Capítulo 21

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Eu estava atendendo um cliente de verdade quando Kate entrou na loja. Embalava uma guitarra para um garoto bastante entusiasmado, que comprou também cabos e amplificadores, segundo ele um investimento para a sua banda. Quando ficamos sozinhas, Kate me estendeu um copo de café que eu sabia que continha creme e que aceitei imediatamente.

Minha amiga contornou o balcão cantarolando Four Women, que tocava naquele momento quando seus olhos encontraram o famigerado livro próximo a caixa registradora.

Revirei os olhos achando graça do olhar inquiridor que ela me dirigiu, como se tivesse encontrado um cadáver e não um livro.

— É claro que quero saber sobre isso. — primeiro por que estava aborrecida quando entrei aqui?

— Nada demais, apenas o racismo nosso de cada dia — contei suspirando.

— Isso não me surpreende, infelizmente. O livro tem algo a ver com isso? — quis saber Kate.

— Não, o livro tem a ver com Thomas — afirmei mordendo o lábio inferior ao mesmo tempo que tentava suprimir um sorriso idiota.

— Thomas Castillo? — indagou.

— O próprio!

Kate colocou seu copo de café sobre o balcão e pegou o livro fazendo uma careta. Obviamente compartilhávamos da mesma opinião a respeito daquela obra em questão.

— Ao que parece, ele não foi muito feliz na escolha do livro.

— Infelizmente não. Mas achei o gesto fofo — confessei — ao me dar o livro de presente, como um pedido de desculpas por toda babaquice cometida no colegial.

Balancei a cabeça ao me lembrar de sua visita ao mesmo tempo em que senti meu estômago se contorcer. Kate me encarou arqueando as sobrancelhas, mas o que quer que estivesse pensando guardou para si mesma.

— Eu disse a ele como me sentia a respeito do livro e aproveitei o ensejo para deixar claro que ler não é a minha praia. Espero que ele desista da ideia de me dar outro livro. — Dei de ombros.

— Ele ficou de te dar outro livro? — perguntou minha amiga com um largo sorriso.

— Sim, acredita? De acordo com ele, um que de fato me represente.

— Com tanto empenho assim, não tem como não achar fofo — ela me alfinetou.

— É, mas todos os achismos em relação ao Thomas acabam aí — frisei.

— Se é o que diz, quem sou eu para discordar. Bom, preciso ir, tenho que passar na loja ao lado — ela zombou.

— Não é possível que você vai confraternizar com o inimigo? — julguei com fingido ultraje.

— Um inimigo muito sexy, charmoso, com atitudes muito fofas. Não nos esqueçamos disso — provocou.

— Kate, isso não tem graça! — ralhei contrariada.

— Eu gosto de ler, ele tem uma livraria, simples assim. Além disso, quero saber se o último lançamento da Chimamanda Ngozi Adichie já está disponível . Eu a olhei com um ar especulativo, que deixou bem claro que eu não fazia ideia de quem era a mulher que ela mencionara. Kate pegou seu copo de café já frio àquela altura e suspirou um tanto quanto aborrecida. Seguiu em direção à saída e, por um momento, achei que ela não fosse se despedir, então ela se virou para mim e disse:

— Esther, não basta só ouvir mulheres negras empoderadas, é preciso lê-las também. — Kate me soprou um beijo e deixou a loja.



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