- Ora, ora, ora... - aquela voz era extremamente irritante e eu vi meu marido travar o maxilar.
Olhei para aquele senhor e era evidente que ele deveria ser o tio do Rodolffo e aquele encontro deixava meu marido temeroso, mas obviamente ele não deixava transparecer.
- Quem é vivo sempre reaparece Rodolffo, meu caro sobrinho.
- É uma pena que isso seja verdade, por que por mim, eu nunca mais reencontraria o senhor.
- Mas que desfeita... - ele era irônico. - Já não me convidou ao casamento e agora nem sequer me apresenta a sua esposa.
- Não é necessário. O senhor pode sair do nosso caminho?
- Minha jovem senhora... - ele dirigiu a mim. - Foste muito esperada por essas terras. É uma esposa muito desejada por meu sobrinho. Mas eu preciso lhe dizer que se casou com um homem muito pobre, mesquinho e insensível. Ele quer tudo para si e no fim, sempre está sozinho.
- O senhor deixe de me insultar.
- Você é um pobre. Tão pobre que só tem dinheiro. É uma terra infértil e seca. É um amaldiçoado. Nunca será capaz de ter uma família.
Rodolffo deveria sentir todas as dores do mundo com aquelas palavras terríveis. Todos os seus traumas vinham a tona e o tio já fazia isso sabendo do estrago.
- Não se preocupe com a minha vida. Eu sei que o senhor queria vivê-la. Seu despeito é por que eu não morri para que se aposse do quê é meu por direito. Conforme-se senhor Joshua Bernard. Eu vou continuar vivo e agora não estou mais sozinho. E como não é novidade, eu não tenho medo do senhor.
- Não tem mesmo? - ele sorriu sarcasticamente. - Deveria ter e sua esposa também.
Eu segurei a mão de Rodolffo e ele me olhou. Meus olhos lhe diziam que ele não deveria continuar a discutir e acredito que ele entendeu.
- Me deixe passar! - Rodolffo disse por último e o homem junto com dois funcionários abriram caminho.
Passamos por aquilo, mas era notório o estrago que aquelas palavras fizeram no meu marido. Eu fiz um carinho no seu ombro e ele não me olhava.
- Rodolffo... Ele não está falando a verdade. Você sabe disso...
Ele não respondeu.
- Não se abale. Ele só quis te irritar.
- A minha vida não é carregada de boa sorte. - ele disse ainda sem me olhar.
- Infelizmente nem a minha, mas eu não fico só pensando nisso, é importante deixar o passado no seu devido lugar. Não há nada que possamos fazer para mudar o quê já passou.
Rodolffo segurou minha mão e se virou para me olhar.
- Estamos chegando e eu vou ver algumas coisas com meus homens. Vou fortificar a nossa segurança, agora mais que nunca precisamos nos cuidar. Eu tenho que honrar o meu compromisso de proteger você.
- Calma... Não precisa de tanto.
- Precisa e mais tarde vou lhe explicar tudo. Agora vai chegar em casa e descansar, se alimentar também. Isso é importante.
- Não tenho fome.
- Tem que tentar meu amor. - ele beijou minha mão.
...
Quando chegamos finalmente em casa, meu marido me deu um beijo e saiu para ir ver as coisas que ele desejava.
Minha criada de quarto veio me ajudar e eu já fui logo subindo para o quarto que tinha a maioria das minhas coisas e a mulher entrou nele logo depois de mim.
- Posso lhe fazer uma pergunta senhora?
- Claro que sim. Pode perguntar.
- A senhora beija seu marido na boca? - ela me perguntou isso com um espanto anormal nos olhos.
- Qual o problema?
- Mulheres honradas não beijam o marido. O serve, mas beijos estão destinados as amantes.
- Não vou deixar de beijar o meu marido. Que se danem as normas das mulheres honradas. Eu sei do meu coração e da minha honestidade, não vou deixar de fazer o quê nos une e nos faz bem por que algumas pessoas acham isso errado.
- A senhora não deveria se dá tanto. O senhor Rodolffo não é um homem assim tão confiável.
Parece que o mundo inteiro queria envenenar o quê tínhamos.
- Só por que ele já teve uma amante?
- Não só por isso. As pessoas falam e falam muitas coisas. Que ele já fez muita coisa errada. Que já mandou matar gente.
Eu respirei profundamente e me sentei na cama.
- A senhora tem que desconfiar. Não acha que ele mudou da água para o vinho tão rápido? Esse homem não é o patrão que eu conheço.
- Por favor... Me deixe só.
Eu pedi e fui prontamente atendida. Minha criada se foi e eu fiquei pensando. Por que não era possível ser feliz e viver em paz? Por que as pessoas tentavam contra Rodolffo a todos os momentos? Por que todos querem destruir a verdade dele?
Eu relutei tanto para me entregar a ele e meu desejo é não me arrepender de ter feito isso. O amo muito para de repente acordar e perceber que vivo uma mentira.
O meu coração não aceita que ele é um monstro. Nunca aceitou e por causa disso eu me apaixonei. Ele é uma pessoa ferida, porém não acredito que seja um assassino. Sei que ele mostra uma face que as pessoas crêem que ele seja um homem mal, esse é o seu meio de sobrevivência e proteção.
Me deitei na cama e fiquei a pensar sobre isso, mesmo que eu tentasse controlar, acabei chorando.
...
Horas depois.
Cheguei do encontro com meus homens e busquei a minha esposa. Eu queria o quentinho dos seus braços e a encontrei dormindo no seu quarto. Tirei os sapatos, o cinto da calça e a camisa do corpo.
Deitei com ela na cama e fiquei sentindo o seu cheiro. Era um aroma único e que me trazia paz. Eu não a acordei, mas tempos depois ela despertou e ficamos um a olhar para o outro.
- Se sente bem? - eu perguntei fazendo um carinho no seu rosto.
- Sim. Eu tomei banho, tomei um caldo e até agora não vomitei. Depois deitei e estava te esperando até que dormi. Por que demorou tanto?
- Estava mostrando umas coisas que precisamos reforçar na propriedade. É importante para todos nós.
- Rodolffo... Isso é mesmo necessário?
- É... Meu tio vai tentar destruir todos nós e eu não quero ser pego desprevenido.
- Pelo o amor de Deus.
- Não se apavore. Mas eu quero estar preparado para o quê ele quer tentar. Dessa vez não vou ter piedade.
- Não diga isso.
- Se ele tentar qualquer coisa contra vocês, ele será um homem morto.
- Contra nós... - ela me corrigiu.
Lhe olhei com ternura e lhe dei um beijo na testa.
- Meu amor...sabe essas coisas todas que vem sentindo? Eu acho que elas não são de má digestão ou de outra enfermidade.
Nesse momento eu senti o coração bater descompassado.
- Eu acho que espera um bebê. Um pequenino pedacinho de nós dois.
As lágrimas molharam o seu rosto.
- Não fique triste. - eu disse enxugando as suas lágrimas.
- Não estou. Meu Deus... Isso sempre foi um sonho para mim. - ela disse me abraçando forte e me enchendo de beijos.
Comemoramos a noite inteira, tamanha era a nossa felicidade.
...