CAPÍTULO 27| Sou seu fã

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A grama estava alta, a parede descascada indicando que  a muito tempo não via uma pintura, o lugar estava completamente abandonado

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A grama estava alta, a parede descascada indicando que  a muito tempo não via uma pintura, o lugar estava completamente abandonado. A sala ainda estava do mesmo jeito de quando sair, a mancha de sangue seco ainda estava no mesmo lugar. A pia da cozinha ainda tinha alguns copos, a diferença é que havia algumas teias de aranha sobre elas. Meu quarto ainda era meu quarto, a roupa espalhada, intocável do mesmo jeito que deixei quando sair naquela noite com o Bento. Eu não deveria ter saído, jamais deveria ter atravessado a porta. O túmulo da minha mãe estava coberto por mato, galhos e folhas seca.

– Ei – Uma voz me assustou. Era um garoto encostado no muro. – Você morou aqui, né? Me chamo Pietro.

Ele me olhou com curiosidade, mas eu não quis conversa. Virei as costas e fui embora.

– Ei, espera – Ele pulou o muro e veio atrás de mim. – Achei uma coisa sua – Ele sorriu.

– Quer morrer, é? – Eu o encarei com raiva.

– Eu sempre quis te conhecer – Ele disse animado. – Já ouvi muitas histórias sobre você.

– Que tipo de história? – Eu entrei na casa e ele me seguiu.

– Dizem que você matou seus pais, nessa casa.

– E você ainda tem coragem de entrar aqui? – Eu me virei e cruzei os braços. – Sabe que eu posso te matar a qualquer momento, né?

– Você acha que eu tenho medo de você? – Ele riu.

– Você devia ter – Eu disse, irritado. – O que você achou que era meu?

– Um rádio e um fone de ouvido – Ele respondeu.

Eu avancei sobre ele e agarrei seu pescoço, apertando com força. Ele arregalou os olhos e tentou se soltar.

– Me... Me larga – Ele bateu nas minhas mãos. – Para com isso.

– Nunca mais mencione essa merda – Eu o soltei. – Entendeu?

– Sim, senhor – Ele tossiu, segurando o pescoço. – O que você veio fazer aqui?

– Isso não é da sua conta – Eu disse, pegando uma vassoura.

– Eu só queria ser seu amigo, eu sou seu fã – Ele falou, com uma voz de idiota.

– Eu não sou nenhuma celebridade – Eu respondi. – Cai fora daqui.

Eu continuei a limpar e ele continuou a me seguir.

– Escuta, se você vai ficar aí feito um fantasma, pelo menos me ajuda a limpar – Eu entreguei a vassoura para ele. – Você tem mãe?

– Eu tenho mãe – Ele disse, pegando a vassoura e varrendo o chão.

– E onde ela está?

– No trabalho – Ele respondeu, sem parar de varrer.

– Você não devia estar na escola? Quantos anos você tem?

– Dezessete – Ele parou de varrer. – Eles sabem que você está aqui? Quero dizer, nessa casa.

– Não, e nem tente contar para ninguém – Eu ameacei, apontando o dedo. – Se você sabe da minha história, você sabe o que eu posso fazer com você e sua família, né?

– Sim, senhor – Ele engoliu em seco.

– Para de me chamar de senhor – Eu reclamei. – Limpa tudo direito.

...

Eu precisava de um plano para voltar àquele lugar e resgatar a Isadora, mas tinha que aguentar esse garoto chato que não me deixava em paz há uma semana. Ele estava o dia inteiro limpando a casa e cantarolando sem parar. Ele parecia um carrapato.

– Fica quieto – Eu gritei da escada.

– Relaxa, senhor – Ele riu. – Eu fiz o seu almoço.

– Você só fez o que devia – Eu desci as escadas.

O aroma era bom, eu estava curioso para experimentar a comida do Pietro. Me sentei à mesa, peguei um garfo e levei à boca. Quase suspirei de prazer com aquele sabor incrível.

– E aí? – Ele perguntou, ansioso.

– Péssimo – Eu menti.

– Mas você quase suspirou – Ele fez um bico.

– Eu suspirei de pena desse desastre – Eu zombei.

– Então por que continua comendo?

– Preciso me alimentar – Eu continuei a saborear aquele macarrão delicioso. – Senta e come – Eu apontei para a cadeira.

– Sério?

– Não! Senta no chão e come – Eu o olho com ironia – Claro que é para sentar na cadeira

Ele se acomoda na cadeira, pega o garfo e faz uma dancinha irritante. A felicidade de Pietro me irritava.

– Quantos anos você tem? – Ele pergunta, mastigando.

– Comporte-se – Eu o repreendo – E não é da sua conta

– Você vai me contar um dia?

– Se um dia eu confiar em você, quem sabe – Eu termino a comida e me levanto – Não se esqueça que você tem aula amanhã

– Não quero ir – Ele resmunga.

Pego a faca em cima da mesa e aponto para ele, o mesmo joga o corpo para trás caindo da cadeira e batendo a cabeça.

-- Ai, doeu -- Ele passa a mão na cabeça

-- Se não for para a escola -- Aproximo a faca do seu rosto e faço um minúsculo corte -- Vou beber seu sangue -- Levo a gota do sangue dele até minha língua

– Se eu fosse mulher, eu te daria mole – Ele riu.

– Imbecil!

Deixei a cozinha e voltei para o meu quarto. Há uma semana eu planejava tudo que precisaria, pensando em como eu entraria naquele hospital. Eu achei um guia na internet, com o mapa do hospital, com todos os detalhes, onde ficavam os quartos, a recepção, os consultórios, até uma ala desativada por causa de infiltração. Eu tinha certeza que era lá que ela estava.

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