Cap 24 - Um detalhe

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Maraisa Pereira:

— Quero que mire no centro, Morena. — Ivan aponta para o círculo vermelho no meio do homem feito de papelão. — Mantenha o pulso firme, caso contrário, a arma poderá voltar com a pressão e acertar em cheio o seu rosto.

— Tudo bem, avise quando for para atirar. — Grito um pouco por estarmos com aqueles protetores de ouvido. Ivan faz um sinal positivo e cruza os braços se afastando. Encaro o homem de papelão e imagino o rosto do Fabrício nele.

Atiro duas vezes.

Ivan aperta um botão que faz o boneco se mover até poucos metros para perto de nós. Não acertei no meio, mas cheguei perto.

— Foi bem. Não acertou o meio, mas com certeza matou o cara. — Ele aperta outro botão e o boneco volta para o fundo da ampla sala. — Agora mire no joelho.

— Eu nunca vou acertar os joelhos, Ivan! — Protesto, mas não adianta nada. Ivan continua olhando para o boneco, esperando que eu realize seu pedido. Suspiro e volto a olhar para frente.

Está tudo bem. Não deve ser tãooo difícil assim.

Miro mais demoradamente, e por fim, decido tentar dar um tiro em cada joelho, isso aumentaria minhas chances de acerto.

1...2...3..... Atiro.

Abaixo a pistola e Ivan traz o boneco para perto. Acertei apenas uma das canelas do boneco.

— A canela serve, mas o joelho é mais definitivo. Um homem sem conseguir andar, é praticamente um homem morto em casos de confronto. A canela furada o desestabilizaria, e o deixaria mais lento, mas ele ainda conseguiria andar se arrastando.

— Você já matou muitas pessoas? — Questiono curiosa. Ivan olha para mim de rabo de olho, e balança a cabeça em afirmativo.

— Sou um mafioso, Morena. Isso vem no contrato. — Ele sorri e volta com o boneco. — Agora mire na cabeça. Isso é o mais importante. Um tiro bem dado no meio da testa mata qualquer um.

— Mas, matar não é difícil? Quer dizer, a consciência não pesa? — Franzo o cenho. — É outro ser humano.

— Apenas o primeiro é difícil. E não se engane, Morena. Existem seres humanos que não possuem humanidade alguma. Agora, atire.

Não prolongo a conversa. Faço o que ele manda e acerto em cheio. Recebo um sorriso orgulhoso em troca. Eu estou pegando o jeito dessa coisa. Gostei disso.

Duas horas se passam e decidimos parar por hoje. Ivan é um bom professor, é paciente e sabe ensinar. Ele é uma boa pessoa, infelizmente nasceu em uma máfia. Ele poderia ser um bom cidadão, mas não acho que honestidade tenha a cara dele, muito pelo contrário, ele tem cara de mafioso mesmo.

— Estou com fome. — Resmungo. — Tenho que almoçar antes de ir para o consultório.

— Como está o bebê? — Ele pergunta com os olhos atentos na estrada.

Marília arranjou uma sala de treinamento de tiros para policiais, eu não sei como, mas permitiram que eu e Ivan treinássemos sozinhos. Tenho uma leve impressão que Marília contribuiu com alguma quantia generosa para que isso fosse possível.

— Acho que está bem. — Pouso minha mão sobre meu ventre. — A ficha ainda não caiu que sou mãe, mas eu sei que sou e tudo que eu queria era que eu e Marília pudéssemos curtir essa fase como qualquer outro casal normal, sabe?

— O bebê não veio em uma boa época. — Afirma. — Mas vai dar certo, não se preocupe. Nada acontecerá com essa criança, isso eu prometo.

— Como pode ter certeza? Se o Abicieli me matar, o bebê também morre.

A CEO - Malila | G!pOnde histórias criam vida. Descubra agora