—Tem certeza de que deseja casar?
Mew não parou de pentear o cabelo, mas franziu a sobrancelha.
— É o que desejo. – Virou-se para Thorn. — Pensei que concordasse comigo.
— Não mudei de opinião a respeito de seu plano, meu Lorde.
— E mudou de opinião a respeito de Gulf?
— Sim e não. Gosto dele. Tentou escapar, mas creio que não nos receia mais. Entretanto, tenho a sensação de que há algo sobre esse jovem que ainda não sabemos. Por acaso notou alguma coisa estranha em seu comportamento?
— Fora o fato de aceitar desposar um lorde que não suporta a luz do sol e cujos cavalheiros habitam cavernas subterrâneas?
— Sim... — Thorn riu com a ironia do primo.
— A que tipo de estranheza se refere?
— Ele usa as unhas como se fossem garras de felino, e às vezes se movimenta como um deles. Você não o viu correndo pela floresta, mas era incrível o desembaraço com o qual se movia evitava os obstáculos como se enxergasse no escuro. Nós nos aproximamos sem ruído, mas ele notou nossa presença como se tivesse um sexto sentido e farejar o perigo no ar.
E ronrona como um gato, pensou Mew.
— O nome Kanawut me lembra algo, mas não sei dizer o que é — continuou Thorn. — Receio que ainda necessite algum tempo para descobrir.
— Pede que eu espere para me casar?
— Talvez seja melhor se me der tempo para averiguar a verdade sobre o clã dos Kanawut, meu Lorde.
— Mas não quero esperar mais.
— Você o deseja, não é?
— Sim, e não posso esperar mais tempo para tê-lo.
— E se porventura houver algo de estranho na linhagem dos Kanawut?
— Como em nosso próprio clã? Não acredito. Gulf é como os London, come a mesma comida que eles, não se incomoda com a luz do sol e faz tudo como nossos vassalos. Além disso, obviamente os Kanawuts não se escondem no castelo Dunsmuir, como nós fazemos em Cambrum.
— De qualquer maneira, ainda deseja que eu tente saber mais a respeito deles?
Mew se virou e fitou o próprio rosto no espelho. Preferia que o próprio Gulf lhe contasse se havia algo de estranho ou diferente a respeito dos Kanawuts. Entretanto, era preciso conhecer tudo a respeito do clã do futuro marido, para saber como lidar com sua família quando há encontrasse.
— Prossiga com as averiguações, pois não desejo ter surpresas mais tarde.
— Está bem, meu Lorde. Mas já possuímos informações importantes. Minhas indagações a respeito de seu primo Mild revelaram que ele gerou quatro filhos em quatro anos de casamento.
— Um herdeiro a cada ano? — Mew mostrou-se surpreso. Ele desejava uma família numerosa, mas tinha consciência de que engravidar com tanta frequência podia causar danos à saúde.
— Não a cada ano. Seu primo teve dois pares de gêmeos, primeiro dois meninos e depois duas meninas. De qualquer maneira, isso assegura a fertilidade da Família Kanawut.
Mew desviou o olhar, pensando que seria maravilhoso tornar-se pai de muitos filhos de Gulf. Voltou a se fitar no espelho para conferir se estava dignamente apresentável, como cabia um lorde no dia do seu casamento.
— Não se preocupe — Thorn pareceu adivinhar-lhe os pensamentos. — Tenho certeza de que seu esposo ficará orgulhoso ao vê-lo. Seguimos para o salão principal agora?
Mew sorriu e o acompanhou, mas ainda perguntou algo enquanto desciam as escadas que levavam as partes não privadas do Castelo.
— E quanto aos sangue-puro? Como estão reagindo as minhas bodas?
— Nenhum deles se sente muito inclinado a celebrar a ocasião. Há os que compreendem seus motivos, mas creem que talvez tudo pudesse se arrumar com o tempo. Alguns não se importam e outros odeiam vê-lo desposar um mortal, apesar de admitirem que não lhes cabe decidir a respeito. Entretanto, há também os que pensam como San e Art e se opõe ao casamento. É difícil saber quem fala de fato o que pensa, pois todos sabem que apoio sua decisão e evitam ser totalmente sinceros comigo.
Quando se aproximaram do enorme arco que dava a entrada ao salão do Castelo, Mew parou um momento e observou as pessoas agrupadas no imenso aposentado com as bandeiras e armas dos Suppasits. Os Cavaleiros e damas se dividiam em grupos provavelmente em acordo com as diferentes opiniões que possuíam sobre o casamento, e um murmúrio incessante acentuava tensão que impregnava o ar. A julgar pelo que via no momento, Mew dividiu o clã em vez de unilo, mas tinha a esperança de que mais tarde os conflito se resolvessem. Respirou fundo e adentrou o salão com Thorn a seu lado, meneando a cabeça de modo solene a todos que os cumprimentavam e dirigiam-se em linha reta em direção ao seu primo James Suppasit, o padre que celebraria a cerimônia e um homem de sangue misto como ele.
— Uma tempestade está se formando, Mew — disse James após cumprimentá-lo.
— É impossível provocar mudanças sem criar insatisfações. Meu pai enfrentou o mesmo problema ao casar com uma mulher fora do clã.
— Mas penso que a crise atual é maior. San nunca apreciou o fato de que um lorde de sangue misto fosse o chefe do clã, e sempre almejou a posição do Senhor de Cambrum. Quanto a Art, não aceita esse matrimônio com um homem que não é sangue puro.
— E quanto a você, meu primo? Qual a sua posição?
— Considero San e Art orgulhosos e vaidosos cegos para a verdade. Reconheço que é difícil abdicar de alguns traços herdados dos nossos ancestrais, Mas compreendo que você fez almejando a continuidade do clã.
Neste momento os murmúrios silenciaram, pois Gulf adentrava o salão. Ele estava lindamente e Mew o fitou com satisfação antes de continuar a conversa com o primo James.
— Não faço apenas para salvar o clã.
James sorriu, e Mew se virou para Gulf. Vestido em um terno branco feito sobre medida Gulf estava lindamente perfeito. Ele era um homem lindo, e apesar de ser tão diferente em termos de sangue e herança ancestral, Mew não tinha dúvidas de que formavam um par perfeito.
O belo Gulf caminhava pelo salão com os olhos fixos no noivo. Estava tenso e nervoso, pensou Mew, mas é natural.
Gulf aceitou a mão que Mew lhe estendeu, e notou Sana que se aproximará para prostar-se ao lado deles, como se os quisesse proteger. Gulf também sentiu a tensão no ar, e gostaria que membros de sua família estivessem presentes a cerimônia; mas se sentir orgulhoso para enfrentar a situação sozinho, e reconhecia que não seria justo envolver seus parentes no conflito. Ele não se importava de correr riscos para permanecer ao lado de Mew, mas não desejava expor sua família. Quando os problemas se resolvessem, ele os convidaria para visitá-los em Cambrun e celebrar o casamento.
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Cavalheiro da Noite
Fiksi PenggemarPrólogo Dois homens unidos por Laços de Sangue e por uma maldição que assombra seu clã, estão condenados a uma vida sombria e submetidos a desejos estranhos e incontroláveis. Somente o casamento com homens que não compartilham a natureza desses...