Já passava das seis da tarde quando fechei a loja. Sorri com escárnio ao me lembrar de que havia esquecido de pegar o presente que Thomas havia me dado e dei de ombros.
Assim que me virei em direção a calçada fui abordada de forma súbita por um batedor de carteiras, nesse caso de bolsas constatei. Ele puxou minha bolsa e, na tentativa de impedi-lo, eu a segurei, aparentemente não forte o bastante, pois acabei caindo no chão. O ladrão se virou para começar a fugir, mas deu de cara com Thomas, que pegou minha bolsa de volta no mesmo instante.
Só restou ao estranho sair correndo e de mãos abanando. Então o Capitão Gancho da livraria me estendeu a mão me ajudando a levantar, uma vez que eu permaneci no chão assistindo a cena se desenrolar. Sua proximidade era perturbadora e o charme que emanava dele desconcertante.
— Você se machucou? — questionou ele preocupado.
Antes de responder, soltei rapidamente sua mão tentando ignorar o formigamento que se espalhou por todo meu corpo com aquele simples toque.
— Não, eu estou bem... — falei em um fiapo de voz. — Foi só um susto — completei aturdida.
O que pareceu diverti-lo, já que deu um estonteante meio sorriso no canto dos . Por minha vez, fechei a cara em uma carranca de muda repreensão. E Thomas deixou que seu sorriso até então "acanhado" se estendesse por toda a sua boca bem desenhada.
— Pensei que tivesse parado com isso — alfinetei-o.
— Isso o quê? — perguntou ele curioso.
— Isso de bancar o super-herói.
Ele sorriu de novo. Um sorriso zombeteiro e irritantemente sexy para a minha já tão comprometida sanidade.
— Sabe como é, heróis nunca estão realmente de folga — brincou.
Ao que parecia, ele era uma espécie de Jack Sparrow, só que mais para o lado heroico do que da conveniência.
— Brincadeiras à parte, você podia ter se machucado. — ele interrompeu sem saber minha inusitada comparação.
— É, mas eu não me machuquei, além do mais, se você não tivesse aparecido assim que eu me recuperasse do susto, eu teria corrido atrás daquele cretino.
— Vem, deixa eu te levar para casa — ofereceu ele.
Mais abalada do que eu gostaria de admitir aceitei sua oferta gentil de me acompanhar até em casa com um meneio de cabeça.
Deixa só eu pegar o outro capacete na livraria.
Só então notei que ele segurava um capacete em uma das mãos e arqueei a sobrancelha sugestivamente concluindo que a moto estacionada entre a The Drum's e a New Orleans Bookstore pertencia a ele.
Segundos depois, Thomas estava de volta. Ele me estendeu um capacete com uma expressão de completa euforia que ele nem ao menos tentava esconder, senti minhas bochechas arderem enquanto o pegava de suas mãos.
Coloquei o capacete meio sem jeito e ele se aproximou para me ajudar a fechá-lo, então subiu na moto, pôs o capacete e a ligou acelerando uma vez. Subi logo em seguida me sentando atrás dele. Passei as mãos levemente por seu tronco.
— Melhor segurar firme em mim — declarou ele.
— Assim está ótimo — respondi.
No entanto, quando ele acelerou novamente a moto, eu me agarrei a ele com força, mais senti que ouvi o riso dele. O calor e o perfume dele se irradiavam até meu corpo enquanto voávamos pelas ruas sentindo o vento fresco da noite. Era uma sensação empolgante, tudo foi ficando para trás como um borrão a uma velocidade incrível.
Quinze minutos depois estávamos em frente ao meu loft. Ele estacionou, saltou da moto me ajudando a descer logo em seguida. Tirei o capacete e o estendi para ele ajeitando os meus . Ficamos em um silêncio confortável, em um estranho clima de cordialidade. Caminhei me colocando entre Thomas e a porta de entrada estabelecendo, ainda que mentalmente, um limite. Que, pensando bem, já havia sido ultrapassado duas vezes naquele dia.
Fico te devendo essa — falei agradecida.
— Leia o livro e estaremos quites. — Ele piscou para mim.
Engoli em seco reagindo ao gesto de pura perdição.
Me atentei logo em seguida para o que ele havia falado. Mas que droga! Não havia um jeito agradável de começar a explicar a ele meus motivos para não querer ler o livro.
Dizem que a verdade nunca é bonita, então é melhor arrancar o band-aid, rápido e eficaz. Dói de uma vez só e logo passa. Pelo menos é o que dizem.
Depois de um tempo considerável sem postar novos capítulos estou de volta pessoal. Não desistam desta história, continuem por aqui lendo, curtindo e comentando. Até mais!!!
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Jazz, livros e o amor no meio disso
RomanceEsther Blossom respira música, já Thomas Castillo inspira livros. O que esses dois têm em comum além de traumas do passado? Esther é uma mulher forte que já sofreu muito e encontrou nas divas do jazz um reconhecimento e uma fonte de inspiração. Vivi...