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Petar Musa

Apesar da ausência da mãe de Leonor, o jantar correu muito bem, tanto o pai como o irmão da minha namorada eram pessoas muito faladoras e animadas e era muito fácil comunicar com eles.
João não ficou de fora como é óbvio mas facilmente se distraía no telemóvel e eu perguntava-me o que de tão interessante la poderia estar.

Depois da mesa arrumada decidimos fazer um jogo de tabuleiro, Monopoly, parece que era uma tradição de família aquele jogo para eles e a Leonor era muito batoteira ou pelo menos tentava e disso eu não estava á espera.
Estávamos todos muito animados mas já se começava a fazer tarde e era visível o cansaço em todos nós.

— Adorei este jantar, adorei conhecer-te Petar! — O pai da minha namorada pronunciou-se assim que chegamos perto da porta da minha casa.

— Foi muito divertido, adorei conhecê-los igualmente. — mostrei um sorriso simpático e despedi-me dos dois com um aperto de mão e logo ambos saíram.

— Ficas cá hoje? — perguntei para a minha namorada que estava ao lado do primo também ali perto da porta.

— Não vim preparada hoje mas prometo vir amanhã. — ele disse eu apenas assenti abraçando-a.

— Então vens no meu carro? — perguntou João e ela logo assentiu. — Até depois Musa e a gente vê-se em 2024.

— Boa viagem para Londres, e uma boa passagem de ano para ti. — Eu disse dando um breve abraço ao mais novo.

O João não estaria cá para passar a virada do ano connosco, decidiu ir para Londres onde mora a sua irmã e passar uns dias com ela, com ele ia também o António e a namorada e o Edgar.

— Até amanhã bebo! — a minha namorada esticou-se como podia para me poder beijar e eu ri do seu esforço inclinando-me para lhe poder dar um beijo de boa noite.

— Até amanhã moja princeza! — eu disse e logo ela saiu acompanhada pelo Neves.

Assim que fechei a porta suspirei e pensei no que ainda teria de arrumar na cozinha.
Podia deixar para amanhã? Podia, mas não gosto de ter a casa desarrumada.
Comecei por tirar o resto dos copos de cima da mesa e guardar o jogo na caixa.
Já na cozinha pus tudo dentro do lava loiça e limpei minimamente a bancada.

O som da campainha fez-se ouvir e logo pensei que fosse Leonor que havia esquecido alguma coisas mas assim que abri a porta dei de caras com uma mulher. Eram notáveis a semelhanças que tinha com a Leonor então dei logo conta de quem era.

— Eu preciso de ter uma conversinha contigo! — ela disse entrando pela minha casa dentro e era visível que ela não estava bem, estava alterada e pude notar o odor do vinho assim que ela passou rapidamente por mim.

— Boa noite desde já. — Eu disse fechando a porta e encarei a mulher.

— Eu não vou deixar que a minha filha se perca por tua causa! — ela começou por dizer fazendo-se notar o seu descontentamento. — o que é que tu queres dela?

— Primeiro de tudo eu queria que se acalmasse, não sei se está em condições para ter esta conversa agora. — Eu disse calmamente. — Talvez devesse ir descansar e marcarmos de falar em melhor altura.

— Eu estou perfeitamente bem! — ele quase berrou. — Eu quero que te afastes da Leonor! Olha bem tudo o que lhe aconteceu depois de te ter conhecido, perdeu o emprego, viu-se obrigada a ter de alugar a casa de família para ter um rendimento, vive praticamente ás custas do primo...

— Você não sabe de nada, eu nunca quis nem quero prejudicar a Leonor, sempre estive aqui para a apoiar desde que nos conhecemos. — Eu disse tentando ao máximo manter a calma. — Você nem sabe o porquê de ela não trabalhar mais naquela empresa, eu incentivei a Leonor a voltar aos estudos com a ajuda do João conseguimos convencê-la pelo menos a tirar um curso. Onde é que você estava este tempo todo? Onde estava quando a sua filha foi maltratada pelo próprio patrão que quase a violou? Onde? Porque eu estava aqui, eu sempre estive aqui e sempre vou estar.

