Capítulo 02

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Na manhã seguinte.

- Eu já estou pronta tio.

- E a minha comida, não vai fazer?

- Não. Eu vou embora. Não é isso que quer? Então eu vou. É uma viagem desconhecida, com um homem desconhecido, que me fez uma proposta absurda, mas eu não tenho escolha. Não vou lutar contra isso.

- Aonde é a terra desse homem?

- Não sei. Mas não deve ser tão longe. Ele não viria de tão longe.

Me deu um frio na barriga e eu tive vontade de chorar quando vi aquele homem e seus dois acompanhantes. Eu deixaria Conques e uma parte da minha vida para trás.

- Está pronta?

- Estou.

- Só tem isso de pertences?

- O senhor sabe que não tenho recursos, então isso é o pouco que me sobrou. Mas pode me dizer para onde vamos?

- Vale do Loire. Se não fizermos muitas paradas chegamos amanhã cedo, mas se for necessário parar muito só chegamos a noite.

- Eu achei que fosse mais perto.

- Não é perto. Mas também não é um absurdo de longe. Vai no seu cavalo, mas não quero nenhum imprevisto, então eu seguro as rédeas do animal.

- Tá bem.

Assim foi feito. Nessa viagem me senti muito importante. Eu tinha água e comida, os funcionários me serviam e eu ria daquela nova realidade. Havia algo de engraçado no jeito do senhor Bernard me tratar.

- Já vi que gosta de rir. Mas deve se conter nos risos.

- A tanto tempo não acho nada engraçado. Me deixe rir um pouco.

- E de quê está rindo exatamente?

- Do seu jeito... É engraçado.

- Engraçado como?

- O modo como fala... Como segura esse cavalo. Parece que eu sou de louça e vou quebrar a qualquer momento.

- Acho que não compreendeu quem eu sou e quem será você. Mas vai entender em breve. Só tenha em mente que será a esposa de um Bernard e mãe de um Bernard.

- O senhor é um nobre?

- Sou.

- E o quê te levou a vir a um vilarejo atrás de uma esposa? As moças sonham com casamentos com um nobre.

- E você não?

- Nunca sonhei com um casamento. - eu fui sincera.

- Como não?

- Eu vivi para viver com meu pai. Éramos como um só, nunca quis casar e deixar ele sozinho.

- Pois teremos um grandioso casamento. Com tudo que temos direito.

Eu ri e ele não gostou.

- Está rindo de novo.

- É uma farsa. Não precisa dá uma festa. Vai ficar com sua amante no fim.

- Isso por acaso te magoa?

- Por que magoaria? Eu aceitei o quê me propôs e eu escuto muito bem. Então vamos ter festa, eu vou comer e beber, depois vou para o meu quarto e durmo numa cama fofinha, enquanto o senhor vai ficar com sua amante.

- Acha que não teremos núpcias?

- O senhor disse que não ficaria comigo, então...

- Não teremos mesmo. Mas no dia que eu decidi que quero ter esse herdeiro, você vai estar pronta para mim. Eu vou deixar uma lista de exigências para que a senhora esteja como desejo.

- Se a sua amante deixar... Talvez ela tenha ciúmes. - eu provoquei.

- Você é bem atrevida, mas aquela mulher não significa nada para mim.

- O senhor não sabe o quê diz. Primeiro diz que quer ficar com a amante, depois que ela não significa nada. É confuso.

- É melhor encerrar esse assunto. Segure no cavalo com determinação, se não vai cair.

- Não vou. O senhor não vai deixar eu cair.

Ele me deu uma olhada furiosa e eu ri internamente.

...

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