Gulf soltou um gemido de dor quando San o empurrou e fez sentar sobre uma das pedras da caverna. Ele se encontrava em uma espécie de salão principal subterrâneo, e a julgar pelo grande número de presentes, todos os sangue puro de Cambrun estavam reunidos ali, e o fitavam.
Gulf observou aquelas faces pálidas, tentando desvendar o que pensavam. Alguns sustentavam a mesma expressão hostil que ele sempre vira em San e Art, outros pareciam mais amigáveis, mas é impossível saber se havia quem apoiasse Mew entre eles.
— Acha que ele virá buscá-lo? — Perguntou um homem segurando uma bacia com água na qual San lavava as mãos dando a entender que se sentia sujo por tê-lo tocado.
— Com certeza virá correndo, a julgar pela maneira como nosso estúpido Lorde já corria atrás deste prostituto antes mesmo de casarem.
Irado, Golf cerrou os punho, lutando contra o impulso de levantar e acertar um golpe no desprezível San. Mas ele sabia que arriscaria a vida se o fizesse, apesar de nada garantir que ele fosse deixá-lo viver mesmo depois de Mew aparecer.
— Pena que a Art não esteja aqui para apreciar isso... — San comentou. — Ele ansiava pelo momento em que destruiríamos este homem infame que se atreveu a se tornar o senhor de Cambrun. Custa acreditar que Mew tenha tido força para vencer Art, mas pagará por tê-lo assassinado.
— Mew não assassino Art! Ele teria nos matado caso Mew não nos defendesse. Você deseja trair o senhor de Cambrun para tomar seu lugar, pelo menos tenha coragem de não usar mentiras para fazê-lo.
San ergueu o braço para acertar-lhe um golpe, mas antes que o fizesse uma mulher alta e de mais idade se colocou entre os dois, oferecendo uma taça de cidra a Gulf, como se não percebesse que impediu o ataque. Entretanto, o amável sorriso que a senhora exibia ao lhe passar a taça demonstrava que ela sabia muito bem o que fazia.
— Agnes!. Este desgraçado não é um hóspede de honra!
— Mas também não é um criminoso! É um Cavalheiro bem nascido, irmão de um Lorde, e merece ser tratado com cortesia.
— Um cavalheiro mortal não vale nada. — San não escondia seu desprezo.
Gulf sorveu um gole de cidra. Concluirá que San o provocava intencionalmente, buscando fazê-lo replicar e atacá-lo com palavras. Pretendia criar pretexto para incriminá-lo. Seu jogo estava claro, mas pelo visto os presentes nada percebiam.
Acreditava só que seria tão fácil? Não considerava que teria de enfrentar também Thorn e Raibeart, assim como os outros membros do clã que defendiam os casamentos híbridos? Sem contar que os London também se manteriam fiéis a Mew. Sam causaria uma guerra no interior do clã, e, a julgar pela natureza especial dos Suppasits, seria uma guerra longa, brutal e sangrenta.— Em que está pensando? Que será salvo por seu Lorde Galante? — San interrompeu suas conjecturas.
— Não — replicou Gulf, controlando-se para não dar vazão a ira. — Eu me perguntava por que você tudo faz para destruir o clã que afirma querer salvar.
— Não diga tolices!
— Não são tolices — continuou Gulf, percebendo que um sangue puro se aproximava e se postava atrás dele, não como se o ameaçasse, mas sim num gesto de solidariedade. — Sei que não pretende deixar que Mew e eu escapemos com vida, mas acredita que vai conseguir ocupar o trono de Cambrum sem problemas? Nem todos os membros do clã estão insatisfeitos com o senhor de Cambrun. Meu marido tem sangue misto, pois sua mãe não era sangue puro, mas Mew segue sendo filho e Herdeiro do Senhor de Cambrun que o precedeu. Além disso, os Cavalheiros de minha família também não permitirão que minha morte permaneça impune. E não esqueça que Ronaldo primo de Mew, é aliado de meu marido. Você afirma desejar o bem dos sangue puro, mas só almeja poder para si próprio.
Ao calar-se, Gulf notou que outro Cavaleiro se colocava atrás dele; então teve certeza de que Mew tinha aliados nas cavernas. Melhor ainda, suas palavras pareciam ter causado efeito, pois ele notou que agora alguns sangue-puros conversavam entre si em voz baixa, ou o fitavam com ar interrogativo.
— Não teremos mortais ou membros do clã que possuem sangue híbridos nas veias.
— Os Suppasits descendentes de mortais por parte de pai ou mãe continuam sendo membros legítimos do clã.
— O pai de Mew sabia que ia macular o sangue do Herdeiro do Trono ao desposar uma esposa mortal. Agora seu filho pretende seguir o exemplo infame do pai. Basta! Se Mew triunfar, em breve todos estaremos contraindo matrimônio com noivas e noivos de fora da família. Seria melhor nos unirmos a porcos do que concordar com tal plano indigno.
— Porque se considera superior a membros de outros clãs? Reconheço que os Suppasits ostentam grande beleza física, vivem mais de um século e se curam de ferimentos num passe de mágica. Não esqueça que os Suppasits
também podem morrer, e será este o destino do clã se você insistir em guerra contra todos aqueles que não sejam completamente sangue puro.— Somos numerosos e mataremos quem nos ousarem enfrentar.
— Os sangue-puros são numerosos, mas há algo que não possuem: a capacidade de se reproduzir na mesma velocidade de quem chama de mortais. Podem matar quem não for sangue-puro, mas outros nasceram e lutaram para vingar os parentes assassinados. No final, vocês serão vencidos por não poderem repor suas perdas tal como fazem os de fora.
As palavras de Gulf ainda ecoavam pela caverna quando San deu outro passo adiante para atacá-lo, mas também os cavaleiros atrás de Gulf se aproximaram dele para protegê-lo. Porém, o que quer que fosse suceder a seguir foi interrompido pelo ruído de passos se aproximando.
— Acredito que meu galante salvador está chegando — disse Gulf com ironia, a ludindo a maneira pela qual San se referia a Mew. E tomara que tenha um plano para nos livrar dessa situação trágica, que poderá significar nossa morte, pensou consigo mesmo antes que todos se virassem para o lado da escura caverna de onde provinha os ruídos.
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Cavalheiro da Noite
FanficPrólogo Dois homens unidos por Laços de Sangue e por uma maldição que assombra seu clã, estão condenados a uma vida sombria e submetidos a desejos estranhos e incontroláveis. Somente o casamento com homens que não compartilham a natureza desses...