Cap 15: Tolo

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Ambos se ajoelharam diante do padre, e Gulf reconheceu em James os mesmos traços físicos dos Suppasits. A situação não é tão ruim se um deles pode ser padre, pensou consigo mesmo. A cerimônia se iniciou, e depois que os noivos fizeram os votos de eterna aliança, Mew o beijou com suavidade nos lábios, levantando um murmúrio de felicitações entre os convidados. Não era uma reação efusiva ao extremo, mas ao menos demonstrava que o clã não estava inteiramente contra o matrimônio, ao menos não formava um bloco único contra a união.

   Uma longa fila se formou para os comprimentos quando os noivos se ergueram. A gente de Sana, os London, estavam genuinamente felizes e os cumprimentavam com sorrisos e votos de felicidade. Quanto aos puro-sangue, alguns exibiam sorrisos enquanto os outros não escondiam que os cumprimentavam apenas por polidez e obrigação. O grupo que acompanhava San e  Art parecia ser o mais contrariado: recusaram-se a erguer as taças quando Thorn propôs um brinde aos recém casados.

   — Talvez eu devesse lhes ordenar que saiam — Mew sussurrou, pouco depois de abaixarem as taças, apontando para o grupo liderado por San e Art, que se distanciará sem fazer esforço para esconder a insatisfação.

   Ao notar que Mew estava tenso e zangado, Gulf apertou sua mão e sorriu, tentando tranquilizá-lo.

   — Ordenar que partissem seria tomado como insulto que poderiam usar contra nós mais tarde — opinou, e Mew meneou deu a cabeça, concordando com ar contrafeito.

  —Tem razão, meu cavalheiro. Insultam-nos com tal comportamento, mas piorar a situação não nos ajudaria em nada. — Conduziu-o a grande mesa onde fora servido o banquete nupcial. Antes de sentar-se ao seu lado, contudo, Mew apontou o Padre James. — Peço que me dê licença um instante, pois necessito falar com meu primo.

   Quando Mew se afastou, Sana veio se postar ao lado de Gulf. A simpática mulher não cabia em si de satisfação, Mas de repente o sorriso morreu em seus lábios. Ao se virar para ver o que acontecia, Gulf percebeu a aproximação de Art. Sem se fazer rogado, o homem de cabelos negros sentou ao seu lado de Gulf na cadeira de Mew.

  — Tolo! Pensa que é um homem suficiente para um homem como Mew?

— Ele não teria me escolhido como marido se não acreditasse que eu o posso satisfazer.

  — Ele não escolheu você, escolheu o seu útero, a sua capacidade de gerar filhos!

  Aquele comentário o feriu no coração, mas Gulf manteve a expressão impassível, para não deixar o sinistro Art perceber que o magoara.

  — Nenhum Lorde deixa de considerar tal questão ao escolher um companheiro — replicou o Gulf, fazendo força para não se entregar ao temor das próprias incertezas. Para piorar as coisas, San aproximava-se, e agora o fitava com seus olhos de fera.

  — Mew não merece continuar sendo nosso Lorde — disse deixando entrever os dentes afiados. — Ele traiu o nosso clã ao desposar um homem de sua laia.

   Não posso tolerar isso! Pensou Gulf, sentido-se ainda mais insultado por San envolver sua família na questão. Sem pensar, ele se ergueu e o enfrentou.

— O sangue dos Kanawut é tão bom quanto os dos Suppasits. Defendemos nossas terras desde os tempos em que o império romano chegará ao norte da Europa e nos ameaçava. Além disso, nenhum dos meus parentes necessita viver escondido em cavernas subterrâneas.

  Gulf mal terminara de proferir tais palavras e já percebia que fora longe demais. O rosto de San se transfigurou numa expressão de fúria, que o fazia de fato parece ser um demônio. San o agarrou pelos braços ergueu-o do chão como se fosse uma pluma. Gulf soltou uma exclamação de horror ao sentir o solo lhe faltar sobre os pés e ao fitar os dentes pontiagudos de San.

  — Como se atreve a tocar meu noivo?!

  Gulf mal teve tempo de notar que o homem rugido a seu lado era Mew quando San o soltou. Mew foi rápido e o segurou pela cintura, impedindo de cair e o depositou sobre o chão. No instante seguinte, transformou-se num ser desfigurado, que Gulf ainda desconhecia. Então ergueu San do chão e o atirou a vários metros de distância, fazendo-o voar sobre as cabeças dos convidados.

    O que ocorreu em seguida deixou Gulf  boquiaberto. Os elegantes membros do clã se transformaram em feras orendas e passaram a luta entre si,desferindo golpes que teriam sido fatais para qualquer ser vivo; mas eles simplesmente tornavam a levantar e avançar uns contra os outros.

   Sana e o filho David o puxaram para baixo da longa mesa do banquete, onde outros London já procuravam refúgio, mas Gulf ergueu uma das pontas da toalha de linho e viu o que ocorria no salão: o lado bestial dos Suppasits, até então encoberto pelas maneiras elegantes e o físico bonito, enfim se revelava. Lutando como animais, eles desferiam golpes uns aos outros que os faziam voar e se chocarem contra as paredes de pedra; no mesmo instante eles se erguiam e voltavam a lutar. Os movimentos de fera, os sons que emitiam, a rapidez com que seus ferimentos fechavam, tudo revelava a verdade que Gulf tentará ignorar. Contudo, agora seria difícil crer que os Suppasits não eram tão diferentes dos outros seres humanos, e isso poria em risco o futuro que o aguardava ao lado de Mew.

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