26 | Na calada da noite

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In the dead of night, your eyes so green
(I know places)
And I know, for you, it's always me
(I know places)

Na calada da noite, seus olhos tão verdes
(Eu conheço lugares)
E eu sei que, para você, é sempre eu
(Eu conheço lugares)


I know places

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Fecho a porta do carro com cuidado, um pouco trêmula com o esforço de não batê-la. Estalo os dedos das mãos, um por um, enquanto Connie entra pelo lado do motorista, fecha a porta e coloca o cinto de segurança, o que me lembra de colocar o meu.

Continuamos no estacionamento escuro depois disso, ela não dá a partida. O único som é o estalar das minhas juntas. Até que, de súbito, falamos ao mesmo tempo:

— Não sou amiga dele — ela diz.

— Que tipo de música você quer ouvir? — pergunto. Minha mão vai em direção ao aparelho de som, mas paro com ela no ar. — O Stephen sabe que você não é amiga dele?

— Provavelmente não. Ele sempre gostou de dizer que é amigo de todo mundo e de andar cercado de gente famosa. — Ela me encara, acrescentando: — E de mulheres.

Eu engulo em seco, me sentindo um pouco oca por dentro.

A realidade parece vir rápido demais em minha direção. Me sinto tonta, desequilibrada.

Connie e Stephen se conhecem.

Ele tem até o número do telefone dela. Merda, eles devem se conhecer há anos.

Não só isso. Connie sabe, sempre soube, que eu era a namorada dele. E sabia que ele me traía.

A confirmação se esgueira pelas entrelinhas da fala dela e está estampada em seus olhos. Fico olhando para ela, tentando entender o que está acontecendo. Na tensão em seus ombros, na forma como ela comprime os lábios e franze as sobrancelhas, há um misto de preocupação e medo.

Isso quer dizer que, mesmo antes de eu aparecer naquele primeiro treino pelo Barcelona, ela sabia quem eu era: a namorada corna do Stephen Andrews.

Eu desconfiava que ela tinha mentido ao fingir que não sabia o meu nome, provoquei-a tantas vezes sobre isso sem ela nunca ceder, mas não imaginei que descobriria desse jeito. Pensei que seria uma admissão que eu arrancaria dela. Sua voz grave finalmente dizendo "claro que eu sabia o seu nome, Rebeca Ferraz, como não saberia?".

Ela ao menos sabia o meu nome completo? Ou, como eu temia no momento em que entrei no vestiário naquele dia, ela passou perto de usar apenas o título vencido de namorada daquele babaca?

Com o indicador, pressiono o botão para ligar o rádio. Uma música da Rosalía começa a tocar, sensual demais para a situação em que nos encontramos. Não tenho a força de vontade necessária para vasculhar as estações em busca de outra. Deixo a minha palma descansar sobre a coxa, contraindo os dedos no tecido da calça.

Connie entende a deixa de que ainda não estou pronta para falar e liga o carro, dando a ré para nos tirar do estacionamento.

Quando ela dirige pela rua em frente ao portão onde as fãs ainda estão reunidas, desvio o rosto dos celulares apontados para o carro, torcendo para o vidro não deixar que capturem muito do interior. Mas que diferença faz? Todas sabem que entrei no carro com Connie.

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