capítulo 51

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Enzo Campbell

Eu preferia ter conseguido um lugar melhor para o meu exílio, mas dadas as circunstâncias tudo o que eu consegui foi uma das alas da casa dos meus pais.

Nenhum dos dois me fez perguntas, e eu prefiro assim. Minha alma está mais dilacerada do que jamais esteve em toda a minha vida, incluindo os anos que eu passei no cativeiro.

Que grande idiota eu fui por achar que uma mulher como ela conseguiria se apaixonar por mim.

Que cazzo eu estava pensando? Eu sou um monstro! Uma besta! Um imbecil apaixonado por alguém que não sente o mesmo de volta.

Céus, ela mente tão bem.

Me tranquei na minha antiga ala- funcionava como minha casa quando eu ainda morava aqui, a outra ala separada era do Lucien, meus pais sempre respeitaram as nossas individualidades e nossa privacidade. Minhas irmãs nunca ligaram muito para isso e escolheram morar literalmente junto com nossos pais até irem embora de fato- joguei minha mala no chão e me permiti soltar o grito de angústia e dor que eu prendi por mais tempo do que eu gostaria.

Gritei, chorei, quebrei algumas coisas, mas nada disso serviu para me fazer melhorar. Nada disso tirou aquele beijo da minha cabeça, e muito menos apagou as palavras que aquele verme disse antes de eu finalmente o matar.

Se eu pudesse o traria de volta a vida mil vezes apenas para matá-lo novamente.

Mesmo sem fome eu aceitei a lasanha congelada que minha mãe me deu juntamente com um prato de panquecas.

Eu não quero fazer ela se sentir mal, e eu me lembro muito bem como minha mãe ficou quando eu voltei para casa. Ela tentava parecer forte, mas por mais de uma vez eu acordei no meio da noite com ela ao meu lado verificando se eu estava bem, tentando ver se eu estava respirando. Sempre acordava apavorada quando eu tinha pesadelos... Tentei aparentar não estar tão mal quanto eu estou por ela. Por medo de apavorar ela novamente.

Deitei no chão mesmo e me permiti ser arrastado pela escuridão do dono, pedindo aos céus por tudo o que é mais sagrado que eu possa pelo menos sonhar com a vida que eu gostaria de ainda estar vivendo.

        •••••••••••••••••••••••••••••••••••••••

Não deu certo.

Meu sono foi embalado por uma repetição infinita da cena horrível da noite passada me fazendo ter uma vontade absurda de estourar meus miolos de uma vez.

Talvez eu devesse ter feito isso anos atrás. Não antes de voltar, por que assim meus primos não saberiam com quem estavam lidando, mas depois de contar tudo eu deveria ter colocado um fim nisso.

Eu sofro todo dia com dores pelo corpo, tenho que lidar com minhas limitações físicas além de tentar fingir para todos que elas simplesmente não existem ou que não me incomodam... Tenho que lidar com os pesadelos que eu deixei de ter por causa dela...

Lutei tempo demais por uma vida que não merece ser vivida.

Me levantei cedo, infelizmente com dificuldade por que eu não consigo mais dormir em qualquer lugar tranquilamente por conta da minha perna. Obviamente precisei me apoiar naquela bengala desgraçada.

Antes que eu pudesse beber um gole do café que a minha mãe pediu para entregarem aqui, a porta da minha alma foi aberta e fechada em seguida após o invasor entrar e me encarar.

Uma das últimas pessoas que eu queria ver, sinceramente.

— Quer tomar café?— Perguntei desviando o olhar de volta para a minha xícara.

— O que eu quero é que me diga que diabos você pensa que está fazendo. Sua esposa grávida está desesperada em casa!— Lucien acusou me fazendo rir sem humor.

Ele acha mesmo que tem algum direito de me dar lição de moral? Per favore.

— Eu não tenho sangue de barata, irmão.  Pelo que eu estou vendo você anda bem leal a Lisbela, estou errado?— Questionei forçando minha respiração pelo nariz, tentando me manter calmo quando tudo o que eu quero é bater com essa bengala na cabeça dele.

— Que tipo de pergunta idiota é essa, Enzo? Ela me ligou desesperada, quase sem conseguir falar. Na verdade, o que eu consegui entender da ligação é que você surtou e tinha ido embora de casa. E sim, claro que eu sou leal a ela, somos família! Lealdade é tudo.— Retrucou a beira de perder a paciência comigo.

Ele está preocupado com ela. Preocupado mesmo.

Eu também estou, e estaria mais ainda se eu realmente tivesse apenas "surtado" do nada.

— Bom saber a quem você tem lealdade.

— Mas que tipo de comentário é esse? O que você está dizendo?— Foi nesse momento que a minha mente gritou "chega".

Joguei a xícara com força na direção dele, desejando acertá-lo, mas infelizmente ele tem ótimos reflexos.

— Eu estou querendo dizer que você não tem lealdade a mim! Seu irmão!

Lucien assumiu uma expressão de espanto, como se estivesse presenciando um homem finalmente sucumbindo à loucura extrema.

— Nunca mais diga isso. Não existe ninguém no mundo a quem eu tenha mais lealdade do que a você.— Se defendeu instantaneamente me fazendo rir de escárnio.

— Vai dizer que não sabia sobre o namorado dela antes de eu pintar minha cara de palhaço e me casar com ela? Vai dizer que não escondeu isso de mim? Tenha honra, pelo amor de Dio!— Eu já não consigo mais me controlar, grito de forma acusadora, ando de um lado para o outro nervoso mesmo sendo obrigado a fazer isso devagar ou a bengala me desequilibra e eu posso cair no chão.

Não quero precisar da ajuda dele para me levantar. Não quero precisar dele nunca mais.

— Eu tenho honra, cazzo! Nunca trai você, tudo o que eu fiz foi tentar te ajudar! Você não existia mais Enzo, simplesmente não tinha uma vida de verdade, e eu vi na Lisbela alguém que poderia trazer o meu irmão de volta! Sim, eu sabia sobre o ex namorado dela, eu estava lá quando ela terminou com ele permanentemente, então não estou entendendo como você descobrir sobre um antigo relacionamento da sua mulher pode ser razão o bastante para você a abandonar grávida!— Me forcei a me acalmar.

Eu preciso conseguir falar. Me fazer entender.

— Ela nunca terminou com ele de verdade. Eu cheguei na minha casa e eles estavam se beijando, o amante dela, agora um defunto, me contou que o filho é dele, não meu. Acha agora que eu não tive motivo para sair de lá?— Questionei com a voz baixa, exausto demais para continuar gritando.

Cansado demais para conseguir segurar as lágrimas.

Lucien franziu a testa desacreditado.

— Se beijando? Amantes? Não. Irmão, isso não faz sentido nenhum, a Bela não é desse jeito. Você sabe disso.— Ele fala com tanta certeza que eu sinto vontade de acreditar.

Uma pena eu não poder fazer isso.

— Sua lealdade é dela, claro que vai defendê-la e me colocar de maluco.— Conclui. — Agora vá embora, eu quero mesmo ficar sozinho.

— Minha lealdade é sua, Enzo, mas a sua esposa e essa pessoa traidora que você está descrevendo, definitivamente não são a mesma pessoa. Vou embora por que você precisa colocar a cabeça em ordem, mas eu vou voltar porque eu não vou te deixar abandonar o seu casamento.— Dito isso meu irmão saiu porta a fora me deixando sozinho com meus demônios novamente.

A pior companhia possível.





VOLTEI PESSOAL!!!!
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A Bela da Fera - Livro 4 da série: Família FontenelleOnde histórias criam vida. Descubra agora