- Estava aqui a quanto tempo? - Juliette me disse com um jeito contrariado.
- Vamos até o nosso quarto. - eu pedi segurando sua mão. - É melhor para nós...
Ela não resistiu, mas parecia contrariada. Quando entramos no quarto, eu falei tudo.
- Eu ouvi desde a parte do bolo que é meu sabor preferido até o fim.
- Não devia ficar ouvindo as minhas conversas.
- Por que não me diz as coisas também? Por que não consegue se abrir totalmente para mim?
- Não é por mal. Eu só tenho vergonha... - ela baixou o olhar.
- Vergonha? Não tenha vergonha de mim. - eu segurei seu queixo. - Essa barreira tem que ser quebrada entre nós.
Eu fixei nosso olhar.
- Eu te amo meu marido. - ela disse de uma forma natural.
- Você sempre me surpreende. Nos momentos que eu tenho dúvida, você me dá certeza. Te amar é a coisa mais certa da minha vida. - selei nossos lábios e depois a abracei.
Juliette precisava saber que eu tinha me encontrado com Theodora, então fui logo lhe dizendo.
- Rodolffo não devia ter nem falado com ela.
- Não precisa ter medo de nada. Eu não quero nada além de nós dois e a minha mulher será só você para sempre. Eu não me vejo sendo de mais ninguém.
- Ela não vai desistir por que você quer. Claro que não. Essa mulher é incansável.
- Ela não tem poder sobre nada. Deveria me agradecer por eu não ter deixado ela na miséria.
- O quê você deu a ela?
- Dei dinheiro e jóias.
Juliette se afastou de mim.
- Ela era mesmo uma prostituta. Você pagava pelo seu corpo. Isso é muito imoral.
- Eu sei. Tenho muitos defeitos, alguns incuráveis, mas eu não me orgulho das coisas erradas que já fiz na vida e olha que foram muitas coisas.
- Por que tentou o suicídio?
Aquela pergunta me pegou de surpresa.
- O padrinho te contou isso?
- Contou, mas não disse o motivo. Talvez ele não saiba. Por que não fala mais da sua vida comigo?
- Não me sinto bem falando do meu passado. Ele mostra o meu lado mais fraco e eu não gosto de ser fraco.
- Não tem problema em ser fraco. Ninguém é forte o tempo todo e a sua vida não foi fácil. Eu compreendo a sua.
- Eu vivia um momento muito difícil. Meu padrinho tinha me entregado umas cartas do meu pai e depois de ler tudo que ele escreveu, eu coloquei na cabeça que meu pai não era o meu pai de verdade.
- Eu li as cartas do seu pai. E confesso que elas são muito pesadas. Chorei com algumas por que ela relata tanta coisa triste.
- Quando leu?
- Quando você estava em Paris. Desculpa por eu não ter dito antes, mas eu não me sentia bem em guardar esse segredo.
- Não tem problema. Eu as guardo, mas não leio. Prefiro assim para não ter rancor do meu pai. Saiba que eu o acho um covarde e que sempre tive medo de ser igual a ele. Eu não quero ser igual.
- Não é igual. Só precisa tirar essas coisas da sua cabeça.
- Mesmo que não me quisesse e eu te amasse, nunca teria coragem de te fazer mal. Meu pai não tinha amor no coração. Minha mamãe estava grávida, ela não merecia que uma bala fria acabasse com a sua vida. Isso é tão injusto.
Eu não contive as lágrimas e Juliette chorou comigo.
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