Entrei no quarto que era de Rodolffo e tive uma surpresa com todo o ambiente que tinha ali. Eu esperava uma decoração totalmente masculina, mas encontrei algo muito diferente.
- A senhora não veio aqui, não foi? - o mordomo disse junto a mim e eu me aproximei da cama. - Ele mandou arrumar o quarto para as núpcias, disse todos os detalhes de como queria. A senhora quer que eu desarrume?
- Eu quero que me deixe sozinha. - eu tive que ser forte para não demonstrar nada frente do mordomo.
- A senhora realmente arruma todas essas coisas?
- Sim. Pode ir.
Eu permaneci altiva e resistente frente aquele homem, mas quando a porta se fechou, pude observar tudo que eu queria de perto.
Toquei o dossel da cama, ele era fino e macio. A cama estava fofinha e muito cheirosa. Eu não tive coragem de deitar ali, mas a sensação deveria ser muito boa. Meu coração não era de pedra, mesmo que eu bloqueasse muito as emoções, ainda existia uma jovem sonhadora dentro de mim. Dia a dia eu a matava um pouco mais, mas ela ainda estava em mim.
Eu não tirei nada do lugar, mas eu olhei tudo e quando digo tudo é cada detalhe. Ao lado da cama tinha uma pequena mesa, e nela uma gaveta. Abri a gaveta e dentro dela tinha uma caixa de veludo preta, por cima dela tinha um pequeno bilhete.
Um detalhe importante sobre Rodolffo: ele gosta de escrever bilhetes e cartas. Eu não devia abrir nem a caixa e nem o bilhete, por que eles poderiam não ser para mim, mas abri os dois.
Na caixa encontrei um lindo colar com dois brincos com pedras muito brilhosas e no bilhete as seguintes palavras: " Para minha esposa: o nosso dia merece sempre ser lembrado. Me sinto maravilhado com sua presença junto a mim. Guarde com carinho tudo o quê vivemos aqui e receba esse lindo conjunto, tão raro em beleza quanto você."
Senti um nó na garganta. Fechei a caixa e coloquei tudo no mesmo lugar. Imaginei que ele tinha planos bem reais de ter uma noite comigo. Uma expectativa foi criada e totalmente destruída.
Continuei a olhar mais coisas dentro do quarto. Tinha uma parte mais masculina e nela eu pude ver mais da sua essência. Rodolffo era extremamente organizado, muito limpo também. Tinha uma coleção de charutos, também uma coleção de Whiskies, muitos objetos de cuidar da barba e cabelo, mas o quê chamou a atenção foi sua coleção de perfumes. Pessoas ricas tinham muitos perfumes, isso é bem comum, mas ele tinha 16 perfumes iguais, era um verdadeiro estoque para anos. Outras três fragrâncias, cada uma tinha um frasco. Abri um perfume e percebi que era o mesmo que estava na minha cama, ele gosta tanto desse cheiro que usou no nosso casamento.
Aquela descoberta me fez rir. Me mostrou que quando ele gosta de algo deve ter sempre por perto. Observei suas camisas totalmente alinhadas e separadas por cor. Suas calças todas pretas e seus sapatos muito bem alinhados.
Rodolffo também tinha jóias, mas nunca o vi com nenhuma. Aproveitei e arrumei as roupas que chegou no baú. Tive medo de encontrar alguma roupa feminina, mas não teve. Tudo arrumado igual aos anteriores, assim ele nem sentiria a diferença.
Fui olhar outras coisas e vi muitos documentos, eram escrituras e algumas coisas que não quis perder tempo vendo. Até que descubro uma caixa cheia de cartas, todas elas eram do Gerard pai do Rodolffo.
Muitas eram escritas banais e que falavam de descobertas do meu marido quando criança. Li todos os escritos e nem sei quanto tempo isso me levou. Mas as últimas cartas me levaram as lágrimas. Senti uma tristeza tão grande, como pode um pai escrever isso a um filho que ainda era uma criança?
