Quando o show acabou resolvi ir à toalete antes de encontrar Dylan e apresentá-lo a Kate, que ficou me esperando na mesa enquanto devorava um po-boys. Caminhava até lá distraída quando fui interceptada por ninguém menos do que Brad.
— Ora, ora, se não é Esther Blossom.
— Será que dá para você sair da minha frente? — pedi sem esconder a impaciência na voz.
— Algumas coisas nunca mudam, sempre raivosa.
— Realmente, você continua tão babaca quanto antes.
Ele me deu um sorriso amarelo em resposta enquanto me analisava de forma despudorada.
— Os anos te fizeram bem, no colegial você era um patinho feio, agora está um cisne estonteante, ainda que não tenha mudado de cor.
O elogio erotizado e racista me despertou asco. E eu não pensei duas vezes para levantar o dedo do meio para aquele cretino.
— Vai para o inferno! — gritei enraivecida.
Só não esperava que Thomas fosse se aproximar naquele momento, o que me desconcertou no mesmo instante. Ele exercia um efeito perturbador sobre mim e que piorava consideravelmente com sua proximidade.
— Eu não estava brincando quando disse para você ficar longe dela — disse ele para Brad sem esconder a fúria.
— Nem eu quando disse que não me importava em dividir. Qual é, só você pode se divertir?
Thomas grunhiu.
O fato deles falarem de mim como se eu não estivesse ali me irritou profundamente. Sem falar que eu não era um produto exótico disponível no French Market.
— Olha, me desculpa, Brad é um idiota — desculpou-se Thomas finalmente se virando para mim.
— Corrigindo, vocês dois são uns idiotas.
— Não, Esther, eu não sou como ele — negou Thomas, sério.
Por fim, éramos o centro das atenções no pequeno bar. Percebi quando vi olhares curiosos sendo lançados em nossa direção. Então Kate e Dylan se aproximaram, ambos com o cenho franzido de preocupação. Kate foi a primeira a questionar:
— Esther, pode me explicar o que está acontecendo aqui?
— Também gostaria de saber — completou Dylan.
— Foi um mal-entendido — Thomas se adiantou. — E a gente já estava de saída. — O olhar frio que ele deu a Brad foi o suficiente para ele começar a se afastar.
Thomas voltou a olhar para mim profunda e intensamente, fazendo com que eu emudecesse de imediato. Quando foi que me faltaram palavras?
Ele mexia comigo de um jeito que eu não conseguia expressar em palavras. Só em constrangimento mesmo. Foi um alívio quando se afastou me deixando na companhia agradável dos meus amigos.
— Você deve ser o Dylan — Kate quebrou o silêncio.
— Sim, e você quem é?
— Kate Johnson! — ela se apresentou com um floreio.
— A melhor amiga do colegial que foi estudar música em Nova York?
— Eu mesma — confirmou ela sorridente.
Balancei a cabeça achando graça da cena que eu presenciava. Pelo visto, as únicas pessoas que eu tinha no mundo haviam se dado bem logo de cara e eu não poderia estar mais feliz por isso.
— Bem, acho que a interação de vocês dispensa uma apresentação formal — alfinetei.
— Sem dúvidas — concordou Dylan. — A propósito, suponho que o rapaz que saiu por último seja a forma humana do problema.
"Argh! Era nisso que dava falar demais!", pensei assentindo a contragosto.
— Aliás, é perceptível a atração entre vocês — Kate enfatizou com um sorriso largo.
Revirei os olhos optando por ficar calada dessa vez.
Estremeci de leve aoconsiderar sobre o que Kate havia dito. Não achava que Thomas pudesse serrealmente atraído por mim. Eu não era o tipo de mulher por quem um homem comoele se interessaria, não de verdade, homens como ele queriam apenas se divertircom mulheres como eu. E me recusava a ser um passatempo nas mãos dele mesmo que,àquela altura, eu estivesse de forma irremediável atraída por ele.
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Jazz, livros e o amor no meio disso
RomanceEsther Blossom respira música, já Thomas Castillo inspira livros. O que esses dois têm em comum além de traumas do passado? Esther é uma mulher forte que já sofreu muito e encontrou nas divas do jazz um reconhecimento e uma fonte de inspiração. Vivi...