Cap 7: Disputa

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    O salão principal era enorme e ladeado por imensas lareiras a cada lado. As tochas nas paredes de pedra iluminavam o ambiente, criando mais uma vez a impressão de que era noite. Uma mesa imensa dominava o ambiente e Lorde Suppasit imediatamente se levantou para recebê-lo. Fazendo um gesto para que se aproximasse e sentasse na cadeira a seu lado, no centro da mesa. Mew não parecia em nada um homem louco: muito pelo contrário. Seus traços masculinos eram atraentes o suficiente para encantar qualquer homem, e seus olhos diferentes como os o de seu primo Thorn. A mesa estava servida com carnes, queijos, pão e frutas frescas. A solicitação para que se sentasse a seu lado o incomodou um pouco, pois o fazia lembrar do que ele comentará na noite passada. Afinal, a cadeira do lado do senhor do castelo era destinado ao marido do lorde, e Gulf pensou que devia discutir a questão o quanto antes, apesar de não saber como abordar o assunto.

   Gulf se serviu de frutas, enquanto lorde Mew Suppasit sorria de maneira simpática. Outras pessoas compartilhavam a mesa, e seus traços eram semelhantes aos do lorde, indicando que faziam parte da mesma família. Não havia muita gente, talvez seis ou sete pessoas, e todos o fitavam com curiosidade, o que o deixava um pouco perturbado. Alguns serviçais entravam e saíam do salão trazendo mais comida ou vinho, e Gulf notou que, ao contrário do que ocorria em sua própria família, os vassalos tinham tipo físico bastante diferente de seu senhores.

  — Espero que tenha dormido bem — disse Mew.

   — Foi uma boa noite de sono — respondeu Gulf — , embora eu tenha dormido mais do que de costume — acrescentou-o, lembrando que a manhã já terminará.

   Antes que Mew pudesse continuar a conversa, contudo, uma pesada porta de madeira se abriu e duas elegantes pessoas apareceram: um homem vigoroso de ombros fortes, acompanhado de um outro homem alto e esguio. Ambos caminharam resolutamente em direção à mesa do lorde com os olhos fixos em Gulf. Quando se aproximaram, ele notou que tinham a pele ainda mais alva que a de Mew e Thorn. Seus traços físicos eram semelhantes aos dos Suppasits, mas seus olhos eram escuros e tinham algo estranho, que provocou um arrepio em Gulf.

  — San, Art — Mew os cumprimentou com surpresa. — A que devemos a honra de sua presença? Nunca se juntam a nós no salão principal.

  — Viemos conhecer seu convidado — explicou San.

   Mew os apresentou a Gulf. O jovem os cumprimentou com calma e polidez, mas Mew percebeu que ele parecia tenso, como se algo o ameaçasse. Mas como culpá-lo por isso? Também ele sentia a tensão no ar, pois os recém-chegados não o fitavam com amabilidade. San era o líder dos sangue-puro que habitavam as cavernas no subterrâneos do Castelo, e mais de uma vez, nos últimos meses, deixará claro que se opunha a seus planos de contrair matrimônio como mortal. Art começou a acariciar a nuca de Mew, fazendo-o perceber que pretendia jogar um jogo de sedução. Mew teve de resistir ao impulso de exercer sua autoridade de senhor do clã e ordenar que voltassem as cavernas que habitavam junto com os outros sangue-puro. A rebelião começava a nascer nas cavernas e insultar seus líderes só ia piorar a situação.

  — Comerão conosco? — Perguntou ele.

  — Não apreciamos tais alimentos —virou-se para Thorn, sentada à direita de Mew. — Me admira que você compartilhe desta refeição.

  — Tenho um paladar diversificado — Thorn serviu-se de uma grossa fatia de pão.

  — Eu também... — Art intensificou as carícias na nuca de Mew.

  Surpreso, Gulf percebeu que se incomodava com a maneira sensual de Art tocar Mew, e mais ainda pelo fato de ele não se opor. Incomodado, concluiu que o ódio mencionará casamento por brincadeira. Tal pensamento o irritou.

  — Pare com isso Art! — Mew afastou de repente a mão do belo e esguio homem. —  Não estou me divertindo.

  — Divertido não é o que eu tinha em mente, querido...

   Mew ignorou-o e virou-se para Sam.

— Como pode ver, o senhor Gulf já se recuperou dos maus bocados que passou.

— Suponho que esteja pronto para seguir viagem — comentou Sam com um sorriso forçado.

  Gulf alarmou-se a observar aquele sorriso; não tanto por notar que era fingido, mas por revelar que seus dentes eram pontiagudos e afiados como os de Thorn. Pelo visto, tais dentes não era o trabalho de um dentista artesão, e sim um traço da família. O mais estranho era que lembravam os dentes de uma fera da floresta, um lobo talvez. De modo instintivo, Gulf deslizou as unhas sobre a madeira da mesa para se certificar que seguiam longas e afiadas.

   Mew notou o gesto de Gulf, e admitiu que suas unhas não pareciam ter sofrido com o que lhe sucederá na noite passada. Mew percebeu que também Thorn parecia interessado nas unhas do cavalheiro. Terei de falar com meu primo a respeito dele, pensou, sabendo que Thorn era grande conhecedor dos clãs que habitavam a Escócia e sabia traçar descendências genealógicas como ninguém. Entretanto, no momento havia um assunto mais importante a tratar.

  — Este cavalheiro permanecerá em Cambrun — afirmou Mew em tom resoluto, tomando a mão de Gulf antes de fitar Sam e Art. — Ele viajava para visitar o primo e conhecer possíveis pretendentes para se casar. Contudo, decidi que o cavalheiro já não mais necessita procurar matrimônio.

  O contato da mão do lorde produziu um calor e excitação que percorreram o braço de Gulf até atingi-lo na face e fazê-lo corar. Mas ele não deixou de perceber que se envolvia numa luta de poder entre membros de um clã desconhecido, e isso o preocupou e decepcionou.

  — Pretende realmente casar-se com alguém de fora e manchar a pureza do nosso sangue? — A voz de Sam era fria e desafiadora.

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