Capítulo 60

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15 anos depois...

Eu estava desembaraçando o cabelo de Amélie, minha caçula de oito anos, quando começo a ouvir a voz de Rodolffo ecoar pela casa. Querendo ou não, já imaginava o quê se passava.

- Mamãe... Acho que o papai está brigando com o Constantino de novo.

- Eles tem discutido bastante ultimamente. Vai brincar um pouco princesa. E depois diga a Eloise que pedi para te fazer um penteado.

- Mamãe a Eloise não vai fazer e a Elisa muito menos. Elas são mocinhas, não me dão atenção.

- Escute bem meu amor, aqui não pode haver desunião. Vocês são quatro filhos muito amados e esperados, não quero essa guerra aqui.

Estava bem difícil administrar a família nos últimos tempos. Elisa era a mais velha e já tinha 16 anos, depois dela vinha o Constantino que tinha 14 anos, em seguida vem a Eloise com 12 anos e por último a Amélie, nossa caçula com 8 anos.

Todos tinham suas personalidades, mas Constantino era o mais difícil dos quatro. Ele era impulsivo e muito rebelde, imagino eu que ele fosse uma cópia do Rodolffo mais jovem por isso se batiam de frente.

Desci e eles continuavam a bater boca.

- O quê fazem vocês discutirem tanto? Estou ouvindo do quarto. - falei firme e eles pararam na hora.

- Mamãe, é o papai... - Constantino disparou.

- O quê tem seu pai?

- Não me deixa andar na nuvem.

Rodolffo e eu tínhamos um combinado de que quando um falasse o outro não se metia.

- Constantino não pode andar na nuvem e sabe bem o motivo meu filho. Ela está na primeira cria, acaso não se lembra das nossas conversas?

- Mas a senhora falou de mulheres grávidas... É diferente.

- Não é diferente. Animais também precisam de descanso. Agora vá buscar outra ocupação na vida e deixe de teimosia.

Constantino saiu pisando duro, mas comigo ele não discutia e muito menos com as irmãs. Eu queria criar um homem e não um marginal.

- Constantino é muito teimoso. - Rodolffo disse suspirando.

- Eu sei que é, mas não pode bater de frente com ele sem argumentos.

- Ele não me respeita Juliette. Não sei, tenho medo dessa personalidade dele.

- Não tenha medo. Ele é difícil, mas é o nosso menino, nunca fará mal a ninguém. Sossegue.

Eu segurei a mão do meu marido e juntos entramos no escritório. Quando chegamos lá, ele me deu um beijo e depois um abraço.

- Não sou um bom pai.

- Ei... Pare com isso. Claro que é um bom pai. Nossos filhos te amam muito. Não é por um desentendimento que isso mudou.

- Sinto que não sei lidar muito bem com as coisas e ainda bem que só tivemos quatro. Se fosse mais, eu não ia administrar.

- Ainda penso que poderíamos ter tentado o segundo menino.

- Não mesmo. Estou bem satisfeito e já sinto o coração na mão só de pensar em entregar minhas meninas para qualquer um.

- Está lembrado da visita do Lohan filho, não é?

- Não estou. Nem quero.

- Rodolffo, a Elisa gosta dele.

- Ela só tem 16 anos Juliette... É muito nova. Eu não aceito.

- Não deve agir assim. Está sendo muito inflexível. Eu me casei aos 20, mas sei que casei nessa idade por que não tive escolhas, a maioria das moças casam antes.

- Eu não posso nem imaginar na minha menininha tendo que passar por todas as coisas que as mulheres casadas passam. - Rodolffo escondeu o rosto por que não gostava de chorar na minha frente.

Ele estava relutante e fazendo um drama totalmente desnecessário.

- Elisa não é tão inocente quanto eu, ao menos. Eu sempre conversei tudo com ela e ela sabe de muita coisa. Então, se ela quer nós não podemos impedir.

- O Lohan e Albane fazem muito gosto.  Disso eu sei, mas eu não faço gosto.

- Por que está com ciúmes da nossa filha. É só por isso. Você sempre disse que tem vontade de manter o legado Bernard. Nossos filhos são os únicos que podem fazer isso através dos nossos netos. Lembre-se dos conselhos do padrinho.

Constantino, o padrinho de Rodolffo, viveu com conosco por seis anos e teve uma vida tranquila. Não foi penalizado por ter assassinado Joseph e conviveu com três dos nossos quatro filhos, era um homem sem igual e deixou muita saudade com seu falecimento.

- Tá bem. Eu aceito. Mas só a côrte, eu não deixo que Elisa se case antes dos 18 anos e também não quero que ela beije na boca, esclareça isso com ela.

Eu gargalhei.

- Juliette... - ele me recriminou.

- Beijar é tão bom...

- Sim... É excelente, mas se ela puxar a nós teremos sérios problemas.

Caminhei até ele e lhe dei um beijo apaixonado. Poderíamos fazer amor ali mesmo por que desejo nunca nos faltava, isso se não fossemos interrompidos por batidas insistentes na porta.

- Já vai.

Rodolffo foi se sentar e eu abri a porta. Junto dela estavam nossas três princesas, Elisa era a mais alta de todas por que puxou ao pai, mas Eloise já tinha mais a minha estatura e a pequena ainda estava em fase de crescimento.

- Mamãe, nossa aula de piano. Esqueceu?

Elisa me interrogou.

- Não esqueci. Vamos agora.

Olhei para o meu marido e no olhar fizemos promessas. Era sempre assim, isso nunca mudou entre nós. Mesmo depois de anos ainda nutriamos o mesmo querer e que seja assim para sempre.

...

Alguns anos mais tarde.

"Foste a pessoa que mais deu significado aos meus dias, sem te conhecer vivi a vagar, mas quando surgiu na minha vida, tudo ganhou sentido.

De todas as esposas do mundo inteiro, ninguém se igualará a ti. Ninguém terá o mesmo riso e tão pouco a mesma sabedoria, sua doçura ninguém a terá. É inesquecível e inconfundível. É o meu amor eterno e um dia nos encontraremos na eternidade. Obrigada por tanto, por tudo. Pelos 26  anos mais lindos da minha vida, pelos nossos filhos e por todo amor que me dedicou. "

Rodolffo disse essas palavras, enquanto via sua esposa ser enterrada. Todos se perguntavam de onde ele tinha forças, mas ele dizia que ela era a razão de ainda as ter.

Seus filhos e netos lhe davam alguma razão de continuar. Rodolffo nunca mais se sentiu sozinho por que mesmo sem ter a sua presença física, Juliette ainda estava ali, ela esteve com ele até o último suspiro.

FIM!

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