam ter por perto, a Mina que não havia morrido naquele dia. Dentro de cada uma delas já havia um pouquinho da essência da garota. Era assim que a Myoui real, aquela tão inacessível lá no fundo da cabeça de Mina, se mostrava sempre presente.

Hot Mess • DahmoOnde histórias criam vida. Descubra agora