Capítulo 35

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Enzo Campbell

Eu não aguento mais. Não vou mais conseguir suportar passar um dia mais que seja neste lugar.

Não quero morrer pela mão do Nicco, mas se eu encontrar alguma forma eu mesmo vou dar um fim a tudo isso. Um fim a minha vida.

 Mamma, pappa, Lucien, Pen e Isa, per favore me perdoem por estar sendo fraco, mas eu não aguento mais.— Sussurrei baixinho olhando para cima, diretamente para o teto desse quarto imundo no qual eu tenho vivido durante esses anos.

Eu não aguento mais chorar, não consigo mais fingir que não estou sentindo dor a cada dia que sou cortado e esfolado de diversas formas diferentes, tudo o que eu consigo pensar é que já que a minha família já pensa que eu estou morto o melhor é que eu morra mesmo.

Eu preciso ser objetivo e sincero comigo mesmo, eu não vou sair vivo daqui, não existe a menor chance disso acontecer por que eles não deixam brecha para uma fuga, ou seja, as minhas duas únicas reais opções são ser morto pelo Nicco ou eu mesmo me matar.

A segunda opção é a mais honrada.

A porta foi bruscamente aberta.

— Vamos seu imprestável, a garota que o chefe estava se divertindo acabou de morrer, ele precisa descontar a raiva de algum jeito.—  O soldado que está na minha porta contou algo que eu infelizmente já esperava que fosse acontecer, mas ainda assim não pude evitar o sentimento de pesar e de culpa.

A garota morreu em um sofrimento intenso e eu não pude fazer nada para ajuda-la, tudo o que eu pude fazer foi ouvir dia após dia seus gritos de dor e de desespero sem ter capaz nem mesmo de me levantar sem segurar em algo.

O osso da minha perna cicatrizou de uma forma tão errada   que é perceptível a olho nu, não me oferece nenhuma sustentação ou estabilidade a menos que eu esteja firmemente sustentado por alguma superfície firme.

Me sinto menos que um verme nessas condições, esse é mais um dos motivos para eu pensar que o fim da minha vida é a melhor solução. O homem que eu era já não existe mais.

O soldado me arrastou porta a fora, o padrão também já é conhecido para mim, ele me tirou de dentro do quarto, me arrastou até o centro do galpão e me jogou sentado em uma cadeira bem precária.

Depois disso as ações passaram como um borrão, admito que pensar na forma em como vou morrer me distraiu o bastante da dor e quase não senti quando a chicotada abriu novamente uma fissura na minha pele. As minhas costas realmente não existem mais, a pele chega a ser grotesca por conta das inúmeras cicatrizes em cima de outra cicatrizes, uma mais protuberante do que a outra.

Quem seria capaz de olhar para elas sem querer vomitar quando eu acho que nem eu mesmo seria capaz?

Nunca vi as minhas costas depois de todos os cortes, e certamente não verei depois.

— Não vai nem gritar de dor? Você está perdendo a graça!—  Nicco reclamou depois de jogar álcool nas minhas costas e não ter me visto emitir nenhum som. 

— Você nunca me viu gritar por nada que faça, o que o fez achar que conseguiria isso hoje?—  Questionei tentando parecer o mais entediado possível enquanto busco com os olhos algo que seja pontudo e afiado o bastante para fazer bem o serviço, mas que também seja pequeno para que eu possa pega-lo sem problemas.

— Achei que a persistência fosse ajudar. Mas preciso admitir, poder descontar minha raiva em você é a melhor parte do meu dia. Melhor que isso seria apenas se a sua família pudesse ver a obra de arte que eu te tornei: Uma grande pilha de nada!— Ele gargalhou aparentemente sendo o único a ver graça nisso aqui.

Se tivesse a chance de eu sair daqui vivo, o que me deixaria minimamente feliz e satisfeito seria eu mesmo matar esse desgraçado com as minhas próprias mãos. Talvez esse fosse o jeito perfeito de deixar de ser atormentado pelo que eu vivo aqui.

