Cap 3: Sombras

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Pouco depois a carruagem saiu da estrada e parou numa clareira ladeada por árvores altas. A porta se abriu, e um dos condutores estendeu a mão para ajudá-lo a descer. Gulf aceitou a cortesia, porém sentiu desconforto ao encarar seus acompanhantes. Saint contratará seis cavalheiros para escolta-los, mas eles eram rudes e pareciam mais interessados no pagamento pelo serviço do que em qualquer outra coisa. Saint os escolherá porque sabiam usar a espada com destreza, e certamente estavam habilitados a defendê-lo em caso de necessidade; mas Gulf preferia estar na companhia de cavalheiros que ele já conhecesse e fosse leais a família, em vez de um grupo de desconhecidos contratados para a viagem.

  De qualquer forma, ao menos eles eram eficientes: em pouco tempo já haviam acendido uma fogueira começavam a assar a carne. Como não puderam chegar a uma hospedaria teriam de passar a noite ao ar livre, algo que Gulf não apreciava, mas não tinha alternativa. Léo se ocupava em estender os pesados cobertores de pele sobre a relva, não muito distante da fogueira, pois necessitavam do calor para se aquecer do frio da madrugada. Gulf não estava acostumado a passar noites ao ar livre e nem a ter de preparar o próprio leito, mas, afinal, isso trazia um pouco de aventura a viagem.

  — Seu irmão não devia ter pago nossa escolta no início da viagem, e sim quando voltassemos — comentou Léo quando aproximou-se para auxiliá-lo com o preparo das cobertas. — Se não houvessem recebidos o pagamento, certamente nos tratariam como reis e não seríamos obrigados a fazer nossas camas agora.

   Gulf sorriu, sentindo o conforto ao descobrir que Léo também não apreciava a maneira como os tratavam.

— Possivelmente pensam que preparar as cobertas não é tarefa para eles. —Gulf opinou.

  — O fato é que estão sendo pagos para cuidar de nós. Se eu não fosse um homem de respeito, juro que colocaria alfinetes na cama deles para que se espetassem ao deitar.

  Gulf riu, imaginando o que aconteceria em tal situação.

— Não compreendo porque meu irmão contratou o serviço de estranhos para nos levarem ao castelo de Mild.

  — Saint necessitava de muitas mãos para trabalhar em Dunsmuir. Estamos na época da colheita, se o trabalho não for bem feito agora enfrentaremos problemas de abastecimento no inverno.

  — Tem razão, mas ainda assim eu não concordo com isso.

  — Algum desses homens foi insolente ou o tratou mal?

— Não! — Gulf apreçou-se a tranquilizá-lo. — É que nunca sai de Dunsmuir, e preferia ser escoltado por cavaleiros conhecidos.

— Em breve chegaremos a casa de seu primo e estaremos entre familiares outra vez.

  Depois de ajudar Léo a terminar de estender os cobertores Gulf Voltou-se para a fogueira lembrando-se de Grace, sua irmã caçula, que tinha espírito aventureiro e jamais se importaria em estar na companhia de estranhos ou dormir ao ar livre: ela teria prazer em viver tais aventuras. Mas cada um era como era, e de qualquer forma sua família tinha uma linhagem de homens e mulheres corajosos e prontos para enfrentar o mundo. Com um sorriso nos lábios, Gulf beijou o medalhão que sua avó lhe dera a muitos anos e que sempre trazia pendurado ao pescoço.

  Fitando as chamas da fogueira, ele refletiu sobre os rumos que sua vida tomava. Saint tinha esperanças de que a viagem o fizesse encontrar um marido que trouxesse benefícios ao clãs dos kanawut; mas o que é que ele queria? Apesar das fantasias a respeito de encontrar o homem de sua vida, o Gulf não era tolo a ponto de pensar que o homem de seus sonhos fosse aparecer de repente. Ele desejava um casamento por amor, e com paixão de ambas as partes, E isso não era fácil de conseguir. Talvez Saint não o conseguisse compreender, mas seria preferível permanecer sozinho a se unir a um homem que o prezasse pelo dote que tinha a oferecer e pelos filhos que geraria para continuar a linhagem.

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