Mansão da senhorita Theodora DelRio.
Theodora fazia carinho no meu peito enquanto eu estava com o pensamento muito longe dali.
- Você poderia ter mandado matar o meu marido e assim eu estaria viúva. Estaria livre para ser sua esposa.
- Theodora não recomece. Já te disse milhares de vezes que eu não tenho nada mais a te oferecer. Te dei essa casa, jóias, empregados, comida, todos os seus luxos e cama, mas não passa disso. Você ainda é uma mulher casada e mesmo que o seu marido morresse não serveria para ser minha esposa.
- Nós poderíamos pegar uma criança e dizer que era nossa. Você tem dinheiro para isso Rodolffo. Não case com essa mulher.
Eu fui me desprendendo dos seus braços e comecei a me vestir.
- Não vai passar o dia comigo?
- Não. E vou demorar uns dias a vir aqui.
- Rodolffo, você disse que viria comemorar comigo o casamento. Mudou de ideia?
- Mudei e por favor não chore.
Eu estava abotoando a camisa quando Theodora se ajoelhou aos meus pés.
- Não case. Por favor não se case. - ela suplicava. - Eu te amo tanto.
- Se vista e continue o seu dia. Não tenho mais tempo a perder aqui.
Eu não amava Theodora. Era bom tê-la. Nunca tivemos dificuldades em nos entender, mas não passava de uma relação carnal. Nunca cogitei casar com ela, mas a ilusão foi criada.
Antes que eu saísse do seu quarto, ela me chamou a atenção.
- Eu estarei linda, cheirosa, lisinha e pronta para ti na noite das suas núpcias. Realizarei todas as fantasias que quiser. Eu te espero.
- Não me espere. - eu disse antes de fechar a porta e ouvi o grito agudo de Theodora.
...
Na mansão Bernard.
Início de tarde.
- Encomendas chegadas do ateliê de costura senhora. - disse minha criada de quarto depositando caixas e mais caixas em cima da minha cama.
- O quê é tudo isso?
- Coisas para o seu casamento.
- E não era só o vestido?
- Acho que tem muito mais aqui. - ela me ajudou a desembalar cada coisa.
Haviam jóias, sapatos, uma roupa para a festa, o lindo véu que eu usaria e por fim um amotoado de roupas minúsculas.
- Noite? Esse pacote tem escrito noite. Mas isso não são roupas. Na verdade eu nunca vi nada parecido. A senhora sabe o quê é isso? - minha criada de quarto baixou as vistas.
- São as roupas que seu marido quer que use para ele.
- Eu usar isso? Não. Jamais. Isso não cobre nada em mim.
- Na verdade o senhor é muito moderno. Não tive nada disso nas minhas núpcias.
- Isso é um absurdo. Eu vou reclamar com ele.
- Não vá. Seu marido deve ser daqueles que desejam ver a mulher durante o ato. Sempre morri de vergonha e fazemos no escuro.
- Do quê a senhora tá falando? Eu não entendo.
Minha criada disse de forma simples e resumida como era uma noite de núpcias.
- Eu não sabia disso. Uma senhora me falou uma vez que o homem tocava na mulher e Deus abençoava a geração de um filho. Maria foi mãe virgem.
- Mas não é assim senhora. O toque que as pessoas falam só acontece com a ligação carnal.
Eu me senti um pouco desesperada, mas tentei não transparecer.
- Além desses pacotes todos, hoje vamos começar a te arrumar para o casamento e eu quero que a senhora leia a lista do seu marido, para que não reclame de mim quando precisar cuidar de você.
Ele escreveu tudo minuciosamente. Tinham todos os detalhes.
- Ele escreveu isso?
- Sim. Escreveu.
- Não vou deixar fazer isso em mim. Nenhuma de vocês.
- Do que a senhora fala exatamente?
- Da parte mais íntima dessas instruções horrorosas.
- Senhora se não fizer, todas nós seremos penalizadas.
- Então eu mesma farei.
- Tem habilidade suficiente?
- Tenho.
...
Fiquei pensando por todo o resto do dia em como seria o dia do casamento. Tive vontade de insultar aquele homem na hora do nosso ensaio, mas tudo que ouvi me deixou tão arrasada que não me restou forças.
- Está abatida hoje. Não fala quase nada, nem me irrita. O quê houve?
- Eu não te suporto. Quanto menos ouvir sua voz é melhor para mim.
Ele deu um sorriso sínico e minha vontade era pular no pescoço dele e quem sabe matar aquele homem.
- Você é tão perverso e pervertido. Que pessoa desumana.
- Agora eu sou desumano?
- Não... Posso dizer que é o próprio diabo.
- Hoje o ensaio foi divertido. Hoje estou de bom humor. Inclusive recebeu as encomendas que te enviei?
- Saiba que vou atear fogo naquelas porcarias que mandou para mim. Deveria me respeitar.
- Não faz diferença se quiser queimar por que eu quero te ver sem elas mesmo. - eu dei um tapa naquele imbecil.
- Acho melhor não tentar usar a força contra mim. Quanto mais resistir, maior será seu sofrimento.
- Eu te odeio.
- Não importa. Há quem morra de amores por mim.
- Fique com ela. - eu o empurrei. - Vá ficar com sua vagabunda. - ele segurou meus braços.
- Pare com isso. Já chega Juliette.
- Não quero mais. Eu quero ir para a minha vila. Me entregue de volta ao meu tio.
Eu tentei escapar, mas ele me rendeu me segurando firme pela cintura.
- Que desespero enlouquecido é esse seu hoje? Seu tio não quer está com você. Ele estava lhe oferecendo como quem oferece um troço velho e sem valor. E sem contar que vocês dois estavam morrendo de fome e sem recursos. Acorde para a realidade, eu sou o seu salvador.
Cuspi na cara dele e vi ele fechar o olhos, me soltando. Rodolffo limpou o rosto e disse sinicamente.
- Não vou desistir.
- Eu vou te morder. Se tentar me obrigar.
- Aí eu vou te amarrar e te amordaçar por que o diabo não tem piedade de ninguém. Se deixar acontecer de forma natural será menos sofrido, eu garanto.
Sai dali correndo e chorando, indo para o meu quarto.
...