Capítulo 18

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Já passava das dez da manhã quando Thomas passou pela porta da The Drum's me fazendo arfar de surpresa e vergonha, afinal eu estava usando o espanador de pó como se fosse o microfone de uma das minhas divas do jazz. Com claro embaraço, ele se aproximou, sua expressão mudou instantaneamente para uma muito irritada e, ao mesmo tempo, sexy uma vez que ele parou em frente às caixinhas de som.

— Preciso falar com você! — ele gritou para se fazer ouvir.

Como não adiantou, porque, por pura pirraça, eu não quis escutar o que ele tinha a dizer. Se aproximou de mim, colocou as mãos em minha cintura e disse em meu ouvido:

— Vai abaixar o volume por livre e espontânea vontade ou vou ter que te persuadir a abaixar?

Um arrepio percorreu meu corpo e perguntei a mim mesma qual foi a chave que virei para que aquele rato de biblioteca de repente se transformasse em alguém tão sedutor?

Claramente intimidada abaixei o som, ainda que pensasse quais métodos de persuasão ele estava disposto a usar.

— Sou toda ouvidos. — Fui indiferente.

— Bom, eu lhe trouxe um presente. — disse ele timidamente. — Por favor, aceite como um singelo pedido de desculpas.

Arqueei as sobrancelhas e sorri zombeteira.

E, então, ele me estendeu um livro!

Abaixei a cabeça, olhei para um lado, depois para o outro. E por fim curvei os lábios em claro desagrado. Sério? Um livro?

— Você não poderia estar mais equivocado ao me presentear. — Dei de ombros.

— Algumas pessoas simplesmente agradecem.

— Eu não sou esse tipo de pessoa. — Dei um sorriso forçado.

Thomas suspirou visivelmente exasperado.

— Seu colegial foi um inferno?

— Foi sim — concordei de pronto.

— Você não teve um momento de paz?

— Não mesmo — enfatizei. — Você e o Brad estavam lá para garantir que eu não tivesse.

— Mas as coisas mudaram. Não sou mais um garoto, agora eu sou um homem.

Engolindo em seco chamei mais uma vez por Nossa Senhora das Insulanas Desavisadas. E que homem!

— Pode acreditar, eu não vou mais me omitir como no colegial. Não vou deixar acontecer de novo o que aconteceu naquela época.

Ficamos em silêncio por alguns instantes, instantes esses carregados de tensão já que ele não desviava nem por um segundo os olhos dos meus.

Tudo bem!

O homem que me encarava naquele momento nada tinha a ver com o adolescente babaca, na verdade pareciam duas pessoas completamente diferentes. Eu não tinha certeza se ele havia mudado, se havia deixado de ser racista. Éramos jovens na época, talvez ele só estivesse reproduzindo o sistema.

O que era aquilo, eu estava tentando encontrar justificativa para o meu opressor? Porque, obviamente, Brad continuava o mesmo e eles eram primos. Thomas percebeu que eu analisava tudo o que tinha ouvido e explicou:

, não sei se você se r-recorda. Então p-preferi en-encontrar um alvo do que ser o alvo. Ainda gaguejo quando fico nervoso — admitiu ele passando a mão no cabelo e bagunçando-o, sem jeito.

Será que eu estou o deixando nervoso, por estar gaguejando?

— Certo... — Foi só o que consegui dizer.

— Isso não é justificativa, eu sei disso agora. No entanto, eu só queria sobreviver ao colegial.

— Eu não posso culpá-lo por isso, era o que todos nós queríamos. — Dei de ombros. Afinal, que alternativa eu tinha?

Ele me estendeu o livro novamente e eu peguei por reflexo, já que, àquela altura, estava persuadida.

— Aí está a Esther que eu conheço — disse ele com um sorriso que chegava aos olhos.

— Você não me conhece — retruquei.

— Então me deixa conhecer. — Ele abriu um sorriso que fez meu coração errar as batidas.

Aquilo foi o auge do meu desconcerto, entretanto ainda consegui revirar os olhos em resposta. Não seria capaz de nada além disso, tinha certeza.

Incerta sobre como agir resolvi analisar o livro que tinha nas mãos. Li o título "O Grande Gatsby" e minha expressão deve ter me denunciado.

— O que foi? — perguntou Thomas, confuso.

— Eu não vou gostar desse livro.

— Como pode dizer que não vai gostar se nem ao menos começou a lê-lo? — questionou com descrença e um misto de diversão na voz.

Bufei em resposta sem disposição para argumentar.

— Preciso voltar para abrir a livraria. — Caminhou para a saída. — Aliás — disse ele virando para mim e me fitando de forma intensa —, Billie Holiday é uma ótima escolha para um dia de chuva. "Quando chove é sempre Billie Holiday".

— É você quem acha isso? — perguntei curiosa.

— Ah não, é o Early, personagem do livro Em algum lugar nas estrelas que menciona isso — esclareceu. — Eu li recentemente e não podia perder a oportunidade de fazer uma referência.

Aquilo me surpreendeu e, como eu permaneci quieta, ele prosseguiu:

Dê uma chance ao livro. E, principalmente, dê uma chance a mim.

Fui incapaz de responder e fiquei olhando emudecida enquanto Thomas deixava a The Drum's.


Boa noite pessoal, fiquei uma semana sumida, me desculpem por isso. Essa semana volto para postar mais um capítulo pra vocês!!! Espero que gostem deste capítulo, não deixem de me contar nos comentários o que acharam!!! 

Jazz, livros e o amor no meio dissoOnde histórias criam vida. Descubra agora