Cap 28 - Despedida

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Marília Mendonça:

Faz quase dez horas que estou sentada em um banco desconfortável de uma sala de espera. Depois que conseguiram estabilizar Maraisa, transferiram-na para um hospital em Seattle, o mesmo em que Luísa trabalha. De acordo com os médicos, ela bateu fortemente com a cabeça, causando um hematoma extradural. Lembro-me de vê-la acordada ao chegar ao hospital, foi direto para cirurgia, não tenho mais notícias desde então. 

Eu não sei o que fazer. Daria tudo para trocar de lugar com ela, a culpa é minha, fui egoísta, a mantive ao meu lado mesmo sabendo dos riscos, agora, minha mulher está em uma sala de cirurgia e nem sei se ainda serei mãe. Não consigo mais chorar, já esgotei todas minhas forças, só tenho que manter a fé, como disse a enfermeira. 

Novamente, levanto-me e caminho em direção à capela do hospital. Perdi as contas de quantas vezes já estive aqui hoje. Eu não sou religiosa, nunca fui, mas agora, sinto-me péssima e um tanto hipócrita, nunca recorri à Deus antes, mas Ele é tudo que tenho agora, é tudo que me resta para ter fé. 

— Eu voltei. — Digo, sentando-me em um dos bancos de madeira. Há uma cruz com a estátua de Cristo nela, no alto da parede. Minha mãe era uma religiosa, ela dizia que Deus sempre está conosco, ao nosso lado, não precisamos necessariamente orar para uma estátua. — Eu posso estar sendo chata, mas nunca me senti tão desesperada em minha vida. Eu não sei se você aceita esse tipo coisa, mas, poderia deixá-la ficar e deixar que meus bebês também fiquem, levando-me no lugar? Sei que ela é incrível e cheia de vida, e se eu fosse o Senhor, também iria querê-la ao meu lado, mas não é justo, não é justo que ela se vá, não é justo que meus filhos, que nem nasceram ainda, se vão. Deixe-os ficar e me leva, porque eu não sei se sobreviverei sem eles, eu não penso nem na possibilidade de isso acontecer. Talvez pense que eu não os mereça, e tem razão, mas eu prometo fazer por onde, prometo amá-los incondicionalmente e dar o melhor de mim, você os colocou na minha vida por um motivo, não os tire de mim. Por favor, é tudo que peço. 

Seco meu rosto, levantando-me e saindo da capela, indo em direção à sala de espera. Quando vejo Luísa sentada, sinto meu coração falhar algumas batidas e o nervosismo se apossa de mim. Nunca senti tanto medo na minha vida. Ela olha em minha direção e se levanta rapidamente, seus olhos estão vermelhos e molhados. Ao mesmo tempo que vejo tristeza neles, vejo alívio. 

— Mali, achei que tinha ido embora. — Nego com a cabeça e permaneço afastada, com as mãos nos bolsos da frente. 

— Tem alguma notícia? — Questiono cansada de ficar no escuro. Ela balança a cabeça, afirmando. Mordo o lábio inferior, tentando conter a ansiedade. É agora, ou ainda os tenho comigo, ou os perdi para sempre. 

— Foi difícil. — Ela suspira pesadamente. — Maraisa teve duas paradas cardíacas no meio da cirurgia. — Engulo em seco, tentando conter as lágrimas que se formam. — Não foi apenas a pancada na cabeça, ela teve uma das costelas quebradas e acabou perfurando o pulmão direito. Mas no final, conseguimos estabilizá-la. A cirurgia foi um sucesso. — Solto o ar completamente, aliviada. Ainda a tenho, ela ainda está aqui. — Mas, Marília, Maraisa entrou em coma. 

Esse é um daqueles momentos em que você se sente no céu, mas cortam suas asas em pleno voo e você cai, mas você nunca chega ao fim da queda, pois tiraram seu chão também. E você cai infinitamente, e quando olha para baixo, não sabe se haverá um fundo, se algum dia chegará o final. 

— E quando ela vai acordar? — Questiono, ainda tentando manter a esperança. 

— Não sabemos, agora é com ela. Pode levar de alguns dias, até alguns... anos. — Anos? Deus... — Talvez ela nunca acorde, não sabemos. — Luísa deixa escorrer algumas lágrimas, mas as limpa rapidamente. — Eles sobreviveram. — Ela sussurra. 

A CEO - Malila | G!pOnde histórias criam vida. Descubra agora