Capítulo 33

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Lisbela Campbell


Já li um livro inteiro desde que o Enzo saiu de casa, ele vai passar o dia trabalhando e o meu plano era passar o meu tempo treinando, mas liguei para a minha treinadora e ela me disse que na verdade não me colocou na escala dessa semana, ou seja, só vou poder retornar a minha rotina apenas na próxima semana.

— Bela! Minha Rosa, você está ai em cima?—  Franzi a testa ao ouvir a voz do meu marido ecoando no andar debaixo.

Ele não deveria estar trabalhando? 

— Aqui na biblioteca!— Gritei de volta colocando o livro de lado para esperar ele chegar.

O que por sorte não demorou muito mais que três minutos para acontecer.

— Vamos para a casa dos meus pais? Agora?—  Ele não me disse um oi, não sorriu, ao menos não de uma forma muito "normal", e nem se aproximou muito também.

É certo que nosso relacionamento é recente, e nós tivemos alguns percalços até aqui especialmente por ele escolher ser tão fechado comigo a pesar de estar tentando melhorar, mas o fato é que eu conheço ele tão bem que sei que ele está inutilmente tentando camuflar o nervosismo.

— Agora?—  Questionei confusa demais para perguntar algo mais incisivo.

—  Isso, temos que ir agora. É importante Bela, vem comigo.—  Pensei em perguntar algo a mais, tentar entender por que eu estou ficando preocupada com o nervosismo dele, mas é justamente esse nervosismo que me fez aceitar sem nem discutir.

Enzo é muitas coisas, mas falso nervoso não é uma delas.

— Posso ir de short e blusa ou seus pais vão querer a nora formal que eles viram no casamento?— Perguntei em uma tentativa de puxar uma brincadeirinha e fazer ele rir, mas não funcionou muito bem como eu pretendia.

— Olha, antes da gente ir eu quero te dizer que quando nos casamos eu prometi que seriamos um só, isso significa que não importa o que aconteça, eu sempre vou estar do seu lado. O que quiser fazer eu vou apoiar, se quiser que eu compre a lua inteira para ser uma decoração no seu quarto eu farei se isso te deixar feliz.— Isso é ainda mais confuso, muito embora seja fofo.

Se eu contar para alguém que o Enzo, aquele a quem todos temem e chamam de nomes horríveis, está aqui trazendo a tona seus votos do nosso casamento muito poucos acreditariam.

Mas isso fez uma brasa aquecer dentro de mim. Reconheci imediatamente como algo que me confundiu uma vez. 

A brasa de um sentimento muito forte começando sua centelha, eu achei que tinha sentido isso antes, teria brigado por aquele sentimento que eu achei que estava sentindo, mas agora eu sei que no fundo eu sempre soube que não era amor o que eu sentia, foi por isso que eu não me recusei a deixa-lo.

Eu sabia que quando me apaixonasse não haveriam duvidas.

Certa vez eu vi alguém dizer que o amor te deixa com as pernas bambas e com o coração saindo pela boca. Exatamente como me sinto agora.

Precisei me apoiar na cômoda do quarto para me manter de pé.

Amor.

— Por que você está me dizendo tudo isso?— Questionei com a voz fraca, mas tentei me manter firme por que a recente revelação ainda me assusta.

Pelo que eu conheço do meu marido ele não acreditaria em nada.

— Por que não tem nada mais importante que você para mim, e quero que saiba disso. Agora vamos, antes que a gente chegue no horário errado.

Andei em modo automático sendo guiada pela firme mão dele na minha. Enzo recusou o carro que já estava nos esperando na frente de casa, disse que ir andando ajuda a arejar as ideias e como isso é algo que eu estou precisando, aceitei sem reclamar.

Infelizmente a casa dos meus sogros não é suficientemente longe para ser o bastante para desanuviar a minha cabeça, chegamos tão rápido que mal tive tempo para respirar.

— Filho, que maravilha! Você não aparece a dias, oi querida, tudo bom?— Não respondi a senhora Luara, não fui capaz de falar nada que não fosse um "eu descobri que estou apaixonada pelo meu marido, e isso deveria ser bom, mas eu estou extremamente apavorada."

— Depois conversamos mãe, a Stella e o Dom estão lá em cima?— Ele perguntou e a minha sogra assentiu rapidamente.

Subimos as escadas de dois em dois degraus, chegando ao quarto do casal em poquissimo tempo.

Me senti uma intrusa por que quarto é o lugar mais intimo para um, casal eu acho, e aqui estamos eu e o meu marido invadindo a privacidade deles dois.

Mas a Stella está tão estranha, com os olhos tristes. Como se estivesse chorando sem parar a muito tempo.

— Meu Deus, você está bem?— Me desliguei de todos os meus pensamentos e guerras internas, me aproximei dela com cautela e me sentei ao seu lado, bem na ponta da cama.


— Pode me abraçar, per favore?— Ela me pediu com a voz falha, se entregando ás lagrimas e aos soluços.

Antes de aceitar o abraço que eu certamente aceitaria de qualquer jeito, ergui o olhar para o Enzo e para o Domenico, ambos com a mesma expressão no rosto, como se o coração estivesse partindo em um milhão de pedacinhos. 

Virei imediatamente para a Stella e abri os braços convidando-a a se aproximar. Não levaram mais que alguns instantes para ela se jogar em meus braços e me apertar com os seus com força.

— Me desculpe por não saber de tudo antes, me desculpe.— Stella repediu isso sem me soltar incontáveis vezes. Eu não sei como ajuda-la, não sei o que fazer, ou o que ela espera que eu possa fazer para ajudar, mas me mantive fazendo o que ela mesma me pediu para fazer: Abraça-la.

— Estrelinha meu amor,  eu sei que você não está bem, mas ela está aqui e quer conversar com você.— Dom se aproximou da esposa cautelosamente tentando fazer ela se virar para ele, mas ela se recusou e continuou abraçada a mim.

— Eu não quero ouvir o que aquela monstra tem para falar, não me importa, não vai mudar nada. Ela é má Dom, ela foi a culpada por tudo de ruim que aconteceu na minha vida.—Stella continuou em um lamento sem fim fazendo meu coração encolher até ficar dolorido.

O que pode ter acontecido com ela para estar nesse estado? A Stella era tão alegre quando nos conhecemos, doce, gentil... agora me parece um pouco... apagada.

Tão apagada que me causa dor.

— Amore della mia vita, essa ferida nunca vai deixar de existir se você não puder ouvir tudo. Deixa ela falar e depois se você quiser nunca mais olhamos para ela. Vocês duas precisam disso, e depois decidam o que vão fazer. O importante é que vamos apoiar o que quer que seja decidido. —Dom complementou, mas ao me ver incluída eu precisei me pronunciar.

— O que quer dizer com "vocês"?—Questionei confusa.

Enzo e Domenico trocaram um olhar cumplice, Dom puxou sua esposa para si forçando-a a me soltar, e Enzo colocou as mãos em mim de forma bastante carinhosa.

— Isso te inclui minha Bela, e durante a conversa se lembre que eu estou aqui para você, está bem?— Assenti com a cabeça automaticamente.

Do que eles estão falando? O que pode ser tão serio que precisa de tanta cautela?

A Bela da Fera - Livro 4 da série: Família FontenelleOnde histórias criam vida. Descubra agora