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Ayla Velasquez 👮🏽‍♀️

Rocinha, Rio de Janeiro.
04 de março de 2025.

Meu celular vibrou no meu bolso e quando eu olhei, era uma mensagem da Dona Lurdes me perguntando se eu tinha conseguido falar com o chefe do morro.

Nossa... Eu acabei me esquecendo completamente disso. Fiquei tão fissurada em conseguir provas contra o Maycon, que esqueci que ainda tinha que ajudar a Carla.

Eu não posso ir embora daqui sem antes resolver isso, não posso fingir que nada aconteceu com ela, ela precisa de ajuda e eu vou ajudar!

Resolvi esperar o Maycon voltar pra conversar com ele sobre a situação dela. Independente de tudo, só ele pode ajudar ela aqui dentro, felizmente.

Mike: Foi mal pela demora pô.

Ele entrou na casa com uma cara de acabado, todo suado e também com a roupa completamente coberta de sangue.

Ayla: Meu Deus... Você levou um tiro????— encarei ele assustada.

Mike: Levei mas foi de raspão pô. Tá suave!

Ayla: Tá suave?? Olha isso... Tá sangrando muito! Você precisa ir pra upa Maycon!

Mike: Adoro ouvir meu nome saindo da tua boca, sabia?— me encarou com aquele olhar de cafajeste dele.

Ayla: Eu tô falando sério cara... Você precisa ir pra upa ver isso!

Mike: Ir na upa pra quê se eu tenho uma enfermeira particular???— me encarou e eu suspirei.— Ou tu não é enfermeira?— continuou me encarando e desconfiado.

Ayla: Deixa eu ver esse ferimento vai!

Ajudei ele a sentar no sofá e o mesmo estava andando com dificuldade e gemia de dor. O tiro tinha sido na barriga e a bala fez um corte profundo.

Ayla: Você precisa levar ponto!— falei séria.

Mike: Então dá os pontos aí pô. Sem k.o nenhum!

Ayla: Você é maluco né??? Eu preciso dos materias Maycon.— falei séria.— Quer que eu te costure com o quê? Linha de costurar roupa?

Mike: É só tu falar o que precisa e eu mando os menor trazer, fala aí, tu vai precisar do quê?

Como esse homem é teimoso, meu papai do céu... Me ajuda viu!

Eu só queria conversar com ele sobre a Carla e ir embora daqui de uma vez, mas como eu vou deixar ele nesse estado? Não dá né! Antes de tudo eu sou humana, jamais deixaria ele aqui desse jeito.

Falei tudo que eu precisava e uns vinte minutos depois alguém chamou no portão, e eu fui atender. Reconheci que era um dos meninos que sempre ficava fazendo ronda pela favela. Ele me entregou tudo e eu entrei pra dentro da casa novamente.

Ayla: Vai doer viu?

Mike: Tem problema não, eu aguento, tendeu?

Ayla: Vai doer muito Maycon!

Mike: Faz logo essa porra Maya!— falou estressado.

Ayla: Grosso.— bufei.— Eu devia deixar você aí com esse ferimento aberto e sangrando pra você aprender!

Joguei bastante soro no ferimento, lavei com o sabonete apropriado, limpei todo o local e quando comecei a costurar, esse homem começou a gritar que nem um maluco porém eu fingi que não estava escutando e continuei costurando a pele dele como fosse uma peça de roupa.

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