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Billie
Um mês depois

Na calada da noite, a casa estava mergulhada em silêncio, exceto pelo ocasional ranger da madeira que se acomodava. Eu descia as escadas, movida pela sede e pela necessidade de beber água, esperando encontrar a cozinha escura e vazia, um santuário tranquilo na madrugada. No entanto, ao me aproximar, notei uma luz fraca vinda de dentro, cortando a escuridão com um brilho suave. Meus passos se tornaram mais cautelosos, curiosidade e preocupação mesclando-se dentro de mim.

Ao entrar, me deparei com uma cena que não esperava: S/n estava sentada à mesa da cozinha, um copo de água esquecido à sua frente, o rosto iluminado pela luz suave do abajur. Ela parecia perdida em pensamentos, seu semblante marcado por uma tristeza profunda que imediatamente acendeu minha preocupação.

-- S/n? -- chamei suavemente, não querendo assustá-la.

Ela levantou o rosto, surpresa por me ver, e rapidamente tentou compor uma expressão mais neutra, mas era tarde demais. Eu já havia visto a dor em seus olhos, a marca inconfundível de um coração partido.

-- Oh, Billie, desculpe. Eu não queria acordá-la -- ela disse, sua voz trêmula, revelando a tempestade emocional que tentava esconder.

-- Não se preocupe com isso. O que aconteceu? Você está bem? -- perguntei, aproximando-me e tomando assento à sua frente. Minha preocupação por ela superava qualquer outro pensamento.

Ela suspirou, uma luta visível travada dentro dela sobre se deveria compartilhar seu fardo. Mas, sob o peso do olhar compreensivo e acolhedor que lhe ofereci, as comportas se abriram.

-- Meu namorado terminou comigo -- ela revelou, a voz embargada pela emoção. -- Por mensagem de texto. Ele disse que 'não iria dar certo'.

Minha indignação foi imediata, misturada com uma tristeza profunda por vê-la assim. Era difícil imaginar alguém causando dor a uma pessoa tão gentil e dedicada como S/n.

-- Sinto muito, S/n. Você não merece passar por isso -- disse, minha voz carregada de sinceridade.

Ela forçou um sorriso frágil, uma tentativa de mostrar força, mas seus olhos não conseguiam esconder a verdade.

-- Eu só... eu não esperava por isso. Achei que estávamos felizes -- confessou, permitindo que algumas lágrimas escapassem.

Naquele momento, esqueci todas as barreiras profissionais que nos separavam. Eu a via não apenas como a babá de Matteo, mas como uma pessoa que eu genuinamente considerava parte de nossa família. Levantei-me, contornando a mesa para lhe oferecer um abraço, um gesto de conforto e solidariedade.

-- Você vai superar isso, S/n. Você é forte, incrível e merece alguém que veja o quanto você é especial. Não deixe que isso defina seu valor -- assegurei, enquanto ela se permitia buscar consolo em meu abraço.

Ficamos assim por um momento, compartilhando uma conexão humana que transcendeu nossos papéis habituais. Eu sabia que a estrada à frente para S/n seria difícil, mas também sabia que ela não estaria sozinha. Eu estaria lá para ela, assim como ela sempre está para nós. E, de alguma forma, eu esperava que essa certeza lhe desse um pouco de conforto em meio à tempestade.

-- eu sei que não é fácil estar sentindo o que você está sentindo agora. É até bem doloroso, você fica se perguntando "o que eu fiz de errado?" Mas... A real é que você não fez nada errado, às vezes não existe nada que possamos fazer. -- digo calmamente acariciando seus cabelos

S/n olhou para mim, seus olhos refletindo a mistura de dor e alívio por ser compreendida. Ela assentiu levemente, as palavras parecendo encontrar um lugar dentro dela onde a razão ainda lutava para se fazer ouvir acima do ruído da tristeza.

-- É difícil não se culpar, sabe? -- ela murmurou, a voz ainda embargada, mas agora um pouco mais firme. -- Mas ouvir isso de você... ajuda. Realmente ajuda.

Eu mantive o contato visual, garantindo que ela sentisse a sinceridade de minhas palavras.

-- Às vezes, as coisas simplesmente não são para ser, não importa o quanto desejemos. Mas lembre-se, isso não diminui seu valor. Você é incrível, S/n. E eu... nós... estamos muito felizes por ter você conosco. Você trouxe tanta alegria e luz para nossa casa, especialmente para Matteo. Não esqueça disso.

Ela respirou fundo, como se tentasse absorver a força que eu tentava transmitir através das minhas palavras. Então, ela ofereceu um sorriso pequeno, mas genuíno, um sinal de que, talvez, ela começava a reconhecer a verdade nelas.

-- Obrigada, Billie. Significa muito para mim ouvir isso de você. Eu... Eu vou ficar bem, eu sei que vou. Só vai levar um tempo -- disse, secando as lágrimas que ainda teimosamente insistiam em cair.

-- E nós estaremos aqui para você, não importa quanto tempo leve -- assegurei, dando-lhe um último aperto reconfortante antes de me afastar. -- Agora, que tal tentarmos dormir um pouco mais? O dia vai ser longo amanhã. Será minha folga e eu vou levar você e Matteo ao parque, você precisa se distrair um pouco

Ela concordou, levantando-se da cadeira com um suspiro resignado, mas agora com uma postura um pouco mais forte. Juntas, apagamos a luz e deixamos a cozinha, subindo as escadas em silêncio, cada uma perdida em seus próprios pensamentos.

Enquanto me recolhia ao meu quarto, refleti sobre a resiliência do espírito humano, sobre a capacidade de superar a dor e encontrar força na adversidade. E, de alguma forma, eu sabia que S/n encontraria seu caminho de volta à luz, não apenas porque ela era forte, mas porque ela tinha uma família disposta a segurar sua mão em cada passo desse caminho.

New Ties (Billie/You) GpOnde histórias criam vida. Descubra agora