Capítulo 11

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Enzo Campbell 


Só preciso suportar por mais um minuto, só mais um.

Penso isso a cada momento que um novo minuto se inicia por que essa é a única forma de enganar o meu cérebro e me fazer suportar essa tortura.

Me forcei a gargalhar depois de mais uma chicotada abrir uma nova ferida nas minhas costas. Eu não posso ser fraco, não posso cair.

— Facilite as coisas para si mesmo, Enzo, não seja idiota. — Eu conheço essa voz, é claro que conheço. Tenho sido obrigado a conviver com ela a uma semana inteira.

Jean.

Ele sequestrou o Domenico, o deixando em condições tão precárias quanto as que eu estou agora, mas isso não é realmente um grande problema quando eu tenho total certeza de que a minha família continua me procurando.

Eles não vão desistir de mim, eu sei disso.

— Facilitar as coisas não é comum na minha família seu idiota. Se você queria sequestrar um membro do nosso meio deveria pelo menos ter feito a lição de casa completa.— Retruquei tentando parecer firme e relaxado, o que com certeza está sendo a parte mais difícil do meu jogo psicológico de controle dado ao fato de que eu estou pendurado por correntes no teto como um animal pronto para o abate.

Dio, eu me sinto tão fraco, tão exausto.

Preciso aguentar só mais um minuto.

Arqueei as costas quando senti um ardor  aterrador se instalando nas minhas feridas abertas.

O figlio de cagna acabou de jogar uísque em cima dos cortes. Preciso admitir que seus requintes de crueldade são realmente impressionantes.

— Desculpe, isso te incomodou?— Outra voz perguntou, não o Jean como eu havia previsto.

Franzi a testa e esperei até o novo integrante da minha sessão de tortura diária aparecer, mas eu tenho absoluta certeza de que esse outro também não me é estranho.

Nicco? Ele também faz parte da cosa nostra.

Camuflei a minha surpresa e sorri.

— Foi muito refrescante na verdade, obrigado por isso eu estava precisando. Agora me diga, não acha muita burrice aparecer para mim como cumplice desse imbecil? Dele todo mundo já sabia, mas você podia permanecer escondido.— Retruquei contraindo a musculatura das costas morrendo de vontade de chorar feito um garoto.

Isso tudo dói como o inferno, e eu não devia estar passando por isso.

Dio, eu só tinha ido resgatar meu primo.

Respirei fundo. Só mais um minuto, Enzo.

 — Cumplice?— Nicco sorriu de forma sombria e de forma quase imperceptível pegou uma pequena, mas muito afiada, adaga e com uma rapidez impressionante cortou a garganta do Jean de uma forma tão profunda a deixar suas vertebras expostas. — Ele já serviu a missão para a qual eu o designei, não passava de um peso morto. Bem, literalmente morto agora. — Dito isso Nicco deu um chute em seu antigo cumplice para verificar se o infeliz está de fato morto.

O homem a minha frente limpou a adaga suja em sua própria camisa e a direcionou para mim com um sorriso minimamente insano.

— Grande jogada, eu admito.— Falei tentando não parecer tão perturbado com o que acaba de acontecer.

A Bela da Fera - Livro 4 da série: Família FontenelleOnde histórias criam vida. Descubra agora