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Ayla Velasquez 👮🏽‍♀️

Rocinha, Rio de Janeiro.
03 de março, de 2023.

Cheguei na UPA, bati meu ponto, vesti meu uniforme e fui pra sala da triagem. E como toda segunda-feira, a upa estava lotada. A recepção estava tão cheia que tinham pessoas aguardando atendimento sentadas até no chão.

Quando deu o meu horário de almoço, fui até o quarto que a Carla estava internada e tinha uma senhora no quarto conversando com ela.

Ayla: Com licença, posso entrar?- bati na porta que estava aberta.

Carla: Oi Maya, pode sim. Essa aqui é minha mãe, Lurdes.

Ayla: Prazer dona Lurdes!

Lurdes: Prazer é todo meu minha filha.

Ayla: E você Carla, está melhor?

Carla: Mais ou menos né? Ainda não consigo acreditar que perdi meu bebê.— seus olhos se encheram de lágrimas.

Ayla: Eu não consigo imaginar a dor que você está sentindo.— suspirei.— Mas você é forte e vai superar tudo isso.

Lurdes: Ela precisa é se livrar daquele desgraçado!

Carla: Mãe... Não começa, por favor.

Lurdes: Não começa????? Ele vai acabar te matando também Carla!!! Será que você não consegue enxergar isso? Eu não aguento mais te ver nessa situação minha filha.— a senhora falou já chorando.— Você tem que largar aquele desgraçado!

Carla: Mãe, a senhora sabe que eu não posso!

Lurdes: Não pode porque? Só porque ele é traficante??? Às leis dentro da favela são iguais pra todo mundo Carla!

Eu já imaginava que iria conseguir descobrir algo me aproximando da Carla mas agora tenho certeza. Eu já desconfiava que o marido dela era envolvido com alguma coisa errada e agora tive a confirmação, e era tudo que eu precisava.

Carla: Mãe, chega!— repreendeu ela.— A senhora já falou demais.

Lurdes: Quer saber? Tô indo embora! Tô errada mesmo né? Vou ficar fazendo o quê aqui??

A mulher pegou uma bolsa que estava em cima de uma cadeira, e saiu de dentro do quarto batendo o pé e até esbarrou em mim.

Carla: Desculpa pela minha mãe Maya.— falou sem graça.

Ayla: Imagina, eu entendo ela. Ela só está preocupada com você.

Carla: É eu sei...— suspirou.

Ayla: E você sabe que ela está certa né?— ela concordou.— E porque você não escuta sua mãe Carla?

Carla: Porque às coisas não são tão fáceis assim Maya. Eu tenho medo do Pezinho e do que ele é capaz de fazer comigo ou até mesmo com a minha mãe.— ela suspirou.— Ele não aceita o fim do nosso relacionamento, ele acha que eu sou dele. Não é amor, é posse entende?

Ayla: Entendo... Porque eu já passei por isso Carla. Eu vivi um relacionamento abusivo alguns anos atrás e quase morri. Eu também tinha medo de me separar porque ele também me ameaçava, até que um dia ele colocou fogo na nossa casa, comigo dentro.— ela me encarou assustada.— E eu só sobrevivi porque um vizinho conseguiu me tirar de lá dentro a tempo.

Carla: Meu Deus Maya!! Que horror.— concordei.

Ayla: Naquele dia eu nasci de novo e prometi pra mim mesma que nunca mais um homem iria me colocar medo ou ter poder sobre mim. Denunciei ele, e o mesmo está preso até hoje.

PROIBIDO PRA MIM - EM ANDAMENTO. Onde histórias criam vida. Descubra agora