Desde a infância, fui uma criança incrivelmente alegre, sempre me divertindo ao máximo. Tenho vívidas memórias de observar meu pai trabalhando em seu amado Mustang de 1971. Ele tinha um profundo carinho por aquele carro, e quando ele não estava sob o efeito do álcool, costumava me dizer que um dia aquele carro seria meu, então era importante eu começar a aprender a dirigir desde cedo. Eu adorava esperar pela chegada dele em casa. Quando estava ocupado lendo ou brincando, podia escutar o ronco distante do motor do Mustang se aproximando. Minha animação era imensa, e eu corria para a porta, aguardando ansiosamente vê-lo estacionar o carro. Esses momentos eram, sem dúvida, um dos pontos altos do meu dia.
No entanto, um dia, enquanto eu estava sentado à mesa da cozinha, absorto em minha leitura, vi minha querida mãe entrar com uma expressão de tristeza profunda. Seus olhos estavam marejados de lágrimas, e não demorei muito para compreender a razão por trás de sua melancolia. Meu pai havia falecido. Ele estava embriagado e acabou colidindo o seu Mustang em um poste. A tristeza tomou conta de mim naquele momento.
Após essa trágica ocorrência, meus dias nunca mais foram os mesmos. Minha mãe, que antes era o pilar de nossa família e que mesmo nas horas difíceis, quando meu pai estava alcoolizado, ela sempre buscava acalmá-lo e ajudá-lo da melhor forma possível. Que mulher exemplar. No entanto, tudo mudou após a morte do meu pai. Ela passou a se comportar de maneira muito diferente, se tornou tão impura. Tragava consigo um vazio que buscava preencher a todo custo. A nossa casa era frequentada por diversos homens, e seus gritos ecoavam durante as noites. Ela estava desesperada, tentando encontrar alguém que pudesse amenizar a dor em sua alma. Aquela imagem angelical da minha mente, logo fora trocada por uma foto nojenta de uma mulher qualquer. Uma mulher da rua. Eu nunca mais a olhei do mesmo jeito, sempre a desprezei durante toda minha adolescência.
No entanto, ela não foi a única a sofrer as consequências daquele trágico acidente. Admito que fiquei um pouco mais agressivo após a perda de meu pai. Raramente ficava em casa, preferindo passar as noites na casa de amigos. Às vezes, cedi à influência negativa e me envolvi em pequenos furtos. Uma dessas ocasiões ocorreu quando estava com dois "amigos", Junior e Tobias (mas costumo chamá-lo de Calibã¹). Calibã era o mais medroso entre nós.
Certa vez, enquanto eu tentava esconder uma garrafa de vinho sob minha camisa, o alarme da loja acabou por disparar, e esses dois miseráveis me deixaram para trás (tenho certeza de que Calibã foi o primeiro a fugir). Por culpa dele, fui capturado pelo dono da loja e posteriormente enviado para o reformatório de Reverse Falls. Sempre senti desprezo por esta cidadezinha, talvez até mais que da minha mamãe. Talvez.
Minha estadia no reformatório acabou sendo transformadora. As pessoas lá dentro compartilhavam experiências e problemas semelhantes aos meus. Muitos deles também tinham questões com seus pais, e alguns até haviam causado "ferimentos" a eles. Ao completar 18 anos, finalmente consegui ser libertado daquela instituição. Durante todo o período em que estive lá, minha mãe nunca fez questão de me visitar, o que, honestamente, não me importou em nada. Nunca fiz questão de vê-la também. Ao me tornar adulto, encontrei trabalho como lenhador, uma atividade que realmente me agradava, cortar troncos de árvores. Além disso, o trabalho me proporcionava a renda necessária para me sustentar.
Nunca me interessei por mulheres, todas elas parecem tão sujas. Para evitar as perguntas incômodas dos meus colegas de trabalho sobre minha vida pessoal, inventei histórias fictícias, como alegar que já era casado e tinha um filho, só para evitar as conversas indesejadas.
No entanto, mesmo sem interesse em relacionamentos, sempre tive uma curiosidade inata sobre relações carnais. Meus colegas de trabalho constantemente se vangloriavam de suas vidas sexuais ativas, como se fosse a oitava maravilha do mundo. Eu apenas os ouvia, já que não tinha experiência nesse assunto. Porém, eventualmente, isso mudou. Lembro-me de um dia chuvoso em que me senti profundamente deprimido em minha casa. Não conseguia conter as lágrimas e estava pensando em várias coisas tristes que já ocorreram comigo (não consigo lembrar exatamente o que me afligia naquela noite). Era um sentimento de solidão que eu nunca havia experimentado antes.
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Reverse Falls: O Fim do Espetáculo
FanfictionNeste emocionante conto de aventura e mistério, Pacifica Southeast embarca em uma viagem de verão que a leva a Reverse Falls, uma cidade aparentemente pacífica e encantadora. No entanto, à medida que ela se reconecta com seu amigo de infância, Gideo...