Capítulo 28

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— Pensei que não fosse mais vir — Dylan disse assim que me sentei ao seu lado em um dos bancos da movimentada Jackson Square.

— Me desculpe, tive um contratempo bem na hora de fechar a loja.

Ele estreitou os olhos e me examinou por alguns segundos:

— Algo me diz que tem a ver com a forma humana do problema.

Revirei os olhos em resposta consternada com a perspicácia dele.

— Aham... — confirmei.

— Esther, você já se envolveu com outros caras antes...

— O Thomas não é qualquer cara, Dylan — interrompi-o.

— Deu pra perceber que não — falou ele em um tom conspiratório. — Eu nunca a vi tão inquieta assim.

Reprimi um gemido e me remexi desconfortável ao seu lado no banco.

— Sinto que vem um, mas por aí, não é?

Assenti .

— Ele é um dos garotos que era racista comigo no colegial. Descobri naquele dia em que fui entregar a famigerada caixa a ele na livraria.

— Como?

— Vi sem querer o sobrenome no endereço escrito na caixa. E, então, me lembrei de tudo.

— Esther, eu sinto muito, você tem certeza de que é realmente ele.

— Por que essa pergunta?

— Porque ele não me parece ser esse tipo de pessoa, só isso — disse ele dando de ombros.

— Nem tudo é o que parece — argumentei.

— Eu não costumo me enganar, você sabe. Mas, enfim, então essa é a razão para você estar tão resistente?

— E você acha pouco? — perguntei indignada.

Ele gargalhou sacudindo a cabeça.

— Nem tudo é o que parece — repetiu ele.

— Nesse caso, acho que é sim. E eu já disse isso.

— Bom, então vou dizer outra coisa. É preciso dar tempo ao tempo — Dylan falou bastante enigmático.

Quando eu ia perguntar o que ele queria dizer com aquilo, meu celular tocou. Era Kate me perguntando se eu estava em casa e se ela poderia ir até lá. Notei que sua voz estava embargada e fiquei preocupada. Me de Dylan e segui para casa.

***

Kate me esperava do lado de fora, seus olhos vermelhos e inchados delatavam que algo não estava bem. Eu a abracei e murmurei um "vai ficar tudo bem". O que quer que estivesse acontecendo eu estaria do seu lado.

Entramos e nos sentamos no sofá. Kate pegou uma almofada e a abraçou contra o peito em completo desalento.

— O que houve? — perguntei aflita.

— Contei para os meus pais sobre minha orientação sexual e a conversa não foi nem de longe como eu esperava, Esther — respondeu e lágrimas escaparam dos seus olhos.

— Sinto muito, de verdade — disse segurando sua mão. — Talvez eles só precisem de tempo para digerir isso melhor — argumentei, em uma tentativa de consolá-la.

Ela soltou minha mão para secar as lágrimas que rolavam copiosamente por seu rosto.

— Acho que não. Primeiro, eles ficaram chocados; depois, esbravejaram e, em seguida, se mostraram desapontados. Mas a pior parte foi quando atribuíram isso ao fato de eu ter ido estudar na Juilliard e disseram que é só uma fase.

Engoli em seco sem saber o que dizer a ela. Os pais de Kate sempre foram amorosos e a apoiaram em tudo, além do mais eles nunca me pareceram preconceituosos. No entanto, eu não tinha experiência com pais para entender o porquê deles reagirem daquela forma.

— Sabe, eu sempre me senti presa, fingindo ser uma coisa que eu não era o tempo todo. Eu só era eu mesma com você que sabia e não me julgava.

— Lamento muito que tenha se sentido assim, não posso imaginar o quanto foi difícil para você.

— Até me mudar para Nova York eu me sentia sufocada, estava sempre pisando em ovos com medo dos meus pais.

— Quer beber alguma coisa? — ofereci — Um café ou uma cerveja.

Kate devolveu a almofada ao sofá e se levantou.

— Cerveja com certeza, preciso anestesiar essa dor que estou sentindo.

Me levantei e caminhei em direção a geladeira com minha amiga atrás de mim fungando algumas vezes. Demorei alguns instantes para encontrar o abridor, o que fez com que Kate desse um pequeno sorriso.

— Se quiser pode passar a noite aqui, podemos assistir um filme — sugeri.

— Obrigada, mas prefiro voltar para casa, não quero que pareça que estou me escondendo. Eu demorei a sair do armário e não pretendo entrar novamente.

— Estou muito orgulhosa de você, da mulher que se tornou.

— Também tenho orgulho de você, amiga, e da mulher que se tornou. Já vou indo, vou ligar para a Julie no caminho e contar a ela o desastre que foi a conversa com meus pais.

— É a primeira vez que fala o nome da sua namorada — observei sorrindo.

Kate desviou os olhos para o chão ligeiramente envergonhada, o que foi muito fofo. Nos despedimos e depois de um banho relaxante e demorado resolvi ler um pouco. Antes de dormir me peguei pensando em uma forma de ajudar Kate e decidi que iria conversar com os pais dela.



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