Capítulo 23

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Saímos da delicatéssen para o agradável ar fresco da noite. Parei junto ao poste para pegar a minha bicicleta vermelha e com uma cesta de palha presa à frente; era o meio de transporte que eu dispunha. Então começamos a caminhar devagar enquanto eu empurrava a bicicleta.

— Também tenho uma... uma bicicleta quero dizer — contou ele.

— Ah, sim, bom, é um meio de transporte bem econômico, além disso eu adoro pedalar — brinquei levando uma das mãos no cabelo e amassando-os levemente.

— Não costumo pedalar com frequência, como gosto de chegar na hora certa/ser pontual posso dizer que sou refém da minha .

— O que me lembra que eu costumava querer esganar o dono daquela Harley porque ela estava estacionada bem em frente à fachada da The Drum's fazendo com que meus clientes se distraíssem quando ele estava ao lado o tempo todo — soltei uma risada debochada para o pirata .

— Não... não era a m-minha intenção p-prejudicar seus negócios — gaguejou ele em tom de desculpas e imediatamente veio em minha mente a imagem de um garoto de cabelos curtos e olhos pretos expressivos com dificuldade em terminar uma frase.

Engoli em seco e parei de caminhar abruptamente, assustada com a lembrança e, principalmente, pelo efeito que ela teve sobre mim.

— Você trouxe algo para mim ou estou enganada? — perguntei subitamente ansiosa para mudar de assunto.

"Eu era uma C-O-V-A-R-D-E", pensei, e o pior de tudo é que esse comportamento vergonhoso só se manifestava na presença desconcertante de Thomas. Com outros caras, eu tirava o flerte ou qualquer outra interação de letra. Mas com aquele cara em questão eu era um verdadeiro desastre.

Thomas demorou um pouco para registrar a súbita mudança de assunto e, então, me estendeu a sacola que carregava. Segurou minha bicicleta em seguida para que eu pudesse pegar a sacola. Argh! Toda aquela gentileza acabava comigo.

Que era um livro eu já sabia, mas, quando abri a sacola pegando-o sem nenhum entusiasmo e li o título, fui claramente surpreendida. Tinha em mãos um exemplar de "Eu sei porque o pássaro canta na gaiola", de Maya Angelou. Ainda que eu não gostasse de ler, a autora da obra não era qualquer autora, quero dizer, era Maya Angelou. Uma das mais influentes figuras da cultura afroamericana. Mulher negra, ela era um ícone multifacetada sendo poetisa, atriz, cantora, escritora, bailarina e até mesmo condutora de bondes, entre tantas outras coisas. Além de defensora dos direitos civis e da igualdade. Uma importante porta-voz das pessoas negras e, sobretudo, das mulheres negras.

Alguns instantes se passaram sem que eu fosse capaz de falar e Thomas me encarava ansioso. Estava profundamente tocada com o livro que ele escolheu para me presentear.

— E então, você gostou? — indagou impaciente.

Me empertigando, troquei o peso do corpo de uma perna para a outra antes de responder sua pergunta.

— Eu não gostei... Eu amei, Thomas! — confessei por fim.

E ele me contemplou com um sorriso que lhe alcançava os olhos.

                                                                         ***

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Jazz, livros e o amor no meio dissoOnde histórias criam vida. Descubra agora