Voltei para a loja atônita, o sobrenome se tornou um gatilho para os meus sentimentos reprimidos. Eu reconheceria aquele sobrenome em qualquer lugar. Em questão de segundos, memórias nubladas começaram a voltar à minha mente.
Me conhecendo bem, eu sabia que não conseguiria ficar na loja até as seis da tarde trabalhando como se fosse um dia qualquer. Decidi ir para casa a fim de digerir melhor tudo aquilo, então fechei a loja no mesmo instante, aproveitando as vantagens de ser minha própria chefe, apesar de saber que aquilo era ruim para os negócios.
Cheguei em casa ofegante, finalmente me permitindo extravasar a avalanche de emoções dolorosas que controlei até ali. Fui tomada por um amargo arrependimento ao me lembrar do que havia feito no fim do colegial. Eu tinha recortado o anuário. Sorri sem humor, naquele dia eu decidi que levaria apenas o que foi bom daquela época. Kate e nossa amizade. Jamais poderia imaginar que precisaria daquele álbum de babacas.
Criei coragem e caminhei até o armário, abri a porta e fitei minha caixa de recordações, eu não a abria há um bom tempo. Engoli em seco e a peguei colocando-a cuidadosamente sobre a cama. Alguns segundos se passaram e eu finalmente a abri. Encontrei uma folha seca, uma fita de cabelo, a embalagem do meu chocolate preferido. E, por fim, as fotos... recortadas. Suspirei frustrada.
A memória distorcida de um grupo de crianças me encurralando contra a parede, sem ter como fugir e a sinfonia de risadas debochadas e xingamentos racistas era difícil de esquecer — mesmo depois de tanto tempo. Entretanto, havia dois garotos que se destacavam mais nessa lembrança. Ambos de cabelos curtos e pretos, porém um deles tinha os olhos em um tom mais escuro, profundos e inconfundíveis. Droga!
Então eu estava certa, afinal. Eu havia mesmo reencontrado um dos babacas do colegial que era racista comigo. Eu só não esperava que ele fosse reaparecer depois de tanto tempo. E que, ainda por cima, reapareceria em uma nova versão.
Não me faria de cega diante dos seus encantos. Mesmo que eu quisesse seria impossível. Minha Nossa Senhora das Insulanas Desavisadas, Thomas Castillo havia se transformado em um homem lindo. Com seus cabelos escuros e ondulados na altura do pescoço, ele era uma visão e tanto. Seus olhos pretos eram perigosamente envolventes e seu bigode e barba rala lhe davam um quê de desarrumado, que só o deixava mais sexy.
Desde então, apesar de seu porte atlético, aquele rato de biblioteca vinha sendo a causa dos meus pensamentos confusos.
O universo com certeza estava me sacaneando, pois, inconvenientemente, eu estava atraída por um de meus algozes do ensino médio.
Depois de um banho relaxante me enfiei em um pijama confortável e me joguei no sofá determinada a não pensar na minha recente descoberta. Munida de pipoca de micro-ondas e Coca-Cola, liguei a TV, abri a Netflix e selecionei Dear White People, nada melhor do que uma série engajada e divertida para me distrair.
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Jazz, livros e o amor no meio disso
RomanceEsther Blossom respira música, já Thomas Castillo inspira livros. O que esses dois têm em comum além de traumas do passado? Esther é uma mulher forte que já sofreu muito e encontrou nas divas do jazz um reconhecimento e uma fonte de inspiração. Vivi...