Na manhã seguinte.
- Eu já estou pronta tio.
- E a minha comida, não vai fazer?
- Não. Eu vou embora. Não é isso que quer? Então eu vou. É uma viagem desconhecida, com um homem desconhecido, que me fez uma proposta absurda, mas eu não tenho escolha. Não vou lutar contra isso.
- Aonde é a terra desse homem?
- Não sei. Mas não deve ser tão longe. Ele não viria de tão longe.
Me deu um frio na barriga e eu tive vontade de chorar quando vi aquele homem e seus dois acompanhantes. Eu deixaria Conques e uma parte da minha vida para trás.
- Está pronta?
- Estou.
- Só tem isso de pertences?
- O senhor sabe que não tenho recursos, então isso é o pouco que me sobrou. Mas pode me dizer para onde vamos?
- Vale do Loire. Se não fizermos muitas paradas chegamos amanhã cedo, mas se for necessário parar muito só chegamos a noite.
- Eu achei que fosse mais perto.
- Não é perto. Mas também não é um absurdo de longe. Vai no seu cavalo, mas não quero nenhum imprevisto, então eu seguro as rédeas do animal.
- Tá bem.
Assim foi feito. Nessa viagem me senti muito importante. Eu tinha água e comida, os funcionários me serviam e eu ria daquela nova realidade. Havia algo de engraçado no jeito do senhor Bernard me tratar.
- Já vi que gosta de rir. Mas deve se conter nos risos.
- A tanto tempo não acho nada engraçado. Me deixe rir um pouco.
- E de quê está rindo exatamente?
- Do seu jeito... É engraçado.
- Engraçado como?
- O modo como fala... Como segura esse cavalo. Parece que eu sou de louça e vou quebrar a qualquer momento.
- Acho que não compreendeu quem eu sou e quem será você. Mas vai entender em breve. Só tenha em mente que será a esposa de um Bernard e mãe de um Bernard.
- O senhor é um nobre?
- Sou.
- E o quê te levou a vir a um vilarejo atrás de uma esposa? As moças sonham com casamentos com um nobre.
- E você não?
- Nunca sonhei com um casamento. - eu fui sincera.
- Como não?
- Eu vivi para viver com meu pai. Éramos como um só, nunca quis casar e deixar ele sozinho.
- Pois teremos um grandioso casamento. Com tudo que temos direito.
Eu ri e ele não gostou.
- Está rindo de novo.
- É uma farsa. Não precisa dá uma festa. Vai ficar com sua amante no fim.
- Isso por acaso te magoa?
- Por que magoaria? Eu aceitei o quê me propôs e eu escuto muito bem. Então vamos ter festa, eu vou comer e beber, depois vou para o meu quarto e durmo numa cama fofinha, enquanto o senhor vai ficar com sua amante.
- Acha que não teremos núpcias?
- O senhor disse que não ficaria comigo, então...
- Não teremos mesmo. Mas no dia que eu decidi que quero ter esse herdeiro, você vai estar pronta para mim. Eu vou deixar uma lista de exigências para que a senhora esteja como desejo.
- Se a sua amante deixar... Talvez ela tenha ciúmes. - eu provoquei.
- Você é bem atrevida, mas aquela mulher não significa nada para mim.
- O senhor não sabe o quê diz. Primeiro diz que quer ficar com a amante, depois que ela não significa nada. É confuso.
- É melhor encerrar esse assunto. Segure no cavalo com determinação, se não vai cair.
- Não vou. O senhor não vai deixar eu cair.
Ele me deu uma olhada furiosa e eu ri internamente.
...