Trecho: O amo meu filho. Mas partirei de sua vida cedo demais. Levarei comigo sua mãe e seu irmão também. Libertarei nós dois desse castigo. Juro que tentei tudo que era possível, mas ela é uma mulher ingrata e não quer o meu amor. Tocá-la se tornou um crime para mim e ela não se conforma com o fato de esperar mais um filho. Sinto uma dor profunda por te deixar meu menino, mas espero que seja forte, seja um homem valente e supere tamanha perda. Seu padrinho cuidará de ti e eu te olharei de onde estiver. "
...
Paris, Casa de Constantino Freud.
- Deus te abençoe meu afilhado. Como está?
- Eu estou mal.
- Nunca foi de ter meias palavras. É sempre muito direto. Mas por quê está mal? Soube que se casou e eu não fui por que minha saúde está debilitada.
- Não faz sentido o quê eu fiz. Eu não preciso de mais nada. Eu já tenho tantas coisas. Para quê mais terras padrinho? Só vou precisar de uma coca no meu fim.
- Está muito pessimista. É um direito seu e hoje lhe darei alguns documentos para que tome posse do que te pertence.
- Sou odiado e não sei que grande mal eu fiz aquele povo.
- Eles tem inveja do que você tem, é só isso mas não ligava para isso meu afilhado, o quê mudou?
- Alguém já lhe olhou nos olhos e disse que tem nojo do senhor?
- Isso nunca me passou.
- Na minha busca por uma noiva eu levei inúmeros "nãos" e pensei que poderia ser pela tragédia na minha família, mas depois descobri que meu tio fazia ameaças as pessoas daquele lugar para não permitirem nenhuma moça se casar comigo.
- Seu tio é um homem imundo. Ele quer o quê é seu.
- Eu passei anos em busca de uma moça em outro lugar, até tentei alguma aqui na capital, mas ela não aceitava a minha proposta. Até que eu soube do anúncio de uma jovem órfã no vilarejo de Conques. É óbvio que eu pensei, seja como for, se ela aceitar, eu aceito, só precisava ter boa saúde.
- E o quê houve?
- Ela é muito bonita. Não digo bonita como as moças que se vê por aí, ela tem uma beleza inédita, entende? Só que ela é perversa.
- Perversa?
- Sim. Ela me insulta. Ela quebrou um vaso na cabeça do meu primo padrinho.
- Por que ela fez isso?
- O maldito tentou agarrar ela no dia do nosso casamento. Eu estava podre de bêbado e não consegui defender.
- Mas ficou bêbado no dia do seu casamento? Isso é mal.
- Eu planejei tanta coisa, mas ela não quer padrinho. Não vou obrigar. Meu pai cometeu uma barbaridade por algo assim e eu não vou matar ela, também não vou me matar.
- Está com medo da sua esposa?
- Eu tenho medo de nunca ser correspondido, nem no mínimo.
- Não pode desistir agora.
- Nada a comove padrinho. Eu vi lágrimas finas no seu rosto no dia do casamento, mas eu tenho certeza que eram de raiva. Me arrependo de ter acreditado que ela aceitaria o acordo de me dá um herdeiro. No fundo nenhuma mulher quer isso.
- Mulheres sonham com outro tipo de casamento.
- Juliette nunca sonhou com casamento algum e já tem 20 anos. Ela viveu junto ao pai e parece que ele era alcoólatra. Ela criou uma muralha inacessível.
- Vai ficar um pouco comigo. Preciso de tempo para te ajudar. E você precisa descansar.
- Eu me livrei da Theodora.
- Graças a Deus. Se sua esposa descobre isso tudo seria pior. As mulheres são rancorosas.
- Eu nunca escondi o meu caso. Desde o início falei de Theodora.
- Meu Deus e quer que a mulher lhe aceite? Está no caminho errado. Precisa das orientações do seu velho padrinho.
Meu padrinho me chamou a tomar um chá e continuamos a conversar.
...