- Me conte sobre isso Juliette. Agora!
Eu disse tudo ao meu marido. Desde os maus tratos que eu vinha sofrendo com aquela parteira, até o comportamento desprezível de minha criada de quarto. Ele ouviu tudo e parecia furioso.
Saiu do quarto sem nada me dizer e não demorou para que eu ouvisse seus gritos ecoarem na casa. Tampei os ouvidos de Elisa e fechei a porta para abafar, mas tinha um medo absurdo dele cometer uma besteira.
...
Na área dos criados.
- Não neguem suas duas vagabundas. - eu disse esmurrando a mesa. - Estavam querendo o quê com isso que minha esposa tivesse ódio de mim? Andaram perto, mas nem tanto.
Eles estavam tremendo de medo só com o meu modo falar.
- Um dia, um professor meu no internato me disse que eu era um psicopata e sabe que eu concordo com ele. Eu estou com muita vontade de matar vocês duas e amarrar o corpo pelos pés, sangrar vocês como dois animais. Isso que vocês são. - eu me armei de uma faca.
- Senhor Bernard, por Deus.
- Na hora de envenenar minha esposa e judiar dela no resguardo ninguém pensou em Deus. Também o esqueci nesse instante. - amoeli a arma branca na parede. - Quem vem primeiro?
As mulheres choraram muito e se ajoelharam diante de mim.
- Saiam da minha casa e nunca mais voltem aqui. Se eu sonhar, vocês estão mortas. Entenderam?
Elas não responderam. Correram dentro do mato como loucas e meu padrinho veio se aproximando de mim.
- Que coisa mais terrível. Como tiveram coragem?
- Isso não me dói mais padrinho. Ninguém gosta de mim. Sou cercado de inimigos desde pequeno, mas achei que a mulher que eu amo acreditasse em mim. Ela não confia, isso está claro.
- Filho... Tenha paciência. Agiram na fragilidade dela e você sabe disso.
- Padrinho não quero mais falar. Estou exausto. Vou sair...
- Sair? - meu padrinho estranhou. - Para onde?
- Não sei. Qualquer lugar. Preciso andar a cavalo.
Ele segurou firme o meu braço.
- Olhe aqui, se for a zona e fizer sua esposa chorar vou lhe dá uma surra que nunca lhe dei naqueles tempos todos que mereceu. Não me importa que seja um homem jovem e eu um velho, vou te massacrar.
Me soltei e não respondi. Eu sai de casa e fui buscar meu cavalo. Fui cavalgar sem sentido e sem rumo.
...
Enquanto eu tinha Elisa no colo, ouvi alguém bater na porta.
- Entre! - achei que fosse Rodolffo, mas era o Constantino.
- Oi filhas. Como estão?
- Estamos bem e o meu marido?
- Filha... Rodolffo teve mais um rompante de fúria e acho que nunca viveu isso.
- Acho que no casamento padrinho.
- Não sei se foi tudo isso. Mas hoje deve ter ouvido os seus gritos furiosos. Ele ameaçou as mulheres e elas correm atrás agora, mas não ficou só nisso.
- Ele fez o quê?
- Saiu de casa.
Eu fiquei arrasada.
- Tudo pode acontecer Juliette. Ele tá desiludido, eu o conheço. Está magoado por sua desconfiança.
- Agora tem a Elisa. Ele não fica longe dela muito tempo. Tenho certeza que ele foi apenas dá uma volta.
- Filha... Eu queria tanto lhe dizer que está certa, mas... - ele balançou a cabeça.
- Ele jurou para mim.
- Mas entendeu que você não confia nele. Rodolffo tem muitos traumas, dores que considero incuráveis. Ele é todo ferido e a qualquer pancada, isso sangra. Fique bem. Estou aqui, qualquer coisa me chame.
O padrinho saiu do quarto e me aproximei da nossa menina. Lhe dei beijinhos e cheirei.
- O papai não vai longe amorzinho. Daqui a pouco ele volta pra gente. Agora ele tem para quem voltar.
...