Capítulo 3

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Fechei meus olhos apenas para descansar as pálpebras, disse a mim mesma. No entanto, senti que alguém se aproximava e os abri rapidamente. Estreitei os olhos agora meio embaçados, aquilo sem dúvidas era um dos efeitos do álcool: a vodka, a cerveja e vários outros venenos que eu havia ingerido estavam me fazendo alucinar. Eu estava tendo uma visão do cara da livraria. Oh, céus!

Estiquei minha mão e toquei seus cabelos longos. Fui abruptamente puxada para a realidade me dando conta de que ele estava bem ali na minha frente. Com certeza, ele se parecia com um pirata, pensei. Uma versão sexy do Capitão Gancho, só que com as duas mãos.

Aquela comparação soou para mim sexy e divertida e acabei sorrindo feito uma idiota. Ele tirou minhas mãos de seu cabelo de modo gentil. Aquele simples toque pareceu queimar minha pele. E abalada como fiquei, falei a primeira coisa que me veio à mente:

— Acreditei que não entrasse onde houvesse música. — Meu vizinho me olhou de soslaio enquanto um pequeno sorriso surgiu em seus lábios.

— Não sou tão radical assim — disse ele se sentando ao meu lado. — Além do mais vim pela comida.

Revirei meus olhos, mas ele pegou mesmo o cardápio de comida.

— Tome uma dose comigo — instiguei.

— E por que eu faria isso?

— Vejamos. Primeiro: porque mandou que eu abaixasse a música, quando ninguém me diz o que fazer. Segundo: Me mandou para o inferno. Foi deselegante!

Dei um último gole e ergui o copo para a atendente e fiz sinal de dois com os dedos.

— Quanto a isso me arrependo. — Ele me encarou. — Só estava nervoso. — Nervoso? — Mas notei que abaixou a música em outro momento.

— Fiz como um único ato de gentileza — disse mostrando minha rebeldia através de um simples gesto. — É sua única ficha.

Me virei para ele, seus olhos estavam grudados em mim. O calor do álcool se misturava ao magnetismo dos seus olhos escuros e meu coração perdeu a noção. Quis emitir um alerta: "Inimigo, coração estúpido!".

— Única? As pessoas recebem fichas para isso em sua vida?

— Sim, agora beba antes que você perca a ficha da boa companhia em um bar.

Ele fez o que pedi, analisei a cena. Primeiro, ele umedeceu os lábios; depois, encostou-os no copo de vidro, e, como se não se importasse muito, virou todo o conteúdo.

Piscando voltei a encará-lo com atenção. Ele passou o dorso da mão sobre a boca e olhou para mim de um jeito desconcertante, de modo que resolvi que era a minha vez de virar a bebida âmbar diante de mim. E foi o que eu fiz, só não esperava que tudo fosse girar logo em seguida. Então mãos firmes me ampararam.

— Vem, deixa eu te levar para casa apesar de ter quase certeza de que você fugiu de um hospício.

— Ei, não precisa me ofender! — o repreendi.

— Desculpe, não quis ser rude.

— Tudo bem, amanhã eu não vou me lembrar de nada mesmo — disse dando de ombros. — Aliás, você é muito bonito e misterioso também — elogiei soluçando logo em seguida.

Ele me conduziu para fora do pub pacientemente enquanto eu tropecei uma ou duas vezes pelo caminho. Quando, enfim, chegamos à calçada, o ar fresco da noite pareceu clarear meus pensamentos: "O que é que está acontecendo aqui?".

O estranho sexy abriu uma garrafa d'água e me estendeu, eu aceitei e tomei longos goles.

— Além de implicar com a música alheia, você também é salva-vidas nas horas vagas? — indaguei devolvendo a garrafa agora pela metade.

Ele me contemplou com um meio sorriso absurdamente sensual antes de responder.

— Bem, o pub não demora a fechar — constatou divertido. — E você está longe do que eu chamaria de sóbria.

Okay, errado ele não estava.

— Apesar de você estar razoavelmente desperta, não acho que deve voltar para casa sozinha.

Engoli em seco meio surpresa e, ao mesmo tempo, desesperada, com a possibilidade dele se oferecer para me acompanhar até em casa. No entanto, não era o que ele tinha em mente. Com a elegância de um felino, ele se aproximou da calçada e acenou para um dos táxis que vinham a toda pela rua. Não demorou para que um parasse diante de nós.

— Espero que não erre seu endereço. Boa noite.

Antes que eu pudesse protestar, ele começou a se afastar me dando as costas pela segunda vez naquele dia.


Jazz, livros e o amor no meio dissoOnde histórias criam vida. Descubra agora