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Billie

Eu chego em casa exausta, a casa estava em completo silêncio, o que implica que provavelmente estão todos dormindo. Eu vou para a cozinha beber agua, na geladeira tinha mais um desenho de Mel, tinha ela, S/n e Matteo no centro da folha, e no canto, dentro de uma espécie de prédio estava eu. Eu suspiro sabendo que até os desenhos de minha pequena estão refletindo minha ausência nos últimos tempos

A água fria desce pela minha garganta, trazendo um alívio momentâneo, mas não é suficiente para apagar o peso que sinto em meu peito ao ver o desenho de Mel. A simplicidade com que ela expressa seus sentimentos me atinge profundamente. Ali, naquele papel, está a representação da minha realidade: eu sempre distante, separada deles por um abismo de compromissos e escolhas.

Guardo o desenho na porta da geladeira, prendendo-o com um ímã. Cada vez que passo por ele, sinto como se fosse um lembrete silencioso das promessas que fiz a mim mesma – e que ainda estou lutando para cumprir. É um lembrete de que preciso mudar, de que preciso encontrar um equilíbrio melhor entre minha carreira e minha vida pessoal. Não quero ser uma figura marginal na vida da minha família; quero estar no centro dela, como S/n, Matteo e Melinda estão um para o outro no desenho.

Subo as escadas devagar, tentando fazer o mínimo de ruído possível. A luz suave do corredor ilumina meu caminho até o quarto de Mel. Abro a porta de leve, apenas para espiar. Lá esta ela, dormindo tranquilamente. Abraçada a um ursinho. Logo após, eu me dirijo ao quarto de Matteo, repetindo o mesmo processo de abrir a porta de leve, e tenho a visão de Matteo com um livro ao lado da cama, provavelmente adormeceu lendo. Observo-o por um momento, sentindo uma mistura de amor e remorso. Prometo a mim mesma, mais uma vez, que farei o que for preciso para estar mais presente.

Por fim, sigo para o nosso quarto. S/n está dormindo, a luz da lua entrando pela janela e iluminando seu rosto. Parece tão pacífica. Aproximo-me devagar, sento-me ao lado dela na cama e observo seu rosto, refletindo sobre tudo que temos passado. Mesmo nos momentos mais difíceis, ela esteve lá, segurando nossa família. Eu sei que preciso fazer mais, ser mais.

Beijo sua testa suavemente, tentando não acordá-la, e sussurro um pedido de desculpas, mesmo sabendo que ela não pode me ouvir. Prometo, mais uma vez, que vou trabalhar para ser não apenas a melhor no que faço profissionalmente, mas também a melhor parceira e mãe que posso ser. Com essa promessa renovada, me deito ao seu lado, esperando que o amanhã me traga mais perto de realizar essas promessas.

Eu simplesmente não consigo dormir, a frustração não deixa. Rapidamente pego meu telefone, mandando mensagem para meu irmão avisando que não vou trabalhar essa semana, invento uma desculpa qualquer e largo o celular de lado, sem nem esperar uma resposta. A escuridão do quarto parece amplificar meus sentimentos, tornando-os mais densos e difíceis de ignorar. A frustração fervilha dentro de mim, uma mistura turbulenta de sentimentos e pensamentos que não me permitem encontrar paz. O celular, agora descartado ao lado da cama, parece um testemunho silencioso da minha decisão repentina de me afastar, de tentar encontrar algum respiro.

Deito de costas, encarando o teto que mal posso ver na penumbra, respirando fundo na tentativa de acalmar a mente. Sei que a decisão de me afastar do trabalho, mesmo que por pouco tempo, trará suas próprias consequências e desafios. Mas, no fundo, sinto que preciso desse espaço, desse tempo para mim, para nos reencontrarmos enquanto família e talvez para me reencontrar.

Fechar os olhos traz um desfile de pensamentos e preocupações, mas tento empurrá-los para longe, buscando focar no presente, no aqui e agora. A casa está silenciosa, todos dormindo, e eu desejo poder fazer o mesmo, esquecer por algumas horas as complicações da vida e simplesmente descansar. Mas o sono parece tão inatingível quanto a solução para os meus problemas.

Com um suspiro, decido que ficar deitada não vai resolver nada. Levanto-me silenciosamente, procurando não perturbar a paz de quem conseguiu encontrar o sono. Caminho até a janela, abrindo-a um pouco para deixar entrar o ar fresco da noite. A brisa suave parece trazer um pouco de alívio, um lembrete de que o mundo continua a girar, independentemente das nossas crises pessoais.

Talvez o que eu precise seja exatamente isso: um momento para respirar, para me afastar e olhar as coisas de uma perspectiva diferente. Talvez, com um pouco de espaço e tempo, eu possa encontrar uma maneira de equilibrar as exigências da minha vida profissional com as necessidades da minha família e as minhas próprias.

Com essa reflexão, decido que amanhã será um novo dia, um começo. Talvez não tenha todas as respostas ou soluções imediatas, mas estou disposta a tentar, a fazer o necessário para reconstruir e fortalecer os laços que parecem ter se enfraquecido. Com essa determinação renovada, fecho a janela e tento mais uma vez encontrar o caminho para o sono, esperando que a decisão de hoje me leve a um amanhã mais promissor.

-- não vi você chegar... -- a voz de S/n se faz presente. Eu suspiro me aproximando e abraçando seu corpo, deixando um beijo em sua testa

-- me desculpa... Estou tão cansada de ter que me desculpar o tempo todo com vocês... -- admito sentindo ela me envolvendo em seus braços

-- Eu sei, amor -- S/n responde suavemente, sua voz transmitindo uma compreensão que me aquece por dentro. -- E nós sabemos o quanto você se esforça. Só queremos mais tempo com você. A gente sente sua falta, Billie. A casa sente sua falta.

O abraço dela é um refúgio, um porto seguro no meio da tempestade que parece ser minha vida ultimamente. Encosto minha cabeça em seu ombro, permitindo-me sentir, por um momento, apenas o conforto da sua presença, o calor do seu corpo contra o meu.

-- Eu prometo tentar fazer melhor -- digo, sentindo a urgência e a sinceridade de minhas próprias palavras. -- Eu não quero continuar assim. Não quero que nossa vida seja uma série de desculpas e ausências. Eu quero estar aqui, com vocês, de verdade.

S/n se afasta um pouco, apenas o suficiente para me olhar nos olhos. Vejo amor ali, e também uma ponta de tristeza - um reflexo dos últimos tempos.

-- Então vamos fazer isso juntas -- ela diz, e há uma firmeza em sua voz que me inspira. -- Vamos encontrar uma maneira de fazer tudo funcionar. Para todos nós.

Assinto, sentindo uma onda de gratidão por sua compreensão, por seu apoio incondicional.

-- Vamos -- concordo, e esse simples acordo parece selar um compromisso entre nós, uma promessa de tentativas e esforços renovados para o futuro.

Por um momento, permito-me acreditar que, apesar dos desafios, podemos encontrar um caminho que nos permita estar juntas, de verdade, sem sacrificar o que cada uma de nós valoriza. Esse momento, esse abraço, torna-se um símbolo de nossa resiliência e amor, um lembrete de que, enquanto estivermos juntas, sempre haverá esperança.

New Ties (Billie/You) GpOnde histórias criam vida. Descubra agora