Cap 31: Seguro

64 17 8
                                    

Mew fitou os presentes no salão do castelo, sentindo-se feliz e orgulhoso. Os sangue-puro estavam presentes em peso para celebrar a notícia da gravidez, do senhor de Cambrun e o breve
nascimento dos herdeiros do clã. Os poucos sangue-puro que se recusaram a comparecer eram em ínfimo número, e estavam francamente isolados, pois após o que se passara na caverna e os esclarecimentos vindos da própria boca de Gulf, os membros do clã o haviam aceitado como o legítimo senhor do castelo. Mais que isso: o fato de que tivesse engravidado tão rapidamente fora
interpretado como uma prova de que Mew estava coberto de razão em casar-se com um noivo que não fizesse parte do clã,
com o intuito de assegurar o futuro dos Suppasits.

  Ele sorriu ao fitar os irmãos de Gulf no meio do salão, todos os três circundados por mulheres sangue-puro.Com certeza ne-
nhum deles tinha planos de casamento em vista, pois os Kanawuts tinham regras estritas de matrimônio, mas era possível que em breve alguns filhos bastardos se somassem aos Suppasits. O fundamental era que os Kanawut aceitavam seu casamento com Gulf, talvez por ter sido apresentado como um fato consumado. E agora era preciso também levar em conta que ele estava grávido. De qualquer maneira, as duas famílias concordavam em deixar pendências de lado e unir as linhas de sangue, num acordo tranqüilo.
cordial e feliz.

  Tenho de parar de rir e dar vivas o tempo todo, senão acabarão pensando que bebi vinho demais, refletiu Mew. Por outro lado
como esconder a imensa alegria que sentia? Seu sonho de ser pai se tornava realidade. Mesmo que a união de sangue com Gulf ainda não houvesse ocorrido, seu contentamento era enorme.

  — Começo a pensar que está chegando a hora de também me casar, meu caro. Creio que estou envelhecendo, pois achei um fio de cabelo branco em minha cabeça

  — Mas ainda tem um longo futuro pela frente... — Mew sorriu. — E eu lhe garanto que é mais satisfatório ter um companheiro com quem dividir a vida do que uma sucessão de muheres diferentes. — O senhor de Cambrun parou de sorrir de
repente e adquiriu uma expressão séria. — Deve escolher sua eleita com cuidado, pois se não se unir a uma mulher sangue-puro certamente viverá muito mais do que ela. Você não envelhece em ritmo normal como eu, e deverá seguir neste mundo por muito tempo. Lembra-se da dor de meu pai quando minha mãe faleceu? Por um momento tive receio de que ele fosse viver ainda mais do que eu e tivesse de suportar também a dor da morte do filho.

  — Não sei, Mew... Sempre acreditei ser totalmente sangue-puro, mas começo a ter dúvidas e é possível que alguma geração anterior me tenha provido com sangue de alguém de fora do clã. Comecei a averiguar minha ascendência genealógica, mas ainda necessito aprofundar a pesquisa para me certificar.

  — A questão tem muita importância para voce?

  — Não diria que me faz perder o sono — replicou Thorn, gracejando. — Necessito saber disso por uma única razão: caso
eu não viva um longo tempo, não quero mais desperdiçar os anos de minha vida sem me unir a alguém.

  — De um jeito ou de outro, você terá uma vida mais longa que a minha, — Mew notou que Thorn agora fitava Grace, e parecia gostar da maneira desinibida com que a irmã de Gulf conversava e ria com os outros convidados. — Ela tem apenas dezesseis anos, e possui uma longa vida pela frente — disse Mew, piscando.

  — Eu sei... — Thorn sorriu. — Vou oferecer-lhe um pouco de cidra — ele comentou antes de partir.

  Hora de ir ter com meu esposo, pensou Mew ao se ver sozinho e reconhecendo que gostaria de ter uma celebração mais
intima com Gulf. No entanto, Saint se aproximou antes que ele pudesse partir. O irmão de Gulf sorria de forma amigável, e sua expressão mostrava que definitivamente aceitara a natureza do cunhado.

  — Estou feliz com o rumo que as coisas tomaram — Saint foi logo dizendo ao chegar. — Meu irmão me explicou que você nunca se alimenta de sangue humano, a não ser para se curar de um ferimento muito profundo ou de uma enfermidade fatal.

  — Ele diz a verdade. Mesmo ferido, também basta que me alimente do sangue de animais para me recuperar. E como você mesmo presenciou, o sangue que eu necessitava me foi oferecido por meus cavaleiros. É assim que agimos: aceitamos quando nos oferecem o líquido vital para nos curar de um ferimento ou en-
fermidade, mas jamais atacamos seres humanos para satisfazer nosso instinto, a não ser que sejam inimigos no campo de batalha, ou ladrões como aqueles que atacaram Gulf. O clã dos Suppasits também tem leis e regras de comportamento, e esta é uma
delas.Se um membro do clã transgredir essa regra, será punido de modo terrível e sem complacência.

  — Mas a sede de beber sangue continua existindo em vocês, não é?

  — Sim e não, meu caro — Mew apreciava ter a oportunidade de esclarecer tudo para o cunhado de uma vez por todas. — Nós
precisamos ingerir sangue, mas comer carne crua nos basta. Quero que saiba que Gulf não corre o menor perigo convivendo conosco; nem ele nem ninguém de sua famflia.

Cavalheiro da Noite Onde histórias criam vida. Descubra agora