Capítulo 38

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- Vocês precisam conversar a sós... Com licença. - disse o meu padrinho.

Juliette queria a verdade e esse episódio eu nunca tinha lhe falado. Tomei coragem e falei sem rodeios.

- Eu tinha 19 anos e estava vivendo um momento de rebeldia, me envolvi numa briga e fui acusado de ser um assassino.

Eu vi seus olhos encherem de lágrimas. Minha esposa estava sensível e isso refletia diretamente nas suas emoções.

- Mas você sujou as mãos de sangue?

- Sim, por que se aproveitaram da confusão para matar aquele homem e seu corpo cheio de sangue caiu por sobre mim. Meu padrinho arrumou as testemunhas e me libertou.

- Não quero nem imaginar se nosso filho der tanto trabalho quanto você. Isso é muito complicado.

- Eu era revoltado Juliette. Não pode dizer que ninguém vai ser como eu, por que as minhas dores espero que ninguém sinta.

Juliette me olhou e segurou minhas mãos.

- Me perdoa. Eu errei em desconfiar de você e cogitar que é um assassino. Eu tenho que deixar de ouvir quem não quer o nosso bem.

Aquilo me chamou a atenção.

- E quem está falando mal de mim para você? E está colocando coisas na sua cabeça?

Juliette não queria dizer, mas por fim confessou. A sua criada de quarto estava envenenando ela contra mim.

- Não poderia ter me escondido isso Juliette. Essa mulher vai sair daqui hoje.

- Ela não tem de quê viver. - ela tentou argumentar.

- Inimigos meus não estão sobre o meu teto. - falei firme e depois lhe entreguei a carta mentirosa do meu tio.

- Que absurdo. Que tipo de homem  ele é para fazer isso?

- Ele é um crápula. Um homem diabólico. Não tem ideia de quem é o meu tio, mas eu tenho. Não posso vacilar.

- Rodolffo não pode fazer disso um confronto.

- Se ele tentar invadir o quê é meu, tenho ordens expressas para que acabem com a vida dele.

- Vai assassinar o seu tio?

- Ele quer nos matar Juliette. Se eu morrer, tudo isso que temos será dele.

- Por que não lhe doa um pouco do quê você tem? Rodolffo você já tem tanto...

- Eu poderia sim fazer isso. Tenho certeza que falta não me faria, mas ele nunca fez o mínimo para merecer a minha bondade. Meu tio só vive para acabar comigo e eu tenho certeza que ele foi o causador da tragédia na vida dos meus pais. Tem cartas de meu pai falando que o irmão havia lhe dito coisas e tudo isso fez meu pai surtar.

- Eu concordo. Eu li as cartas. - aquela informação me pegou de surpresa.

- Quando? Eu as tenho muito bem guardadas... Nunca imaginei que iria ler.

Juliette se aproximou de mim e me contou quando e em que circunstância tinha lido as cartas.  Aquele fato me deixou surpreso, mas também pude entender como seu modo de me ver mudou. Me senti um pouco estranho, confesso.

- Você está chateado? Eu sempre tive medo de contar. Sei que não é certo o quê eu fiz. - ela confessou.

- Não tenha medo de me chatear. Quando te conheci você não tinha nenhuma intenção em me agradar... Só espero que essa leitura de cartas não tenha influenciado em todo o resto que temos hoje.

- Não entendi...  - ela me olhou com a expressão afetada.

- Espero que não tenha me aceitado por pena. Tudo o quê não quero que sinta por mim é isso.

Juliette se afastou de mim e parecia estar muito contrariada.

- Pena eu tenho de mim. Eu não tive escolhas nessa vida e olhe onde estou... - ela olhou para a nossa sala. - Estou numa vida que nunca imaginei ter e tenho um marido inseguro ao ponto de achar que uma mulher se entrega a um homem por pena. - ela estava indignada.

- Eu só quero dizer que se foi pelas cartas...

- Cale-se... Não fale mais. E não foi pelas cartas. Talvez outra mulher no meu lugar teria medo de um homem filho de um assassino frio e calculista, mas o meu coração é tonto e quanto mais eu tentei evitar, mas ele amou você.

Percebi que palavras erradas transformam tudo.

- Calma meu amor. Me perdoa. Eu falo demais. Sempre foi assim.

- Duvide do que acha que é amor. Quem ama não é assim tão inseguro.

Juliette novamente me deixava envergonhado de mim mesmo. Ela subiu para o quarto em passos rápidos e eu não queria aborrecê-la nesse momento.

Fui atrás dela, mas ela bateu a porta e disse que queria ficar sozinha. Percebi que as coisas mudam rápido demais e que eu buscava o meu próprio fracasso.

...

A esposa Onde histórias criam vida. Descubra agora