Capítulo revisado, mas pode conter erros.
Já era a terceira vez que a chave caía pelo nervosismo de Bright. Recolheu o molho de chaves do chão ouvindo as risadinhas do mais novo atrás de si. Quando destrancou as portas de vidro, as abriu, enfiou o molho no seu bolso e estagnou na entrada.
— Agora preciso que feche os olhos. – Pediu, visivelmente nervoso.
Metawin elevou uma das sobrancelhas, com um ar duvidoso, mas fechou os olhos. Com a ausência da visão, seus demais sentidos pareciam ter ficado mais aguçados, isso somado a inquietação que sentia. Sentiu o toque quente de Bright sobre o dorso de sua mão, ele a segurou com uma delicadeza irreal, deixando Win ansioso.
— Cuidado com o degrau. – Sua voz aveludada ecoou pelo ambiente e resonou dentro dele.
Deixou que o mais velho o guiasse, passos lentos que pararam de repente. O estúdio tinha um cheio diferente, um perfume gostoso amadeirado que não vinha apenas do pintor. Sentiu sua presença mais próxima de seu corpo, Win o pressentia tão perto que podia sentir seu nervosismo pairando ao redor deles.
— Esse é seu presente, saiba que não pode trocar. Entendeu? – O mais novo resfolegou, balançando a cabeça em concordância. Ouviu seus passos em torno de si, Win o sentia a suas costas. – Fique aqui e não ouse espiar.
— P'Bai, você está aumentando muito minhas expectativas. – Disse ele, emendando uma risadinha.
A risada baixa de Vachirawit faz o mais alto arrepiar. Ele voltou a caminhar, desta vez para longe. Escutou um clique e constatou uma claridade não uniforme sob as pálpebras, supôs que ele não tinha acendido a luz totalmente. Trocou o peso do corpo para a perna esquerda, enfiando as mãos nos bolsos frontais da calça. Metawin estava sofrendo em antecipação, se perguntou se ele estava fazendo aquilo de propósito e estava se divertindo.
— Pode abrir.
Win abriu os olhos no mesmo instante que Bright soprou em seu ouvido, lhe fornecendo um novo arrepio gostoso. Piscou um par de vezes e olhou para a galeria, as lâmpadas de iluminação douradas estavam voltadas para os dez quadros pendurados nas paredes. Bright tinha feito um coleção nova onde ele era a figura central. Todos os quadros escuros e melancólicos foram substituídos por telas multicoloridas em seus tons mais vibrantes.
Dois passos atrás dele o pintor observava as reações de Metawin, seus olhos pulavam de quadro em quadro, harmonizados com a feição maravilhada. Bright estava tão encantado com a expressão do garoto que queria pintar aquela cena, era impressionante como ele poderia ser tão lindo. Chivaaree trabalhou dia e noite, por longas horas a fio, incansavelmente para entregar aqueles quadros. Ver aqueles olhos, exatasiados, fora muito melhor do que qualquer agradecimento verbalizado.
Metawin andou pela galeria, ele não tinha como expressar nada naquele instante, já conhecia o trabalho de Vachirawit, tinha visto quase todos seus quadros, mas aquilo era diferente. Nas outras telas, ele enxergava um espírito aterrorizado, cansado de anos vivendo com um fardo que ninguém acreditaria, por isso teve que conviver com essa aflição sozinho. Uma trágica história contada de forma artística, o compartilhamento de sua dor pessoal. Agora tinha uma alma vivida e cintilante. Havia esperança.
Um dos quadros lhe chamou a atenção mais do que aos outros. Win estava pintado com tinta acrílica numa tela branca, fonte de luz azulada irradiava por trás dele. Usava um suéter bege, os olhos repuxados e os cantos os lábios se arqueando em um tímido sorriso, o cabelo castanho escuro jogado para o lado. Todos os detalhes de Metawin retratados com um realismo assustador. Até os dentes frontais que eram um pouco salientes foram representados. Win sorria para pintura, a sensação que se abatia sobre ele era algo mágico que não conseguia explicar.
