Capítulo 33

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Não permiti que Thomas me levasse para casa. Me despedi, peguei minha bicicleta na The Drum's e fui para o loft com muito o que pensar. Que decepção, eu estava quase me simpatizando com ele depois de hoje, o que não era recomendável.

Sendo sincera comigo mesma, desde que Thomas havia entrado na minha vida eu não tinha me interessado por mais ninguém, constatei. Os outros caras simplesmente não despertavam minha atenção. Em meus pensamentos e no meu campo de visão, só existia ele.

A caminho do banho, meu telefone vibrou com uma mensagem de Kate.

Kate: Esther, onde você se meteu?

Esther: Acabei de chegar em casa. Por quê?

Kate: Trabalhando até essa hora?

Esther: Na verdade, não. Estava com Thomas.

Ela me enviou um emoji de choque.

Kate: Venha até o Spotted Cat. Tenho muitas coisas para lhe contar. P.S.: Esbarrei com Dylan aqui, estamos tomando um drink.

Esther: Vou tomar um banho e já vou.

Corri para o banheiro a fim de tomar um banho rápido eufórica com a oportunidade de pôr meu lado boêmio para fora, uma vez que ele andava hibernando ultimamente.

Vesti minha jardineira jeans, que poderia até andar sozinha de tanto que eu a usava, uma camiseta preta de alcinhas, prendi meu cabelo em um afropuff, calcei minhas botas e saí esbaforida ao encontro de Kate e Dylan.

Aquele era um dos meus lugares favoritos para ouvir música ao vivo em Nola, sem contar que ficava a poucos passos do French Quarter, porém afastado da agitação e do caos costumeiro da Bourbon Street, pequeno e intimista era onde os músicos locais se apresentavam tocando com todo o coração variando entre o jazz tradicional e moderno, blues, klezmer e vários outros gêneros. E a melhor parte: servia boas bebidas a preços razoáveis.

— Finalmente, Esther! — disse Kate assim que colocou os olhos em mim.

— Olá para você também! — Revirei os olhos. — Dylan, já faz um tempo desde a última vez que nos vimos — eu me dirigi a ele.

— É verdade, minha querida. Como você está?

Ele se levantou e depositou um beijo casto em meu rosto puxando gentilmente uma cadeira para mim. Sorri em resposta me sentando em seguida.

— Vou bem e você? — Percebi que havia um brilho diferente em seus olhos e estreitei os meus fitando-o em muda indagação.

Ele abriu um largo sorriso.

— Como você conseguiu guardar esse segredo de mim, Esther?

Bati palmas e dei gritinhos de satisfação. Kate havia finalmente contado a ele sobre seu projeto e lhe feito uma proposta, pelo seu semblante ele com certeza tinha aceitado.

— Pode confessar, o surpreendi, não foi? — perguntei divertida.

— Sem dúvidas.

— Mas não pense que foi fácil, aquele dia na praça tive que fazer um esforço gigante para não lhe contar — admiti.

— Imagino, não é do seu feitio ficar calada, não é mesmo? — brincou ele. — Agora se me dão licença, meninas, é a minha vez de tocar.

Ele se afastou indo em direção ao pequeno palco deixando-nos a sós. Kate tinha um cálido sorriso nos lábios.

— Sua relação com Dylan é tão linda, tão . Fico feliz que, enquanto eu estive longe, ele tenha estado aqui para você.

— É, eu tenho sorte de meu caminho ter se cruzado com o dele, ele é o mais próximo que eu tive de um pai.

— Falando em pai, estou comemorando, Esther, meus pais enfim me aceitaram. Não que isso seja uma novidade para você, já que teve participação nisso.

— Não foi nada, Kate, no mínimo um empurrãozinho. Fico feliz que as coisas tenham se resolvido.

— Muito obrigada, agora eu posso dar andamento no projeto, já que não preciso mais concentrar minhas forças nesse assunto.

— Que bom que pelo menos uma de nós pode redirecionar a força dos pensamentos.

Kate estreitou os olhos para mim, indagadora.

— Com toda essa comoção acabei me esquecendo, você estava com Thomas — disse ela arqueando uma sobrancelha, já criando teorias românticas na cabeça.

— Sim, eu estava, mas não é nada disso que você está pensando. Eu terminei de ler o livro que ele me deu e nós nos encontramos para conversar sobre ele. Ele meio que não me deu escolha — completei me justificando.

— Então não foi um encontro? — perguntou ela desanimada.

— Não, Kate, definitivamente não.

Ela bufou contrariada.

— Pelo menos, você leu um livro de uma mulher preta. Estou orgulhosa.

— Sim e foi maravilhoso — confessei.

— Suponho que agora você não o odeie tanto assim.

— Eu meio que passei a gostar dele — me ouvi dizendo — Com algumas ressalvas, é claro, já que o passado não pode ser apagado.

— Esther, você já parou para pensar que talvez o passado não seja necessariamente como você se lembra?

Quando eu abri a boca para questionar minha amiga, fui interrompida pela visão de Thomas que caminhava lentamente em nossa direção. Nossa Senhora das Insulanas Desavisadas, eu ainda não tinha começado a beber e já estava tendo alucinação?

— Esther, você convidou ele para vir? — Kate perguntou confusa.

— É claro que não, por que eu faria isso? — sussurrei enquanto ele se aproximava.

Deixei que meus olhos o contemplassem o que afetou todos os meus sentidos, seus cabelos estavam novamente presos em um coque. A pequena argola em sua orelha se destacava à medida que refletiam as luzes do ambiente.

— Imagino que você tenha vindo pela comida — alfinetei.

Thomas me lançou um olhar indecifrável antes de responder:

— Não, não dessa vez.

Kate olhava de Thomas para mim tentando entender aquela interação entre nós.

— Se importam se eu me sentar com vocês? — ele perguntou apontando para a cadeira vazia.

Notei uma pulseira de couro em seu pulso bem como alguns anéis em seus dedos. Engoli em seco, tudo nele despertava meu interesse.

— Claro que não, fique à vontade — falou Kate simpática.

— Preciso de algo que contenha álcool — disse para mim mesma enquanto Thomas se sentava entre mim e Kate.

— Quantas fichas você tem para esta noite? — inquiriu ele me fitando intensamente.

Estremeci com o calor que emanava de seus olhos escuros.

— Você pode beber comigo e descobrir. — Me ouvi dizendo.

Oh, céus! Onde eu estava com a cabeça?! A junção de álcool, Thomas e eu talvez não fosse uma boa ideia.

Entretanto havia uma parte de mim que queria esquecer ao menos por ora que ele era Thomas Castillo, o garoto do colegial, então decidi que naquela noite ele seria apenas Thomas.

— Para mim parece perfeito — disse ele em uma voz cálida.

O que me desarmouinstantaneamente fazendo com que qualquer resquício de hesitação se dissipasse.

Pessoal me desculpem pela ausência nas últimas semanas, não desistam de mim e nem desta história que entrou agora na reta final. Prometo tentar ser mais frequente com as postagens dos capítulos! Obrigada a todos que estão lendo! 

Jazz, livros e o amor no meio dissoOnde histórias criam vida. Descubra agora