Gulf sentiu-se ofendido com o comentário, mas Mew apertou-lhe a mão, impedindo de replicar. Tanto ele quanto Thorn adquiriram agora uma expressão dura e ríspida, e os outros sentados à mesa pareciam acompanhar o confronto num misto de temor e profundo interesse, Gulf fora salvo de uma situação perigosa, mas servia de enredado numa disputa que podia ser tão ruim quanto o ataque dos ladrões.
— Anunciei meus planos há meses antes — disse Mew.
— Mas nem sabe quem é este homem — replicou Art. — Talvez se trate de um ladrão.
— Ele é o cavalheiro Gulf Kanawut, irmão do lorde de Dusnmuir e primo de Mild. E espero que me aceite como esposo. Não há nada que Manche sua reputação, e ele será bem-vindo a nossa família. Estou seguro de que é uma escolha perfeita.
— Você deve se casar com um dos nossos, para não colocar nossa linhagem em perigo — Sam mostrava-se irritado.
— Minha escolha ajudará a perpetuar nosso clã — Mew soltou a mão de Gulf. — Você por acaso tem um filho? Art gerou algum herdeiro para manter nossa linhagem? Considerando o quanto ele aprecia divertir-se, era de se esperar que já tivesse uma dúzia de herdeiros, mas seu ventre nunca gerou um novo ser.
— Sabe que não nos reproduzimos como coelhos, ao contrário dos de fora!
— Sam, não estou sugerindo que devessemos fazer isso, mas é preciso gerar filhos para manter a continuidade da linhagem.
— Você enlouqueceu, Mew, e quer nos arrastar em sua loucura. É bom que saiba que nossa paciência tem limites e que enfrentará a nossa ira caso insista em seus planos sem sentido! — Sam tomou Art pelo braço e começou a se afastar.
Art ainda se virou e fitou Gulf de modo hostil, e partiu com Sam do salão principal. O silêncio tomou conta do ambiente, e Gulf resolveu que o melhor seria retomar a refeição, apesar de agora ter certeza de que havia circunstâncias estranhas naquele clã e no castelo. Talvez seja melhor ir embora, pensou consigo mesmo; mas considerou que não seria aconselhável deixar transparecer suas dúvidas e receios.
— Não tem nada a dizer, meu cavalheiro? — Perguntou-o Mew de repente, com um sorriso amigável.
— Não quero alimentar suas ilusões, meu lorde.
— Então me considere iludido?
— Como poderia me referir a sua intenção de casar-se com um cavalheiro que obviamente enfrenta oposição em sua família, e que ainda nem concordou com tal casamento?
— E por que hesita em dizer sim? Sou um homem educado, e possuo riquezas para prover-lhe tudo que necessita. Sou um lorde, tenho um castelo e terras bem protegidas. Estou certo de que não conseguiria encontrar um esposo mais apropriado na corte, ainda que pareça arrogante falar assim.
Talvez soe arrogante, mas é a verdade, pensou Gulf. Desviando o olhar, ele resolveu ganhar tempo tomando um gole da cidra suave que lhe haviam servido. A ideia de casar com um lorde a quem mal conhecia não o agradava, sobretudo agora que sabia existirem membros no clã que se opunham a tal união.
— Eu viajava para conhecer o mundo fora dos muros de Dunsmuir — disse ele, fazendo menção de levantar. — Queria conhecer a vida na corte, usar roupas elegantes e dançar nos bailes do castelo. Se algum Nobre elegante me cortejasse talvez eu considerasse a ideia de me casar. Veja bem: digo que talvez considerasse um casamento. Agora, você me dá licença, vou escrever uma carta a meu primo para explicar a razão do meu atraso, e dizer que pretendo chegar tão rápido quanto possível.
— Faça isso, meu cavalheiro — Mew levantou-se e puxou a cadeira para Gulf. — Designarei uma escolta para acompanhá-lo ao castelo de seu primo, logo depois de nosso casamento — ele sorriu de modo amigável e despretensioso.
Gulf preferiu nada responder, e seguiu em direção à saída do salão. Sana, que a tudo observava, correu a acompanhá-lo e num instante ambos partiam.
— Que cavalheiro corajoso, Mew — disse Thorn, ainda sentado à mesa. — Não me pareceu intimidado pelas hostilidades de Art.
— Se teve medo, não deixou transparecer. Isto é bom, pois vai necessitar força e coragem para ser meu marido.
— Receio que tentará fugir.
— Teremos de mantê-lo sobre observação para impedir que escape.
— Talvez não aceite casar-se... E você sabe que não poderá desposar um cavalheiro se ele não concordar.
— Ele concordará em casar comigo.
— O que o faz ter tanta certeza?
— Sei que a atração entre nós. Sinto isso quando o toco nas mãos, ou quando nossos olhares se cruzam. Contudo, sei também que ele necessita de tempo para compreender e aceitar o que sente.
— Então não esqueça o que ele disse antes de partir.
— O quê?
— Deseja ser cortejado e dançar — Thorn sorriu. — Sabe dançar, Mew?
— Poderei aprender, e sem dúvida saberei corteiá-lo com elegância. O cavalheiro de Dusnmuir talvez resista algum tempo mas no final aceitará ser meu marido.
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Cavalheiro da Noite
Fiksi PenggemarPrólogo Dois homens unidos por Laços de Sangue e por uma maldição que assombra seu clã, estão condenados a uma vida sombria e submetidos a desejos estranhos e incontroláveis. Somente o casamento com homens que não compartilham a natureza desses...