Seria melhor do que eu mesmo ter que morrer, é claro.

— Uma pena para você que minha família siga intacta.—  Retruquei dando de ombros me encolhendo um pouco instintivamente quando a ferida ardeu e "esticou".

Cazzo, essa porcaria sempre dói desse jeito depois de ser feita, mas depois de algumas horas é ainda pior. 

—  Nunca se sabe pequeno infeliz, nunca se sabe. Levem ele de volta para o quarto dele, hoje podem servir algo que não esteja estragado para ele comer, tenha isso como uma boa ação minha.— Dito isso ele saiu andando calmamente, e só depois que ele saiu do nosso campo de visão o mesmo soldado que me trouxe me levantou e me arrastou de volta para o quarto.

Pouco depois me levaram uma bandeja com comida, nada muito apetitoso é verdade, mas depois de dois anos vivendo a humilhação de comer apenas restos em um dia de sorte, ou comida estragada em um dia ruim, isso aqui é um banquete.

Comi, coloquei a bandeja no canto da porta e só então percebi algo pequeno, fino e de tamanho médio preso embaixo da porta.

Um arame eu acho.

Me arrastei pelo chão até alcançar a ponta do arame e o puxei com toda força que ainda me restava, talvez eu consiga fugir usando isso.

—  Isso pode ser a chance de eu não ter que morrer nesse inferno.—  Comentei para mim mesmo com um sorriso esperançoso. Dio pode estar querendo me ajudar e eu não vou desperdiçar a chance.

Escondi o arame para usar mais tarde. 

Acordei com o coração acelerado, com os olhos lacrimejando morrendo de medo de por um erro do destino eu tivesse ido parar naquele inferno de novo.

Estiquei o braço na cama, mas bati em algo ao meu lado. Ou melhor, alguém.

— Bela? O que está fazendo aqui?— Perguntei confuso. Ela nunca mais entrou no meu quarto desde o dia do nosso casamento.  

— Eu não estava conseguindo dormir no meu quarto, a cama pareceu vazia demais. Você estava agitado, teve um pesadelo?— Perguntou sentando na cama, e logo depois encostando a lateram do corpo em mim.

Me senti seguro. Me senti em casa.

Meu coração começou a bater na cadencia certa, ao invés da aceleração terrível de minutos atrás.

— Tive sim, eles são bem recorrentes, mas já esta tudo bem.—  Retruquei me permitindo enlaçar a sua cintura com meu braço.

A proximidade ainda não aprecia o bastante.

—  Bom, então vou voltar para o meu quarto, boa noite Enzo.—  Bela foi se levantando, e eu não sei se foi o peso do meu pesadelo ou a minha preocupação com ela por essa ser a primeira noite que ela passa sabendo a verdade sobre sua mãe, mas eu não quero que ela vá.

A cabeça dela está uma bagunça agora, acabou de descobrir que sua mãe não é quem ela pensava, do nada tem uma irmã... Eu posso ser a calmaria que ela precisa por hoje.

E eu preciso admitir, sentir ela do meu lado me faz acreditar que não vou ter pesadelos de novo. 

Segurei a mão dela antes que pudesse ir muito longe.

— Pode dormir aqui comigo hoje? Per favore.—  Pedi sentindo o rosto ficando vermelho.

Ela sorriu com uma alegria genuína e voltou para a cama, se aconchegando parcialmente em cima de mim. 

— Tive medo de você não me pedir isso. — Respondeu sonolenta.

Eu também não levei muito tempo para sentir o sono tomando conta de mim novamente, a sensação que eu tive quando a abracei para dormir foi que esperei tempo demais para finalmente encontrar o meu lugar perfeito no mundo.









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A Bela da Fera - Livro 4 da série: Família FontenelleOnde histórias criam vida. Descubra agora