Baixou o olhar para a plaqueta abaixo da tela para ver o nome que tinha dado ao quadro. "Paraíso". Win entreabriu os lábios e olhou para trás, vendo um Bright tímido, o olhando como uma criança olha para os pais ao entregar o boletim. Ansioso por sua resposta. Em três passadas largas, se lançou em seus braços, o apertando contra si. Sentiu os braços dele circularem sua cintura e retribuir o aperto na mesma intensidade. Ambos encostaram o rosto na curvatura do pescoço um do outro, inalando seus cheiros. Era como um bálsamo calmante, um ponto de paz depois da tempestade.
— Isso quer dizer que você gostou? – Vachirawit indagou quando levantaram as cabeças para se olharem.
— É claro! Eu só sinto falta de uma coisa.
— O que?
— Você neles. Junto comigo. – Apontou para as paredes. – Na próxima vez faça exposição nossa.
— Já ouviu a expressão "cavalo dado não se olha os dentes?"
— Eu pensei que não fosse seu muso inspirador. – Cantarolou Win com um sorriso atrevido.
— Você não era, mas você é muito bom em me fazer mudar de ideia. É por isso que te chamo de estorvo as vezes.
— Na verdade, você gosta de mim e não quer admitir. – Bright revirou os olhos brevemente. – Vamos, P'. Confesse.
— Alguém já disse que sua autoestima é invejável?
— O tempo todo. – Metawin concordou, se envolvendo mais em seu abraço. – São 23:58, ainda é meu aniversário, posso pedir uma coisa?
— O que você quer, estorvo? Não acha que fiz demais? – Questionou com uma irritação bem humorada.
— Um beijo.
O rosto de Bright ficou livido. Impassível embora tivesse pálido, Win não conseguia dizer nada a julgar por sua expressão, sabia que estava pisando em um terreno incerto, sensível para ele. O garoto não podia evitar, não quando tinha aquela miríade de sentimentos que aflorava em seu peito sempre que estavam juntos.
— Win... – Bright começou, com aquele tom manso que usava sempre que tentava se explicar para ele.
— Eu sei o que você vai dizer. Mas eu quero que entenda que eu não me importo, com nada. Você é mais importante pra mim que qualquer outra coisa e eu diria isso cem mil vezes. – Suspirou, dando uma pequena pausa antes de prosseguir. – Eu quero você e vou continuar querendo constantemente, sem dúvidas. Eu vou querer você pra sempre. Nada e nem ninguém, muito menos você, vai ser capaz de mudar isso.
Nesse momento Vachirawit era como um copo cheio, há muito tempo ele estava preenchido de algo que havia esquecido. Metawin lhe amor de volta, era um sentimento crescente e arrebatador. Como uma espécie de vírus, Win se infectou em tudo até que só restasse Bright, sem suas proteções para mantê-lo longe. Ele fazia com que o pintor desejasse viver. Sem saber como, aquele garoto de sorriso ardiloso o fazia sonhar, almejar um futuro que ele nunca planejou ter. E o copo cheio, agora, já começava a transbordar e tudo o que Bright mais queria, era se deixar derramar junto com ele.
Olá!!! Vocês ficaram bobinhos tal qual eu fiquei? Porque eu espero que sim, eu amei TANTO escrever esse capítulo que não dá pra dizer em palavras. Me deixou muito de coração quentinho e espero que seja um aconchego para esse começo de semana. Até próxima atualização, grande beijo!
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O último beijo | brightwin
RomanceVocê acredita em destino? Em maldições, contos e lendas? Bright sempre achou que isso tudo fosse parte de histórias infantis até que percebeu que uma coisa bizzara acontecia em sua vida: todas pessoas que ele beijava morriam em uma semana. Em razão...