Cap 28: É verdade.

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— Liberte meu marido, San!

  Gulf sentiu alívio e terror ao mesmo tempo quando Mew apareceu, e um instante depois Thorn já se colocava a sua frente para protegê-lo.

  — O que Saint faz aqui? — Gulf indagou num murmúrio para Thorn, sabendo o que o irmão iria presenciar e se perguntando porque Mew permitirá que viesse.

  — Ele insistiu em nos acompanhar — explicou Thorn, sem tirar os olhos de San. — Ele o machucou ?

  — Estou bem, a não ser pelo fato de San me usar para atingir Mew.

  — Se não o usasse, acharia outra forma de atrair nosso Lorde. Anseia por esse confronto desde quando Mew nasceu, eliminando sua chance de se tornar o senhor de Cambrun.

— Não pretendo libertar o homem, Mew, pois ele ainda pode ser útil!

  — Você disse que o libertaria se eu viesse. Pois bem, aqui estou, e permanecerei até resolvermos a questão. A presença de Gulf não é mais necessária.

— Me toma por tolo, Mew? Acredita que seu plano de destruir nosso clã, misturando nosso sangue ao sangue dos impuros, vai triunfar independente do que ocorrer entre mim e você? Creio que já podemos ambos morrer agora que o ventre de seu marido abriga o futuro herdeiro?

  — Você me insulta com fatos que ainda nem ocorreram.

  — Não minta. Esse prostituto carrega um filho seu na barriga, pois o ouvi conversando com Sana a respeito.

  Não é justo que Mew saiba a verdade desta maneira, pensou Gulf, corando quando todos se voltaram para fitá-lo. Mew parecia chocado e aterrorizado, e ele compreendia a razão, pois o risco que ele agora corria era maior do que apenas perder o título de Senhor de Cambrum, a própria vida ou a vida do marido. Como Lorde e Cavalheiro, Mew estava preparado para enfrentar a guerra, as lutas e a morte, mas atingiu seu filho significava atingi-lo no que ele tinha de mais precioso: o desejo de ser pai e gerar herdeiros para continuidade do clã.

  — É verdade meu querido? — Perguntou Mew, fitando-o com temor.

  — Sim. Pretendia lhe contar hoje, e por isso preparei a refeição especial em nosso quarto.

  — Há quanto tempo espera nosso filho?

— Há dois meses ou pouco menos. Engravidei logo depois de casarmos. Eu lhe disse que era um homem fértil. — Gulf odiava ter de revelar as coisas dessa maneira.

  — Está vendo? — Disse San, erguendo o olhar e dirigindo-se aos sangue-puros espalhado pela caverna. — Se não agirmos rápido, em breve seremos liderado por um herdeiro infame, que terá ainda menos sangue puro nas veias que nosso senhor atual. Temos de acabar com essa linha impura antes que arruine nosso clã.

  — Difícil acreditar que você possa sugerir tal absurdo San — soou uma voz feminina de repente.

   Ainda estupefado com o que acabava de saber, Mew viu quando Agnes deu um passo adiante e enfrentou San.

  A elegante senhora de cabelos grisalhos era uma das mulheres mais idosas e respeitadas entre os sangue-puros, e todos a fitavam agora. San sugeria quebrar uma das mais antigas e valiosas regras que norteavam as tradições dos Suppasits: a de jamais fazer mal a uma mulher ou homem grávido ou a uma criança. Um murmúrio de consternação se ergueu na caverna, demonstrando que San começava a trilhar um caminho que poderia levar ao isolamento.

   — Velha, você se acostumou a ter pena de gente de fora de nosso clã e a cuidar de suas doenças e mágoas mas é por causa deste prostituto que Art morreu.

— Art morreu porque tentou matar o marido do Senhor de Cambrun — replicou Agnes. — Não tente semear a discórdia entre o Suppasits, e jamais se atreva a nos pedir que manchemos nossas mãos com o sangue de um homem grávido e seu filho não nascido. Este será o primeiro Suppasit gerado em dezenas de anos, e mesmo que quem o gere pertença a outro clã, este feto carrega em si o sangue da nossa família e perpetua nossa linhagem! — As palavras daquela senhora provocaram murmúrios de aprovação entre os sangue-puros.

  — Então concorda em macular nosso sangue com sangue imundo dos de fora?

  — Você já está nos cansando, pois só repete o mesmo Insulto — disse Saint, entrando na disputa. Melhor que se cale.

  — Mas um de fora que se atreve a nos dar ordens. Como pode dar atenção a esta gente imprestável? — Perguntou San fitando Mew.

  Saint se adiantou para atacar San, mas Mew se colocou entre os dois para evitar o confronto. Contudo, imediatamente a surpresa, o choque e a curiosidade tomaram conta dos presentes, pois se Gulf parecia uma gata furiosa ao se zangar, seu irmão se tornava um leão selvagem.

  — Oh, meu Deus — murmurou Gulf. — Saint está perdendo o controle.

  — Já percebi...— disse Thorn com um leve sorriso.

  — Não há nada de divertido nisso — avisou Gulf. — Não pode imaginar do que Saint é capaz quando perde a cabeça.

  — Eu o desafio a lutar San — interveio Mew tentando evitar uma luta entre o sangue-puro e Saint. — Se eu morrer declaro publicamente que designo Thorn meu herdeiro e protetor de meu marido; e se algo acontecer a ele e meu filho, então escolho Thorn para me suceder no trono de Cambrum, e Raibeart será seu primeiro cavalheiro.

  Mew notou com satisfação que uma sombra turvava o olhar de San, que sem dúvida compreendia o que tais escolhas implicavam: Thorn e Raibeart eram totalmente sangue-puro, e isso anulava o argumento de que o clã dos Suppasits estava sendo maculado por permitirem a intromissão de membros de outros clãs da família. Ao fazer esta escolha, Mew isolava San ainda mais e conquistava aliados.

   Neste momento, Thorn se virou para dizer algo atrás de Gulf, e sem perceber o deixou desprotegido um instante. Numa fração de segundo, San sacou um comprido punhal e pulou na direção dele, apontando a arma diretamente para seu vento. Contudo, uma pilha de corpos se colocaram entre Gulf de maneira a protegê-lo, e o agressor terminou travando o punhal nas costas de outra pessoa.

  — Gulf! — Gritaram Mew e Saint ao mesmo tempo.

  — Estou bem! — Gulf brandou, lutando para afinal romper entre aqueles que o haviam protegido com os próprios corpos.

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