— Você disse que queria um noivo.
Mew fitou o primo sentado ao pé do imenso leito coberto com peles felpudas. Thorn sorria, e suas roupas escuras ressaltavam a palidez da mão repousando sobre as cobertas. Ele era um homem bonito, mas nariz afunilado e as roupas negras o faziam parecer um corvo.
— Mas não era necessário sequestrarem um noivo para mim.
— Não foi um sequestro. Nós o salvamos.
— O salvaram de qual perigo?
Mew fitou o jovem que o primo trouxera para seu quarto, e que agora jazia desacordado sobre as peles do leito, parecendo um boneco quebrado. Bastante jovem, ele concluiu estudando os traços finos do rosto de Gulf. E lindo, acrescentou em pensamentos. Sua face levemente oval exibia uma pele suave, por sobrancelhas grossas e castanhas, que contrastavam com os cílios longos e escuros. Os lábios carnudos e vermelhos eram tentadores, e seu corpo perfeito. As pernas eram longas. Aquelas formas perfeitas seriam capazes de despertar os sentidos de qualquer homem com o sangue nas veias. Sem se conter, Mew se aproximou e tocou os cabelos escuros de Gulf.
— Quem fez isso? — Perguntou Mew, notando as marcas no pescoço de Gulf e tocando-as de leve para se certificar de que a pele não fora perfurada.
— Não importa quem fez, pois interrompi a tempo. Foi só o desejo momentâneo da luxúria do sangue que alguém não conseguiu evitar, mas eu não permitir que se consumasse.
— Conte-me o que aconteceu. — Mew estava desconfiado, mas não queria acusar o primo de mentir.
— Eu o vi correndo montanha acima e me surpreendi com a rapidez e facilidade com que se movimentava entre as árvores. Ele parou um pouco depois de onde a floresta termina, e um bando de homens não tardou a apareceu. Sua respiração ofegante demonstrava que eles o haviam perseguido por um longo trecho. Então, os outros dos nossos perceberam o que se passava e começaram a se aproximar.
— Os homens o estavam ameaçando? — Quis saber Mew, inclinando-se sobre o corpo inerte de Gulf e desabotoando suas botas de fino couro.
— Sem dúvida alguma. Eles se aproximaram do jovem devagar, e ele se defendeu atirando pedras; Mas de repente virou o rosto para me fitar, como se já houvesse percebido nossa presença. Nesse momento os nossos o ultrapassaram e se atiraram sobre os homens. Eles eram ladrões assassinos e o teriam matado se não houvessemos chegado. Mas nosso clã os derrotou em segundos.
— Ele presenciou o ataque?
— Muito pouco, creio, mas o suficiente para desmaiar. Não sei até que ponto ele deve ter consciência do que ocorria.
— Aqueles homens mereciam o destino que encontraram?
— Sim. Seguimos os ratros montanha abaixo quando tudo terminou, encontramos os cadáveres de suas vítimas, que haviam sido brutalmente assassinadas. Ao lado dos corpos uma pilha de armas e roupas saqueadas pelos ladrões. Eu mesmo carreguei o jovem o tempo todo, e depois montanha acima, até o nosso Castelo. — Thorn sorriu. —Ele não pesa muito.
— Suponho que não — Mew deu um passo para trás e fitou Gulf, ainda desacordado. — A questão é o que faremos agora.
— Case-se com ele, Mew. Você queria um noivo mortal, não é? Este jovem é bonito, e pela maneira como o vi se defender, coragem e resolução não lhe faltam. De qualquer maneira, não seria seguro deixá-lo partir depois do que pode ter presenciado.
— Mas não posso casar-me com o primeiro homem que cruza nossos portões. O que sabemos a seu respeito, talvez já seja casado ou, quem sabe, não me aceitaria.
— Então não lhe dê a oportunidade de escolher. Afinal, ele não tinha muita escolha quando o encontramos, e estaria morto agora se não o houvessemos socorrido.
Pensativo, Mew nada respondeu.
— Estou certo de que ele me viu — comentou Thorn — mas não sei dizer o que mais poderá ter visto. Creio que se trate de um cavalheiro de sangue Nobre, e sua reputação estará arruinada depois de passar uma noite em nosso Castelo. Você sabe que não podemos lhe oferecer um cavalheiro de companhia para conduzi-lo na viagem que fazia para onde quer que fosse.
Trata-se de um jovem bem nascido. Suas roupas demonstravam que pertencia a um clã abastado, avaliou o Mew. A pele suave colaborava com tal impressão, tanto quanto as unhas longas e bem cuidadas. Não havia aliança em sua mão, portanto devia ser solteiro. O fato de ter sido trazido para Cambrum mancharia sua reputação, e poderiam insinuar que ele perderá a castidade depois de passar a noite ali. Os rumores sobre seu castelo já eram ruins, e ele não desejava que piorassem ainda mais.
Mew viu-se obrigado a concordar com Thorn: desposá-lo resolveria vários problemas, pois manteria a reputação do jovem intacta e ao mesmo tempo lhe proveria o noivo mortal que ele desejava. Caso ele se tornasse parte do clã, então teria certeza de que ele não contaria o que talvez tivesse visto antes de ser capturado.
As vantagens de me casar com ele são inúmeras, mas não haverá também desvantagens, as quais não percebo neste momento?
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Cavalheiro da Noite
Hayran KurguPrólogo Dois homens unidos por Laços de Sangue e por uma maldição que assombra seu clã, estão condenados a uma vida sombria e submetidos a desejos estranhos e incontroláveis. Somente o casamento com homens que não compartilham a natureza desses...