— Ela o quê? — ela perguntou quase num sussurro.

— Infelizmente é a verdade, as coisas estavam complicadas lá na empresa já há muito tempo e a Leonor tinha uma relação muito complicada com uma das funcionárias de lá e as coisas excederam-se, a colega dela disse coisas que não devia e por impulso a Leonor deu-lhe um estalo e como é óbvio essa tal foi fazer queixa ao patrão no que resultou uma tentativa de chantagem por parte do homem que Leonor não estava disposta a ceder e ele agrediu-a e quase a violou, mas a sua filha foi forte o suficiente para se defender e fugir daquele lugar. — sei que a Leonor não queria que ninguém soubesse da história mas eu tinha de fazer a mãe dela perceber o que estava a perder com estas atitudes. — Eu pedi ao meu agente para escrever a carta de demissão dela, não queria por nada que ela continuasse a ir para aquela empresa, não iria permitir que mais alguma coisa acontecesse com ela. Onde é que vocês estava nesse tempo todo?

Eu vi as suas lágrimas escaparem pelos seus olhos e em milésimos de segundo ela começou a chorar e deixou-se cair no chão sentada.
A cena que via na minha frente deixou-me bastante fragilizado e logo me baixei na frente dela.

— Ela não quis fazer queixa, queria apenas esquecer o que aconteceu e nunca mais voltar aquele sitio mas não vai ser possível, eu tenho a certeza que ela nunca vai conseguir esquecer o que aconteceu naquele dia. — Eu disse. — Ela precisava de si naquele momento, ela precisava de uma mãe, uma figura feminina que a compreendesse melhor do que ninguém mas você não estava lá.

Acabei por me sentar no chão tal como ela.

— Eu vi o meu filho partir para longe de mim e não queria que a minha filha fizesse o mesmo, eu não a quero longe. — ela chorava. — Fui e sou uma mãe horrível.

— Não é! — neguei com a cabeça e ela olhou nos meus olhos. — Eu só quero que entenda que eu não quero afastar a Leonor da família, nunca a quis afastar de si, ela já estava afastada quando eu a conheci. Eu sempre demonstrei que apoiava e que estava ali para ela e ela sempre me contou dos seus problemas consigo, de como se sentia sufocada lá em casa, controlada a cada passo que dava... Ela não estava bem na altura que a conheci, não tinha amigos, não socialização com ninguém vivia apenas para o trabalho e o João tem um grande papel no que ela se tornou hoje, ele apresentou-a a nós, todo o plantel, e logo foi bem acolhida e criou amizades até com as esposas e namoradas dos jogadores. É notável a diferença da Leonor de antes para a de agora, está mais faladora, mais sorridente, mais alegre apesar de toda a sua timidez ela está mais aberta para as pessoas e eu sinto-me tão bem por ter contribuído para o que ela é hoje.

— E se algum dia fores embora do Benfica, se fores embora de Portugal? — ela perguntou ainda chorosa. — Eu sei que ela te vai seguir e eu não a vou ter mais aqui.

— Não é a distância que afasta as pessoas umas das outras, falo por experiência própria, o meu país é a Croácia e desde os meus dezoito anos que vivo longe da minha família mas estou sempre por perto. Sempre que posso vou visitá-los para além de falarmos ao telefone todos os dias. — Eu respondi e fiz uma breve pausa. — Com a Leonor não será diferente se por acaso ela for comigo para onde quer que seja, ela vai manter o contacto e vai sempre vir visitar-vos quando ela quiser. E para além disso não estou a pensar na minha saída, eu sou jogador do Benfica e neste momento o que importa é isso, tenho contrato por mais quatro anos e o que tiver de acontecer acontecerá.

Até Te Encontrar || Petar MusaOnde histórias criam vida. Descubra agora