Capítulo 33

264 33 10
                                    

- Ora, ora, ora... - aquela voz era extremamente irritante e eu vi meu marido travar o maxilar.

Olhei para aquele senhor e era evidente que ele deveria ser o tio do Rodolffo e aquele encontro deixava meu marido temeroso, mas obviamente ele não deixava transparecer.

- Quem é vivo sempre reaparece Rodolffo, meu caro sobrinho.

- É uma pena que isso seja verdade, por que por mim, eu nunca mais reencontraria o senhor.

- Mas que desfeita... - ele era irônico. - Já não me convidou ao casamento e agora nem sequer me apresenta a sua esposa.

- Não é necessário. O senhor pode sair do nosso caminho?

- Minha jovem senhora... - ele dirigiu a mim. - Foste muito esperada por essas terras. É uma esposa muito desejada por meu sobrinho. Mas eu preciso lhe dizer que se casou com um homem muito pobre, mesquinho e insensível. Ele quer tudo para si e no fim, sempre está sozinho.

- O senhor deixe de me insultar.

- Você é um pobre. Tão pobre que só tem dinheiro. É uma terra infértil e seca. É um amaldiçoado. Nunca será capaz de ter uma família.

Rodolffo deveria sentir todas as dores do mundo com aquelas palavras terríveis. Todos os seus traumas vinham a tona e o tio já fazia isso sabendo do estrago.

- Não se preocupe com a minha vida. Eu sei que o senhor queria vivê-la. Seu despeito é por que eu não morri para que se aposse do quê é meu por direito. Conforme-se senhor Joshua Bernard. Eu vou continuar vivo e agora não estou mais sozinho. E como não é novidade, eu não tenho medo do senhor.

- Não tem mesmo? - ele sorriu sarcasticamente. - Deveria ter e sua esposa também.

Eu segurei a mão de Rodolffo e ele me olhou. Meus olhos lhe diziam que ele não deveria continuar a discutir e acredito que ele entendeu.

- Me deixe passar! - Rodolffo disse por último e o homem junto com dois funcionários abriram caminho.

Passamos por aquilo, mas era notório o estrago que aquelas palavras fizeram no meu marido. Eu fiz um carinho no seu ombro e ele não me olhava.

- Rodolffo... Ele não está falando a verdade. Você sabe disso...

Ele não respondeu.

- Não se abale. Ele só quis te irritar.

- A minha vida não é carregada de boa sorte. - ele disse ainda sem me olhar.

- Infelizmente nem a minha, mas eu não fico só pensando nisso, é importante deixar o passado no seu devido lugar. Não há nada que possamos fazer para mudar o quê já passou.

Rodolffo segurou minha mão e se virou para me olhar.

- Estamos chegando e eu vou ver algumas coisas com meus homens. Vou fortificar a nossa segurança, agora mais que nunca precisamos nos cuidar. Eu tenho que honrar o meu compromisso de proteger você.

- Calma... Não precisa de tanto.

- Precisa e mais tarde vou lhe explicar tudo. Agora vai chegar em casa e descansar, se alimentar também. Isso é importante.

- Não tenho fome.

- Tem que tentar meu amor. - ele beijou minha mão.

...

Quando chegamos finalmente em casa, meu marido me deu um beijo e saiu para ir ver as coisas que ele desejava.

Minha criada de quarto veio me ajudar e eu já fui logo subindo para o quarto que tinha a maioria das minhas coisas e a mulher entrou nele logo depois de mim.

- Posso lhe fazer uma pergunta senhora?

- Claro que sim. Pode perguntar.

- A senhora beija seu marido na boca? - ela me perguntou isso com um espanto anormal nos olhos.

- Qual o problema?

- Mulheres honradas não beijam o marido. O serve, mas beijos estão destinados as amantes.

- Não vou deixar de beijar o meu marido. Que se danem as normas das mulheres honradas. Eu sei do meu coração e da minha honestidade, não vou deixar de fazer o quê nos une e nos faz bem por que algumas pessoas acham isso errado.

- A senhora não deveria se dá tanto. O senhor Rodolffo não é um homem assim tão confiável.

Parece que o mundo inteiro queria envenenar o quê tínhamos.

- Só por que ele já teve uma amante?

- Não só por isso. As pessoas falam e falam muitas coisas. Que ele já fez muita coisa errada. Que já mandou matar gente.

Eu respirei profundamente e me sentei na cama.

- A senhora tem que desconfiar. Não acha que ele mudou da água para o vinho tão rápido? Esse homem não é o patrão que eu conheço.

- Por favor... Me deixe só.

Eu pedi e fui prontamente atendida. Minha criada se foi e eu fiquei pensando. Por que não era possível ser feliz e viver em paz? Por que as pessoas tentavam contra Rodolffo a todos os momentos? Por que todos querem destruir a verdade dele?

Eu relutei tanto para me entregar a ele e meu desejo é não me arrepender de ter feito isso. O amo muito para de repente acordar e perceber que vivo uma mentira.

O meu coração não aceita que ele é um monstro. Nunca aceitou e por causa disso eu me apaixonei. Ele é uma pessoa ferida, porém não acredito que seja um assassino. Sei que ele mostra uma face que as pessoas crêem que ele seja um homem mal, esse é o seu meio de sobrevivência e proteção.

Me deitei na cama e fiquei a pensar sobre isso, mesmo que eu tentasse controlar, acabei chorando.

...

Horas depois.

Cheguei do encontro com meus homens e busquei a minha esposa. Eu queria o quentinho dos seus braços e a encontrei dormindo no seu quarto. Tirei os sapatos, o cinto da calça e a camisa do corpo.

Deitei com ela na cama e fiquei sentindo o seu cheiro. Era um aroma único e que me trazia paz. Eu não a acordei, mas tempos depois ela despertou e ficamos um a olhar para o outro.

- Se sente bem? - eu perguntei fazendo um carinho no seu rosto.

- Sim. Eu tomei banho, tomei um caldo e até agora não vomitei. Depois deitei e estava te esperando até que dormi. Por que demorou tanto?

- Estava mostrando umas coisas que precisamos reforçar na propriedade. É importante para todos nós.

- Rodolffo... Isso é mesmo necessário?

- É... Meu tio vai tentar destruir todos nós e eu não quero ser pego desprevenido.

- Pelo o amor de Deus.

- Não se apavore. Mas eu quero estar preparado para o quê ele quer tentar. Dessa vez não vou ter piedade.

- Não diga isso.

- Se ele tentar qualquer coisa contra vocês, ele será um homem morto.

- Contra nós... - ela me corrigiu.

Lhe olhei com ternura e lhe dei um beijo na testa.

- Meu amor...sabe essas coisas todas que vem sentindo? Eu acho que elas não são de má digestão ou de outra enfermidade.

Nesse momento eu senti o coração bater descompassado.

- Eu acho que espera um bebê. Um pequenino pedacinho de nós dois.

As lágrimas molharam o seu rosto.

- Não fique triste. - eu disse enxugando as suas lágrimas.

- Não estou. Meu Deus... Isso sempre foi um sonho para mim. - ela disse me abraçando forte e me enchendo de beijos.

Comemoramos a noite inteira, tamanha era a nossa felicidade.

...

A esposa Onde histórias criam vida. Descubra agora