Capítulo 12

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Acordei no dia seguinte no chão do quarto de vestir, mas estava sã e salva. Me arrumei de forma adequada e fui até o meu quarto. A cama estava arrumada, mas ali ainda tinha o cheiro de álcool e do perfume que Rodolffo usava.

Pelo sol que brilhava lá forajá era tarde do dia e minha criada de quarto estava me esperando no corredor.

- Bom dia senhora. Estava te esperando para arrumar seu quarto e te trazer comida. O senhor Bernard pediu que eu não te incomodasse.

- Bom dia. Onde está o meu marido?

- Ele não disse onde ia, mas não estava com a cara boa. Como foi ontem?

- Não quero que comente nossa vida íntima com ninguém. Se eu souber que estamos virando notícia nessa casa, dispenso seus serviços.

Minha criada de quarto não era má pessoa, porém era muito curiosa e certamente falava mais do que devia. Eu precisava impor limites.

- Sim senhora. Eu sou um túmulo. Quer que eu traga sua refeição para o quarto?

- Não precisa me trazer nada no quarto. Vou comer na cozinha.

- Tá bem. Vou limpar o seu quarto.

- Por favor, não troque os lençóis.

- Mas eu trouxe outros limpinhos.

- Não hoje. Deixe para outro dia.

- Tá bem senhora.

Desci para o escritório dele e ali não o encontrei, mas achei uma carta endereçada a mim.

"A minha esposa...
Estou saindo de viagem e vou para longe, exatamente a Paris. São dias de viagem, mas preciso resolver um problema na capital.
Hoje começam suas aulas de piano, como lhe prometi.
Ontem foi um dia que não merece ser lembrado, mas fique tranquila que meu primo nunca mais chegará perto de ti. Nos vemos, até logo."

Rasguei em todos os pedaços possíveis aquela carta. Era evidente que ele saiu de viagem com sua amante. Ela tinha o melhor dele sempre. Nos braços daquela mulher, ele ia ter a lua de mel, enquanto eu me conformava com a solidão.

...

Casa de Theodora.

- Arrume suas coisas. Tudo que couber em malas e baús. Leve suas jóias também Theodora. Viajaremos a Paris.

- Paris? Ah... Não creio. Juras?

- Por acaso eu minto Theodora?

- Não mais depois de ontem achei que ia brigar comigo. - ele veio me abraçar e a evitei. - O quê foi?

- Cuide. Arrume suas coisas. Temos que partir. É uma longa viagem.

- Eu sabia que a lua de mel seria comigo.

Theodora saiu pulando sem saber o real motivo de sua ida a Paris. Não aceito pessoas que me desobedecem e ela descompriu o nosso acordo. Se aproximar de Juliette foi sentença para o fim do nosso caso.

Arrumamos a carruagem e ela veio tentar me beijar.

- Não me toque em público.

- Que público? Não tem ninguém aqui. Todos sabem do nosso amor.

Eu segurei o queixo de Theodora e fiz ela me olhar.

- Não há amor nenhum Theodora. Eu não sei o quê é isso e nunca vou saber, então conforme-se.

- Está me machucando. - eu a soltei.

- Silêncio nessa carruagem. Entre muda e permaneça calada. Estou com a cabeça explodindo e totalmente enjoado.

Seguimos a nossa viagem no mais completo silêncio.

...

Com o clima favorável, conseguimos chegar a Paris em dois dias. Foram os dias mais longos da minha existência. Eu me sentia pesado, me sentia angustiado e pela primeira vez desde que me entendo por gente queria estar em casa.

Decidi que deixaria Theodora na primeira hospedaria que eu encontrasse. Quando a encontrei, escolhi um quarto e levamos todas as suas coisas para dentro.

- E cadê as suas coisas? Não trouxe nenhum baú?

- Theodora acabou. - eu disse firme.

Ela sorriu e abanou a cabeça.

- Acabou o quê? O seu casamento?

- O nosso caso. Eu não quero mais. Você não foi capaz de me obedecer, me afrontou e foi mexer com quem não devia.

- Não está terminando de verdade... É uma brincadeira.

- Antes que eu te dê uma surra e te mate, eu prefiro te deixar aqui e seguir minha vida.

- Eu vou matar a sua esposa.

- Nunca mais vai se aproximar dela. Eu te disse que ela era importante e você não acreditou, mas agora vai ficar aqui.

- Rodolffo você não sabe quem sou eu.

- Mas você sabe quem eu sou. Então não vacile. - joguei um bolo de dinheiro sobre a sua cama. - Siga seu caminho Theodora. Adeus.

Deixei aquela mulher para sempre e não olhei para trás.

- Para onde vamos senhor?

- Para a casa do meu padrinho, por favor.

...

Mansão Bernard.

Hoje eu terminava minha terceira aula de piano e estava super empolgada.

- Foi uma aula excelente senhora Bernard. - disse Louis meu professor de piano. - É muito inteligente, tem uma facilidade incrível em aprender.

- Obrigada Louis. O senhor está realizando um sonho na minha vida. Estou tão feliz com meu avanço.

- Será uma grande pianista. - ele disse sorridente. - Está evoluindo absurdamente bem.

Louis era um excelente professor, mas seus olhares me incomodavam um pouco e saber que ele era um homem solteiro me deixava ainda mais apreensiva.

- Rodolffo disse que vou muito bem nas notas. - eu usei isso como forma de me proteger.

- Seu marido está em casa? - ele disse surpreso.

- Sim. Ele está trabalhando no escritório. Somos recém-casados, ele não me deixaria sozinha.

O riso foi embora dos lábios de Louis.

- Então eu entendi errado senhora, perdão pela pergunta. Até amanhã?

- Sim. Até amanhã.

Me despedi do meu professor e só ia querer seus serviços até quando julgasse necessário, depois iria dispensar.

Eu não aceito meu marido e também eu não vou aceitar outro homem. Meu casamento pode ser uma farsa, mas a minha moral não é. A minha consciência é de que uma mulher casada deve honrar seu marido, que ele mereça ou não essa honra.

Fui tirada dos meus pensamentos quando o mordomo veio até mim, com um pequeno baú em mãos.

- Onde coloco essas roupas senhora?

- Que roupas são essas?

- Do vosso marido. Estavam na outra casa. Acabaram de trazer.

- Outra casa?

- A da amante. Estão desocupando o lugar. Ordem do senhor Bernard.

- E por que estão fazendo isso?

- Não sei senhora. Mas levo as roupas ao quarto de vestir do senhor?

- Sim leve. Mas eu faço questão de arrumar. Pode abrir o quarto para mim?

- Me acompanhe senhora.

Fui com o mordomo. Eu era curiosa e era a oportunidade perfeita de descobrir algo mais sobre o meu marido.

...

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