Capítulo 06

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Mansão da senhorita Theodora DelRio.

Theodora fazia carinho no meu peito enquanto eu estava com o pensamento muito longe dali.

- Você poderia ter mandado matar o meu marido e assim eu estaria viúva. Estaria livre para ser sua esposa.

- Theodora não recomece. Já te disse milhares de vezes que eu não tenho nada mais a te oferecer. Te dei essa casa, jóias, empregados, comida, todos os seus luxos e cama, mas não passa disso. Você ainda é uma mulher casada e mesmo que o seu marido morresse não serveria para ser minha esposa.

- Nós poderíamos pegar uma criança e dizer que era nossa. Você tem dinheiro para isso Rodolffo. Não case com essa mulher.

Eu fui me desprendendo dos seus braços e comecei a me vestir.

- Não vai passar o dia comigo?

- Não. E vou demorar uns dias a vir aqui.

- Rodolffo, você disse que viria comemorar comigo o casamento. Mudou de ideia?

- Mudei e por favor não chore.

Eu estava abotoando a camisa quando Theodora se ajoelhou aos meus pés.

- Não case. Por favor não se case. - ela suplicava. - Eu te amo tanto.

- Se vista e continue o seu dia. Não tenho mais tempo a perder aqui.

Eu não amava Theodora. Era bom tê-la. Nunca tivemos dificuldades em nos entender, mas não passava de uma relação carnal. Nunca cogitei casar com ela, mas a ilusão foi criada.

Antes que eu saísse do seu quarto, ela me chamou a atenção.

- Eu estarei linda, cheirosa, lisinha e pronta para ti na noite das suas núpcias. Realizarei todas as fantasias que quiser. Eu te espero.

- Não me espere. - eu disse antes de fechar a porta e ouvi o grito agudo de Theodora.

...

Na mansão Bernard.

Início de tarde.

- Encomendas chegadas do ateliê de costura senhora. - disse minha criada de quarto depositando caixas e mais caixas em cima da minha cama.

- O quê é tudo isso?

- Coisas para o seu casamento.

- E não era só o vestido?

- Acho que tem muito mais aqui. - ela me ajudou a desembalar cada coisa.

Haviam jóias, sapatos, uma roupa para a festa, o lindo véu que eu usaria e por fim um amotoado de roupas minúsculas.

- Noite? Esse pacote tem escrito noite. Mas isso não são roupas. Na verdade eu nunca vi nada parecido. A senhora sabe o quê é isso? - minha criada de quarto baixou as vistas.

- São as roupas que seu marido quer que use para ele.

- Eu usar isso? Não. Jamais. Isso não cobre nada em mim.

- Na verdade o senhor é muito moderno. Não tive nada disso nas minhas núpcias.

- Isso é um absurdo. Eu vou reclamar com ele.

- Não vá. Seu marido deve ser daqueles que desejam ver a mulher durante o ato. Sempre morri de vergonha e fazemos no escuro.

- Do quê a senhora tá falando? Eu não entendo.

Minha criada disse de forma simples e resumida como era uma noite de núpcias.

- Eu não sabia disso. Uma senhora me falou uma vez que o homem tocava na mulher e Deus abençoava a geração de um filho. Maria foi mãe virgem.

- Mas não é assim senhora. O toque que as pessoas falam só acontece com a ligação carnal.

Eu me senti um pouco desesperada, mas tentei não transparecer.

- Além desses pacotes todos, hoje vamos começar a te arrumar para o casamento e eu quero que a senhora leia a lista do seu marido, para que não reclame de mim quando precisar cuidar de você.

Ele escreveu tudo minuciosamente. Tinham todos os detalhes.

- Ele escreveu isso?

- Sim. Escreveu.

- Não vou deixar fazer isso em mim. Nenhuma de vocês.

- Do que a senhora fala exatamente?

- Da parte mais íntima dessas instruções horrorosas.

- Senhora se não fizer, todas nós seremos penalizadas.

- Então eu mesma farei.

- Tem habilidade suficiente?

- Tenho.

...

Fiquei pensando por todo o resto do dia em como seria o dia do casamento. Tive vontade de insultar aquele homem na hora do nosso ensaio, mas tudo que ouvi me deixou tão arrasada que não me restou forças.

- Está abatida hoje. Não fala quase nada, nem me irrita. O quê houve?

- Eu não te suporto. Quanto menos ouvir sua voz é melhor para mim.

Ele deu um sorriso sínico e minha vontade era pular no pescoço dele e quem sabe matar aquele homem.

- Você é tão perverso e pervertido. Que pessoa desumana.

- Agora eu sou desumano?

- Não... Posso dizer que é o próprio diabo.

- Hoje o ensaio foi divertido. Hoje estou de bom humor. Inclusive recebeu as encomendas que te enviei?

- Saiba que vou atear fogo naquelas porcarias que mandou para mim. Deveria me respeitar.

- Não faz diferença se quiser queimar por que eu quero te ver sem elas mesmo. - eu dei um tapa naquele imbecil.

- Acho melhor não tentar usar a força contra mim. Quanto mais resistir, maior será seu sofrimento.

- Eu te odeio.

- Não importa. Há quem morra de amores por mim.

- Fique com ela. - eu o empurrei. - Vá ficar com sua vagabunda. - ele segurou meus braços.

- Pare com isso. Já chega Juliette.

- Não quero mais. Eu quero ir para a minha vila. Me entregue de volta ao meu tio.

Eu tentei escapar, mas ele me rendeu me segurando firme pela cintura.

- Que desespero enlouquecido é esse seu hoje? Seu tio não quer está com você. Ele estava lhe oferecendo como quem oferece um troço velho e sem valor. E sem contar que vocês dois estavam morrendo de fome e sem recursos. Acorde para a realidade, eu sou o seu salvador.

Cuspi na cara dele e vi ele fechar o olhos, me soltando. Rodolffo limpou o rosto e disse sinicamente.

- Não vou desistir.

- Eu vou te morder. Se tentar me obrigar.

- Aí eu vou te amarrar e te amordaçar por que o diabo não tem piedade de ninguém. Se deixar acontecer de forma natural será menos sofrido, eu garanto.

Sai dali correndo e chorando, indo para o meu quarto.

...

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