Capítulo 34

12 3 1
                                    

Kate me deu uma cotovelada discreta chamando minha atenção, o que fez com que eu me virasse em sua direção. Ela franziu a testa me fazendo uma indagação silenciosa tentando entender o que estava acontecendo. Como explicar para ela se nem eu mesma compreendia? Minha relação com Thomas — agora, devido ao convívio, eu poderia chamar assim — era uma espécie de montanha-russa. O que tornava os meus sentimentos e atitudes sempre imprevisíveis.

Por isso, dei de ombros em resposta. Minha amiga revirou os olhos para mim e olhou de esguelha para Thomas e, em seguida, um sorriso de aprovação surgiu em seus lábios.

— A Julie está me ligando — disse ela mais alto que o normal fingindo surpresa em uma expressão teatral.

Estreitei os olhos e olhei para o seu telefone que estava com a tela apagada e mordi o lábio para conter o riso. Thomas também se virou para ela, que pegou o celular depressa, o que fez com ele arqueasse uma sobrancelha. Era óbvio demais sua intenção de nos deixar a sós, além de muito engraçado.

Assim que ela colocou o celular na orelha, se levantou e acenou se despedindo.

— Escolha interessante de roupa — apontei falando a primeira coisa que me veio à mente.

O que o fez segurar os dois lados da jaqueta de couro preta e analisar a camisa branca que vestia por .

— Não sabia que tinha decorado meu guarda-roupa — declarou ele dando um sorriso torto.

— Não decorei, é só que essa jaqueta lhe emana uma aparência de pirata, um pirata muito sexy tenho que admitir.

Envergonhada, desviei os olhos depressa.

— Esse é o apelido mais excêntrico que já me deram — falou divertido.

— Que tal a gente pedir uma bebida? — perguntei e sem esperar resposta acenei para o garçom.

Comecei a mexer no cabelo para ter o que fazer com as mãos amassando-os em direção à raiz. Fizemos nossos pedidos e então ficamos sozinhos de novo . Avistei Dylan saindo do palco e ele arqueou a sobrancelha ao reparar em Thomas do meu lado e sorriu em sinal de e assim como Kate acenou e foi embora.

Com uma breve pausa nas apresentações, um forte trovão se fez ouvir do burburinho das conversas no pub.

Levei um susto com o estrondo sentindo no mesmo instante uma , trovões traziam à tona lembranças da minha infância que não me faziam nada bem. Era como se eu voltasse no tempo toda vez que ouvia um trovão ressoar. Recordava-me nitidamente do raio que clareava o quarto do orfanato, que possuía apenas cortinas puídas. Todas as órfãs empoleiradas numa cama só abraçando umas às outras na vã tentativa de trazer algum acalento para as que tinham pavor, assim como eu.

Senti uma mão firme e quente sobre a minha que me trouxe de volta para a realidade. Pisquei desconcertada com o gesto de Thomas.

— Trovões te assustam? — perguntou preocupado, sem desviar os olhos dos meus.

— Na verdade, me fazem lembrar da época no — revelei sem graça como se ele estivesse desnudando minha alma, vendo uma parte minha que eu raramente costumava mostrar.

Thomas estreitou os olhos em uma muda indagação exigindo que eu explicasse melhor. Engoli em seco, verbalizar isso me expunha em muitas camadas, mas, para a minha surpresa, me vi partilhando com ele meu medo. E enquanto eu contava sobre o meu passado, ele não retirou sua mão de cima da minha.

Seu polegar corria levemente sobre o dorso da minha mão dificultando minha capacidade de raciocínio. E fazendo com que eu tomasse consciência de outras partes do meu corpo. Aquilo era para ser um consolo em forma de afago não uma carícia com segundas intenções. Mas aparentemente meu corpo não pensava assim.

Jazz, livros e o amor no meio dissoOnde histórias criam vida. Descubra agora